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Diálogo Sobre a Vida e a Morte

[3] Os mistérios da gripe

Participantes Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI); Dr. Shosaku Narumi, presidente da Conferência de Jovens Médicos da Soka Gakkai; Dra. Chiaki Nishiyama, coordenadora do Departamento de Médicas da Soka Gakkai; e Dr. Ryuto Hirasawa, secretário do Departamento de Médicos da Área Tóquio 2.

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01/04/2007

[3] Os mistérios da gripe
Presidente Daisaku Ikeda: Com a chegada do inverno,1 logo penso nas duras condições das pessoas que vivem nas regiões setentrionais. Ouvi dizer que na República da Iakútia, na Sibéria Oriental, onde 40% do território localiza-se no Círculo Polar Ártico, a temperatura média é de cinqüenta graus abaixo de zero. Dizem que o frio é tão intenso que a respiração das pessoas se congela e pode-se até mesmo ouvi-la crepitar. Esse som é chamado pelas pessoas de lá de “suspiro das estrelas”.

Dr. Shosaku Narumi: Dizem que em regiões como essa não há epidemias de gripe, porque a temperatura é tão baixa que até os vírus, acostumados a se propagarem em climas secos e frios, permanecem inativos.

Presidente Ikeda: No ano passado (janeiro de 2004), encontrei-me com o ministro da Cultura da República da Iakútia, Andrei S. Borisov. Ele comentou, sorrindo, que para seu povo o frio não era de modo algum indesejável ou ruim, ao contrário, era considerado benéfico do ponto de vista sanitário. A propósito, há um provérbio local que diz: “Para o corajoso, o frio extremo é um aliado”.

Dra. Chiaki Nishiyama: São palavras sábias! Precisamos desenvolver um espírito tão resistente que nem o frio mais intenso possa nos derrubar.

Presidente Ikeda: Mudando um pouco de assunto, existe atualmente uma crescente preocupação por parte da comunidade internacional com a possibilidade de uma nova epidemia de gripe ocorrer.

Dr. Narumi: Sim. No mês passado (novembro de 2005), foi realizada uma conferência de especialistas na sede da Organização Mundial da Saúde (OMS), em Genebra. Nessa ocasião, o secretário-geral da OMS, Lee Jong-wook (1945-2006), alertou para um possível surgimento de uma epidemia de gripe causada por um novo tipo de vírus e afirmou que isso era apenas uma questão de tempo.

Presidente Ikeda: O que é exatamente a gripe? Em que ela difere de um resfriado? São duas doenças com as quais estamos muito familiarizados, mas sobre as quais ainda temos muito a aprender. O que acham de iniciarmos este diálogo tratando deste tema?

Dra. Chiaki: Concordo. Mas, antes, permitam-me apresentar o Dr. Ryuto Hirasawa, secretário do Departamento de Médicos da Área Tóquio 2, que nesta oportunidade se junta a nós.

Dr. Ryuto Hirasawa: Muito obrigado. Estou feliz em participar deste diálogo.

Presidente Ikeda: Dr. Hirasawa, o senhor é graduado pela Escola Soka de Tóquio. Como fundador, gostaria de agradecê-lo por seus constantes conselhos para que os estudantes tenham boa saúde.

Dr. Hirasawa: Sei o quanto o senhor preza os estudantes, presidente Ikeda. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para cuidar deles.

Diferenças entre gripe ou influenza e resfriado

Presidente Ikeda: Qual é o significado da palavra “influenza”, Dr. Hirasawa?

Dr. Hirasawa: O termo provém do italiano e significa “influência”. Na Itália medieval, acreditava-se que as estrelas influenciavam no surgimento de sintomas da gripe.

Presidente Ikeda: As pessoas daquela época acreditavam que os astros tinham poderes místicos.

Dr. Hirasawa: É verdade. Elas tentavam prever o período em que ocorreriam os próximos surtos observando os movimentos dos astros.

