Conheça o Budismo
BS
Em harmonia consigo e com o mundo
O preceito budista de “adaptação aos costumes locais” permite a expansão do budismo em exato acordo com as singularidades de cada localidade
08/10/2020
Diversidade cultural
O planeta Terra é uma grande combinação de diferentes ecossistemas e de variados tipos de pessoas. Pensando culturalmente, essas diferenças geram uma diversidade imensa. Num recorte apenas sobre o Brasil, por exemplo, percebemos uma rica mescla de nuanças. E que são belas justamente por sua diversidade. Como dizem, existem vários “Brasis” dentro do nosso país.
O budismo surgiu na Índia, por volta do século 6 a.E.C. e se propagou para a China e o Japão; ou seja, é uma religião de origem oriental. Com o surgimento do Budismo de Nichiren Daishonin no século 13, foi estabelecido o caminho direto para a iluminação de todas as pessoas. E a partir da atuação da Soka Gakkai, sob a liderança do seu terceiro presidente, Dr. Daisaku Ikeda, este ensinamento transformador se expandiu oficialmente para 192 países e territórios. Mas, uma pergunta fica no ar: “Como praticar o budismo em meio a tantas diferenças culturais existentes?” A resposta está no preceito budista de “adaptação aos costumes locais” (zuiho bini).
O que significa?
“Adaptação aos costumes locais”, segundo explicação do buda Nichiren Daishonin (1222–1282), é a prevalência da fé no Gohonzon, bem como a busca pelo estado de buda, adaptando os aspectos formais da prática budista à época e ao local. Os costumes e os hábitos de cada povo não devem ser ignorados ou suprimidos, mas respeitados.
Lei de causa e efeito
Um fato importante a ser considerado é a lei de causa e efeito, um dos pontos centrais expostos no budismo. Base da filosofia budista, ela se aplica à vida de todas as pessoas, independentemente de fatores como condição social, cor da pele, gênero ou cultura. Quando se trata de adaptação aos costumes locais, a causalidade budista não pode ser ignorada.
A filosofia budista, conforme é apresentada no Sutra do Lótus, do buda Shakyamuni, defende que todas as pessoas têm o direito de ser felizes e de conviver numa sociedade respeitosa e harmoniosa. Dessa forma, as pessoas não devem ignorar a cultura para praticar o budismo, mas permitir uma fusão do budismo com a sua vida cotidiana. Isso significa entender quais questões características da sua cultura convergem ou divergem da filosofia budista e tratá-las com sabedoria e com base no estudo do Budismo Nichiren. Ficarmos atentos aos costumes locais de um país, estado ou cidade e conduzirmos o convívio social com sabedoria se fazem necessários para produzir causas que nos levem ao nosso objetivo da iluminação.
Importância do estudo do budismo
É muito comum o surgimento de dúvidas como “Posso participar de eventos sociais ligados a datas comemorativas como festas juninas e natalinas?” ou “Posso ir ao casamento de um amigo em outra religião?”. Não há problemas em participar de tais eventos religiosos por serem arraigados à cultura local. Mas, atenção, existe uma diferença entre apenas participar e se devotar religiosamente, orando, por exemplo — as orações caracterizam crença e devoção direta à religião.
Outro ponto necessário é perceber se os eventos da cultura local geram conflito com o propósito do budismo de dignidade da vida. Caso contrário, não há nenhum problema em participar desses eventos. Para não haver erro nas tomadas de decisão, o ideal é se empenhar no estudo do budismo, pois todas as respostas constam nos escritos de Nichiren Daishonin e na obra Nova Revolução Humana. Nela, o presidente Ikeda narra situações ocorridas em diversos países, ilustrando esse preceito de uma forma prática. Consideramos que aquilo que Nichiren Daishonin não cita em suas cartas como “permitido” ou “proibido”, explicitamente, deve ser observado com bom senso dentro do que é considerado como um costume local.1
Garantir felicidade e harmonia
É comum utilizar o preceito de adaptação aos costumes locais para responder a questões relacionadas a como fazer a prática ou mesmo com relação à organização, o que não está errado. Porém, numa leitura mais profunda, se refere a entender que o Budismo de Nichiren Daishonin não contradiz os costumes de um povo, mas sim de servir como caminho para que todas as pessoas se tornem verdadeiramente felizes.
