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Conheça o Budismo
BS
Abandone a covardia e revele seus tesouros
Somos budas; os outros também. Esta é a verdade inquestionável e profunda da vida a qual devemos nos devotar, embasar nosso comportamento e compartilhar com entusiasmo com as pessoas
16/09/2017
(BS, ed. 2.340, 17 set. 2016, p. B2)
Em Abertura dos Olhos, redigida por Nichiren Daishonin algum tempo depois no inverno gélido de Sado, consta: “No décimo segundo dia do nono mês do ano passado, entre as horas do rato e do boi [entre 23 horas e 3 horas], esta pessoa chamada Nichiren foi decapitada. Foi sua alma que chegou a esta Ilha de Sado...” (CEND, v. I, p. 282).
Esta é uma referência ao processo de “abandonar o transitório e revelar o verdadeiro” que Daishonin vivenciou. Ele abandonou sua condição transitória de pessoa comum presa ao fardo do carma e sofrimentos e, apesar de continuar sendo um simples mortal, revelou seu verdadeiro eu de buda do tempo sem início, incorporando um estado de completa liberdade em total comunhão com a eterna Lei Mística.
No capítulo “A Extensão da Vida d’Aquele que Assim Chega” (16º) do Sutra do Lótus, Shakyamuni também abandona a condição transitória e revela seu verdadeiro eu — esclarecendo que, na realidade, não havia atingido a iluminação pela primeira vez sob a árvore bodhi na Índia, mas em um tempo inimaginavelmente remoto no passado.
Para nós, o significado fundamental disso não reside no fato de o buda ter se revelado como buda eterno, superior e isolado dos seres comuns ou dos “nove mundos” (mundo do inferno ao mundo dos bodisatvas), antes, representa um chamado para que todos voltem a atenção para Shakyamuni como ser humano. Trata-se de um chamado para que as pessoas adotem o buda Shakyamuni humano como modelo, seguindo o exemplo dele para que despertem para a grandiosidade inerente à própria vida.
Por ele próprio “abandonar o transitório e revelar o verdadeiro”, Daishonin abriu o caminho para que todos os seres humanos pudessem atingir o estado de buda na forma que se apresentam — ou seja, manifestar o mundo dos budas como indivíduos comuns dos nove mundos.
Isso significa que as pessoas comuns, cuja vida é governada por desejos egoístas e presa ao fardo do carma e do sofrimento, retornam à condição de vida inerente do tempo sem início, rompem as correntes do carma e se tornam um buda repleto de compaixão e sabedoria que deseja ajudar toda a humanidade a atingir a iluminação. Este é o mais nobre estado que podemos experimentar como ser humano. Toda sensei definia esse aspecto como “pessoa comum iluminada desde o tempo sem início”.
Esse estado de vida inerente é o do buda do tempo sem início. Daishonin estabeleceu um caminho pelo qual todas as pessoas podem atingir a iluminação e sua presença foi como a luz do sol inundando uma caverna que permaneceu na escuridão por incontáveis kalpa [período de tempo extremamente longo].
Uma única pessoa a “abandonar o transitório e revelar o verdadeiro” abre caminho para todas as outras
No final desta carta [A Perseguição em Tatsunokuchi], Daishonin, mais uma vez, elogia Shijo Kingo por tê-lo acompanhado a Tatsunokuchi, o local em que ele revelou seu verdadeiro eu. Shijo Kingo se juntou ao seu mestre de forma incondicional. É provável que ele não compreendesse por completo o profundo significado que a Perseguição de Tatsunokuchi tinha para Daishonin.
Podemos interpretar esta passagem como um indicativo de que o mestre está sempre se empenhando para abrir o caminho para o discípulo. O desejo do Buda é a unicidade de mestre e discípulo, de que ambos conquistem a mesma condição. O mestre ora para que o discípulo atinja um estado iluminado idêntico ao que ele já atingiu. O mestre acredita nisso e espera o mesmo do discípulo.
O próprio Daishonin primeiro demonstrou um estado de vida indestrutível, mantendo-se inabalável mesmo em meio à pior situação imaginável a que um ser humano poderia ser submetido — para que qualquer pessoa pudesse, assim como ele, manifestar a grande Lei que incorpora o princípio da “possessão mútua dos dez mundos”. Quando despertamos para o fato de que somos originalmente budas, percebemos que isso também vale para os outros.
“Abandonar o transitório e revelar o verdadeiro” significa “revelar a verdade” para todas as pessoas — ou seja, evidenciar uma condição de vida suprema e nobre inerente a nós e ajudar os demais a fazer o mesmo. Somos budas, e os outros também. “Abandonar o transitório e revelar o verdadeiro” compõe a base fundamental de nossas ações assentadas no respeito a todos os seres humanos.
Consequentemente, no que se refere a Daishonin “abandonar o transitório e revelar o verdadeiro”, isso não representa apenas um ato pessoal, mas uma demonstração de que todos podem revelar plenamente em sua vida o inexaurível repositório de tesouros que existe dentro de si. Como meio para atingi-lo, ele ensina a importância de se empenhar na fé com o espírito de “verdadeira causa” — de sempre avançar a partir deste momento — um modo de prática em que nos dispomos a enfrentar bravamente os mais duros desafios da realidade com base no juramento de unicidade de mestre e discípulo de lutar pela iluminação de toda a humanidade.
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