Presidente Ikeda: Qual a diferença entre uma gripe e um resfriado?

Dra. Chiaki: São quadros causados por vírus diferentes. As infecções derivadas do vírus da gripe produzem sintomas mais graves e requerem um tratamento diferenciado. No geral, apresenta-se uma febre súbita acima de 38ºC, acompanhada de forte dor de cabeça, dores musculares e articulares.

Dr. Narumi: Outra característica da gripe é que ela é altamente contagiosa. Pode se espalhar rapidamente entre as pessoas próximas do indivíduo infectado, como na família. Nas escolas, há casos em que as aulas precisam ser suspensas.

O efeito das vacinas

Presidente Ikeda: Dr. Hirasawa, que medidas preventivas estão sendo tomadas nas escolas Soka?

Dr. Hirasawa: Nas temporadas de gripe, enviamos um comunicado aos pais recomendando-lhes vacinarem as crianças. Mas a vacinação, como todos sabem, é voluntária.

Presidente Ikeda: Ouvi dizer que, em comparação à Europa e aos Estados Unidos, a porcentagem da população vacinada no Japão é baixa.

Dra. Chiaki: Sim, é verdade. Acredito que isso se deva à dúvida em relação à eficácia da vacinação em massa dos alunos de todas as escolas de ensino fundamental e médio realizada há alguns anos.

Dr. Hirasawa: Obviamente, há um limite de proteção que as vacinas podem oferecer. Elas não podem evitar todos os tipos de infecções. Porém, quando pensamos nas grandes epidemias de gripe e em seu enorme crescimento no mundo nos últimos anos, acredito que não podemos ignorar os efeitos positivos da vacinação.

Presidente Ikeda: No Ocidente, a gripe leva muitos idosos ao óbito. Por isso, eles precisam de cuidados especiais, pois suas defesas imunológicas são menores.

Dr. Narumi: Quanto mais idosa for a pessoa, mais fortes ou piores serão os sintomas da gripe. Dessa forma, recomendo-lhes a vacinação. Estudos mostram que as vacinas reduzem em 45% as chances de uma pessoa pegar gripe e em 80% o índice de mortalidade de pessoas com mais de 65 anos.

Dra. Chiaki: A vacina leva aproximadamente duas semanas para surtir efeito. Como as epidemias da gripe costumam ocorrer entre final de dezembro e início de março, é aconselhável que ela seja tomada com antecedência.

Dr. Narumi: A vacina é obtida a partir dos vírus influenza cultivados em ovos de galinha. Por essa razão, as pessoas alérgicas a ovos precisam consultar um médico antes de tomar a vacina.

Salas bem ventiladas e instalação de umidificadores de ar

Presidente Ikeda: Que outras medidas o senhor sugere para evitar a gripe?

Dr. Hirasawa: Nas escolas, recomendamos que abram as janelas nos intervalos entre as aulas para que o ar fresco entre. Os vírus são inibidos pela umidade. Dessa forma, aconselhamos também que sejam instalados umidificadores nos lugares onde um grande número de pessoas costuma se reunir.

Presidente Ikeda: Os cuidados com os pequenos detalhes são importantes. As escolas são fortalezas onde a importante tarefa de educar as pessoas é realizada, onde os futuros líderes serão formados. Por essa razão, precisam ser locais saudáveis e seguros.

Dr. Hirasawa: Aconselhamos também aos estudantes a terem uma alimentação adequada, a dormirem o suficiente, a lavarem as mãos e a fazerem gargarejos regularmente.

Dra. Chiaki: Adquirir o hábito de lavar as mãos com sabão sempre que voltar de algum lugar é muito importante.

Presidente Ikeda: Apesar de serem medidas simples, é surpreendente como são poucas as pessoas que as colocam em prática. Esses procedimentos deveriam tornar parte de nossa estratégia na prevenção de resfriados comuns.

