Relato
BS
Determinar e agir
Como membro da terceira geração de praticantes na família, o carioca Philippe Watanabe é inspiração para transformar o veneno em remédio
Redação
09/05/2024
Meu nome é Philippe Watanabe, tenho 34 anos, sou graduando no curso de ciências ambientais na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e trabalho na Fundação Getulio Vargas (FGV). Depois de participar do grupo Sokahan por onze anos, agora sou membro do grupo Brasil Ikeda Myo-on Kai (BIMOK), que atua nas áreas de sonoplastia e multimídia em atividades da organização.
Cresci nos jardins Soka e tenho orgulho das minhas raízes japonesas pelo lado paterno. Mesmo assim, na infância, eu me sentia perdido quanto à minha identidade por ser carioca e filho de japonês. Afinal, não existiam tantas crianças como eu nas escolas onde estudei. Porém, com o acolhimento e a convivência na Gakkai, superei essa questão. Até hoje encontro companheiros da Divisão dos Estudantes que se recordam com saudade dessa época.
Inspiração de conduta
Antes de eu completar 7 anos, meu pai faleceu, acometido de câncer no intestino. Seu aspecto estava sereno como o de um buda. Com a prática, ele conseguiu prolongar sua vida, pois os homens da família não viviam mais que 40 anos. Suas últimas palavras para mim foram Gambate kudassai, que significa “Esforce-se bastante”.
Logo em seguida, apresentei uma disritmia, que me causava convulsões, e tomei remédios controlados por dois anos. Meus pais sempre me apoiaram e se dedicaram com afinco à luta pelo kosen-rufu. Portanto, ultrapassei essa questão como eles, com daimoku e dedicação às atividades da Gakkai.
Antes de morrer, meu pai recomendou à minha mãe a se casar novamente; e assim aconteceu, ganhei um segundo pai e uma irmã. Foi um grande aprendizado! Em janeiro de 2009, às vésperas do glorioso 3 de maio, enfrentei também o falecimento dele. Recebemos incentivos diretos de Ikeda sensei e dos demais líderes da SGI, um acalento num momento muito importante. As cinzas dele descansam, junto com as do meu pai biológico, no Palácio Memorial da Paz Eterna, em Itapevi, SP.
Persistência e dedicação
Em 2017, participei do Curso de Aprimoramento da SGI no Japão com os duzentos jovens do Brasil e, ao retornar, estava desempregado e determinado a ingressar no mercado de trabalho em um novo segmento. Cursava o terceiro período da faculdade e orei para surgirem amplas possibilidades. Após três meses conciliando as reuniões da organização e os afazeres, ingressei como estagiário na FGV. Onze meses depois, fui efetivado em uma vaga na qual continuo a me desenvolver profissionalmente.
Esse novo trabalho me proporcionou um plano de saúde e pude fazer exames de rotina. No decorrer de 2019, fui diagnosticado com pólipos no intestino e no reto, realizando 25 sessões de radioterapia, além de quimioterapia via oral.
No segundo dia do tratamento, passei muito mal e fui incentivado pela família a ler um dos escritos de Nichiren Daishonin e uma orientação de Ikeda sensei. Minha irmã, Karen, pegou o livro Pode Haver uma História Mais Maravilhosa que a Sua? e pediu para eu escolher uma página. Ao abri-la, havia um trecho do escrito A Prova do Sutra do Lótus com a seguinte explanação do Mestre:
O decisivo é a convicção absoluta de que você pode transformar o veneno em remédio, por mais assustadores que sejam os obstáculos. Essa fé inabalável é o fator fundamen-tal para sobrepujar doenças e outras dificuldades na vida e abrir amplamente o caminho para atingir o estado de buda sem falta.¹
Senti imensa alegria e energia, era como se o Mestre estivesse conversando comigo e me incentivando a reagir e a não desistir. Em gratidão, decidi escrever imediatamente para Ikeda sensei relatando que seria vitorioso. Com base na prática diária do gongyo e do daimoku, seguia com a rotina de trabalho, as atividades e os estudos. Enfim, a medicação da quimioterapia foi suspensa e soube que precisaria passar por uma cirurgia para a retirada dos pólipos. Em setembro, recebi a resposta do Mestre, dizendo “Cuide-se bem”. Que alegria! Agora, mais que nunca, estava determinado a vencer.
No início de 2020, realizei com sucesso o procedimento cirúrgico, que durou quase dez horas, e a previsão era receber alta em cinco ou seis dias. Porém, surgiram duas complicações. Diante disso, fui incentivado pelos veteranos a ser paciente e perseverante. Durante os dias e horários de visitação e de rotina, minha família e eu fazíamos shakubuku nos enfermeiros, auxiliares e médicos, cumprindo nossa missão como bodisatvas da terra de propagar a Lei Mística. Até uma das funcionárias chegou a recitar gongyo e daimoku conosco e apresentou o Budismo Nichiren a um amigo. Quantas oportunidades! Após treze dias, finalmente tive alta. Era fevereiro de 2020 e, com o início da pandemia, estava preocupado com a minha recuperação e o retorno ao trabalho presencial. Entretanto, como benefício da prática da fé, meu emprego adotou o home office e comecei a exercer minhas funções em casa. Atualmente, utilizo uma bolsa de ostomia, o que me permite ter qualidade de vida.
Avanço e vitória
Outro divisor de águas foi a primeira edição da Academia Índigo Juventude Soka do Brasil, da qual tive a boa sorte de participar. A partir daí, muitas mudanças ocorreram na organização e no trabalho. Os integrantes da Divisão dos Jovens (DJ) da nossa Sub. Copacabana vêm recitando daimoku semanal e seguem apresentando o budismo para vários amigos, resultando na concretização do movimento dos cem jovens nos oito distritos que a compõem. Que grandiosa vitória! Além disso, tive a imensa felicidade de concretizar shakubuku em um grande amigo de faculdade.
Neste momento em que Ikeda sensei se encontra no Pico da Águia, renovo meu juramento de me dedicar por toda a vida ao sublime ideal do kosen-rufu ao lado dele. A todos os jovens que praticam esta Lei, sejam felizes e conquistem imensos benefícios. Obrigado!
Encontro do grupo BIMOK da CGERJ promovido em março
Com companheiros da Juventude Soka em 3 de maio de 2009
Reunião de partida da nova Sub. Copacabana realizada em janeiro deste ano
Com o amigo Victor, a quem apresentou o Budismo Nichiren
Philippe Isamu Watanabe, 34 anos, cursa ciências ambientais. É membro do Distrito Ipanema, RM Ipanema, e responsável pela DJ da Sub. Copacabana, CRC, CGERJ.
Nota:
1. A Prova do Sutra do Lótus. Pode Haver uma História Mais Maravilhosa que a Sua? São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2018. p. 272.
No topo: Philippe na formatura do grupo Sokahan em 2017
Fotos: Arquivo pessoal
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