Sobre isso, Ikeda sensei afirma:
O budismo não rejeita festividades acolhidas como parte integrante da vida da localidade; ensina o preceito de adaptação aos costumes locais que afirma que os costumes e as convenções sociais devem ser respeitados e seguidos, contanto que não contradigam os ensinamentos do budismo nem interfiram na consecução do estado de buda.2
Universalidade do gongyo e do daimoku
Outro questionamento muito comum é “Se o budismo respeita a cultura local, por que não recitamos gongyo e daimoku em nosso idioma natal?”. A resposta está na universalidade do Budismo de Nichiren Daishonin. Tendo o estabelecimento da paz mundial a partir da nossa felicidade individual e da união dos povos do mundo, seria impossível manter a harmonia no momento da oração.
Exemplo disso é o momento da oração realizado no Auditório do Grande Juramento pelo Kosen-rufu. Já imaginaram pessoas de diferentes países, cada uma fazendo suas orações em uma língua diferente? Ao recitarem gongyo e daimoku no mesmo idioma, os membros da SGI expressam respeito às pessoas presentes no mesmo recinto. É também uma forma de conscientizar que todos estão unidos com um único propósito, mesmo com tantas diferenças em sua cultura.
Conclusão
O preceito de adaptação aos costumes locais foi crucial para a expansão do Budismo Nichiren pelo mundo, pois comprova a tolerância dessa filosofia que defende o respeito incondicional à dignidade da vida humana. Contém em si o sentimento de dizer a cada pessoa que ela tem o poder de se tornar feliz e vencer em tudo, independentemente de sua condição atual ou do local em que vive.
Esse ensinamento vem acompanhado de bom senso, sinceridade e sabedoria — a recitação do Nam-myoho-renge-kyo é uma fonte inesgotável para projetar esses aspectos na vida. O budismo defende a conquista da harmonia e do bem-estar, já que sem essas condições é impossível se sentir verdadeiramente feliz. No budismo não existe dogma, mas discernimento. É por isso que se faz necessário o estudo do Gosho: para não sermos levados por ideias diferentes das expostas originalmente por Nichiren Daishonin.
Praticar este budismo revolucionário na mesma época que Ikeda sensei é realmente uma grande boa sorte, pois temos a oportunidade de estudar junto com ele — o qual comprova em sua vida cada linha dos escritos de Nichiren Daishonin. Dando continuidade a este movimento pela paz no mundo, é hora de o discípulo possibilitar que o espírito fundamental desta filosofia continue a se propagar de forma correta, não permitindo nenhum tipo de distorção.
Leia aspectos culturais de diferentes países.
SEPARAÇÃO DO LIXO: Essa é uma prática muito comum na Alemanha. Que tal experimentar conhecer mais sobre separação e descarte de lixo reciclado?
GORJETA: Nos Estados Unidos, dar gorjeta é sinal de respeito aos profissionais. Afinal, o que há de mal em ajudar se tivermos uma graninha sobrando?
QUEM COME PRIMEIRO: Na França, é de bom-tom esperar que o anfitrião seja o primeiro a se servir e comer. Nada demais em segurar um pouquinho a fome, né?
PONTUALIDADE: Na Inglaterra, pontualidade é sinal de respeito e elegância. Deixar de lado aquele “já estou chegando” e se programar para cumprir o horário agendado é uma grande demonstração de respeito.
CRIATIVIDADE: O uso da criatividade do brasileiro para a resolução de problemas no dia a dia é uma marca do nosso povo, principalmente quando acompanhado de bom senso e de segurança.
ABRAÇO: O brasileiro é muito conhecido pela forma de expressar seus sentimentos, e o abraço é uma das maneiras mais comuns de demonstrar isso, seja em momentos felizes ou em momentos mais difíceis.3
Notas:
1. Cf. CEND, v. I, p. 74 e 77.
2. Terceira Civilização, ed. 598, jun. 2018.
3. Sabemos que atualmente esse ato de carinho precisa ser evitado como medida para barrar a contaminação pelo coronavírus.
Fontes:
A Recitação dos Capítulos “Meios Apropriados” e “A Extensão da Vida” (CEND, v. I, p. 70).
Brasil Seikyo, ed. 2.371, 13 maio 2017.
Explanação do presidente Ikeda para o escrito Os Cinco Festivais Sazonais (Terceira Civilização, ed. 598, jun. 2018, p. 48).
Leia mais no BS+
sobre “adaptação aos costumes locais” no Brasil Seikyo, ed. 2.411, 17 mar. 2018.
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