Cuidado com os mínimos detalhes e pronta ação

Dr. Narumi: Dizem que Sakyamuni também orientava seus seguidores sobre cuidados com a higiene, recomendando-lhes, por exemplo, enxaguar a boca e lavar as mãos.

Presidente Ikeda: Um antigo escrito budista menciona detalhadamente essas questões, revelando a importância com que eram tratadas.

Um mestre ora e pensa sinceramente em como assegurar o bem-estar de seus discípulos para que conduzam a prática budista até o fim.

Dra. Chiaki: A benevolência budista é manifestada no comportamento.

Presidente Ikeda: Nitiren Daishonin também se preocupava com a saúde de cada um de seus discípulos e sempre que alguém adoecia, ele imediatamente escrevia uma carta ou enviava uma mensagem de encorajamento. Em uma dessas cartas, ele diz: “Fui informado de que o senhor está doente. Dia e noite, ao amanhecer e ao anoitecer, tenho orado ao Sutra de Lótus (Gohonzon) por sua recuperação. Ao amanhecer e ao anoitecer, tenho orado aos céus. Hoje, soube que o senhor já se curou. Não consigo conter minha alegria”.2

Os verdadeiros líderes não medem esforços e não descuidam dos mínimos detalhes para possibilitar aos demais avançar em direção à felicidade e desfrutar uma vida plena. Eles também respondem imediatamente aos relatórios ou comunicados que chegam a suas mãos. Essa sua pronta ação transmite coragem e esperança aos outros.

Dr. Hirasawa: Essa é a essência dos valores humanísticos que o senhor, presidente Ikeda, não cansa de enfatizar como fator fundamental do sistema de educação Soka.

Enfrentando a morte dos pacientes

Presidente Ikeda: A propósito, quais os pensamentos que lhes ocorreram ao enfrentar pela primeira vez a morte de um paciente.

Dr. Narumi: Minha primeira experiência com a morte de um paciente foi quando eu fazia residência. Uma senhora de meia-idade faleceu devido a uma hemorragia cerebral. O primeiro pensamento que me ocorreu foi se a avaliação e o tratamento que eu havia feito estavam corretos, se eu não poderia ter tomado outras medidas para salvá-la. A vida do paciente depende, em muitos casos, da capacidade profissional do médico. Refletindo sobre isso, decidi aprimorar-me constantemente em minha área.

Presidente Ikeda: Compreendo seu sentimento. Foi o senhor mesmo quem informou aos familiares sobre o falecimento de sua paciente?

Dr. Narumi: Sim. O peso da responsabilidade que senti em ter de comunicar o falecimento daquela senhora foi enorme. Questionei também se minha paciente sentira-se feliz em ter-me como médico em seus momentos finais.

Presidente Ikeda: São sentimentos muito profundos. E o senhor, Dr. Hirasawa, como foi sua primeira experiência?

Dr. Hirasawa: Eu também fazia residência médica. Meu paciente tinha câncer gastrintestinal. Ele morreu poucos dias depois de terem-no passado aos meus cuidados. O médico supervisor que me acompanhava verificou sua pulsação, seus batimentos cardíacos com o estetoscópio e checou no monitor o desaparecimento dos sinais vitais antes de confirmar o óbito. Enquanto isso, eu fiquei ali parado só observando, incapaz de fazer algo. A transição para a morte era tão simples e fácil que me lembro de ter voltado para casa com uma sensação de vazio no coração.

Dra. Chiaki: Eu também tive uma experiência parecida com a do Dr. Hirasawa. Como minha especialidade é a Dermatologia, são poucos os casos de pacientes que correm risco de morte. Mas durante meu terceiro ano de Medicina, presenciei a morte de três pacientes numa única noite. Aquela foi minha primeira experiência com a morte. A única coisa que me lembro foi ter comunicado o fato aos familiares com muito nervosismo.

Uma sociedade que nega a morte

Presidente Ikeda: Vejo que essa foi uma experiência dura para todos. O que os senhores dizem aos familiares quando um ente querido morre? Há algo que possa encorajá-los?

Dr. Narumi: Para amenizar a dor da perda, procuro manter os familiares bem informados da condição do paciente e do prognóstico de toda a doença.

Dr. Hirasawa: Apesar de tudo isso, acredito que, no momento da morte, não podemos fazer nada além de acompanhar os familiares em silêncio e esperar que eles próprios assimilem a perda do ente querido.

Dra. Chiaki: A situação mais difícil é quando os familiares não conseguem aceitar a morte. Nesses casos, precisamos conversar com eles e fazer o máximo para encorajá-los.

Presidente Ikeda: A morte é a questão fundamental da existência. É uma realidade da qual ninguém pode escapar. Porém, hoje, muitos parecem se esquecer disso, ou melhor, procuram negar essa verdade. Por essa razão, é difícil para essas pessoas aceitá-la quando chega o momento de enfrentá-la. Daishonin diz: “Uma vez vivo, será impossível escapar da morte. Embora todos, desde o mais nobre, o imperador, até o cidadão mais comum, reconheçam esse fato, nem uma única pessoa entre mil ou dez mil pondera seriamente sobre essa questão ou sofre com isso”.3

Dr. Hirasawa: Essa é uma grande verdade.

Presidente Ikeda: Por essa razão, é imprescindível uma filosofia que examine a questão da vida e da morte e possibilite às pessoas viverem da forma mais correta possível. Esse é um ponto importante a ser observado não somente pelo indivíduo, mas por toda a sociedade.

O historiador britânico Arnold Toynbee (1889-1975) alertou para essa questão num dado momento de nosso diálogo. Ele disse que grande parte da miséria do mundo atual se deve ao fato de os líderes de cada área ignorarem ou não considerarem com a devida seriedade a morte, a questão fundamental da existência. Esta é uma observação muito sábia. Há muitos líderes que evitam refletir sobre sua própria existência e focalizam unicamente resultados a curto prazo.

Se evitarmos a morte, toda felicidade que conquistarmos será ilusória. Somente quando adquirirmos a devida compreensão da questão é que saberemos realmente como viver e como contribuir significativamente para a sociedade e a civilização.

Alegria na vida, alegria na morte

Dra. Chiaki: É verdade. O que pude perceber com a morte daqueles três pacientes, foi o rigor da realidade. Dei-me conta de que, no momento culminante da vida reflete-se toda a existência do ser. Alguns morrem serenamente, com a mesma calma com que uma velha árvore retorna à terra, enquanto outros experimentam dor e agonia. Também há aqueles cuja morte é sentida e lamentada por todos, e outros que morrem sozinhos, sem amigos, em completo estado de abandono.

Então, pela primeira vez, perguntei a mim mesma: Qual o verdadeiro significado da vida? Em que consiste viver dignamente como ser humano? Qual a natureza essencial da existência? Essa experiência levou-me a buscar uma filosofia que enfocasse as questões da vida e da morte. Essa foi a razão pela qual ingressei na Soka Gakkai.

Presidente Ikeda: Essa é uma experiência realmente valiosa. O budismo trata frontalmente da questão da vida e da morte e oferece respostas claras, convincentes e, ao mesmo tempo, profundas para as pessoas em geral.

Em Registro dos Ensinos Orais, Daishonin diz: “Quando, mesmo nos quatro estados de nascimento, velhice, doença e morte, recitamos Nam-myoho-rengue-kyo, fazemos com que eles exalem a fragrância das quatro virtudes [da eternidade, felicidade, verdadeira identidade e pureza]”.4 Em outras palavras, se praticarmos o Budismo de Nitiren Daishonin com fé e colocarmos seus ensinamentos em prática, o nascimento é transformado em alegria; a velhice e a doença tornam-se trampolins para um estado de vida mais elevado; e a morte passa a ser um ponto de partida glorioso para a felicidade eterna. Nitiren Daishonin nos assegura que, existência após existência, poderemos atingir uma condição de vida maravilhosa e desfrutaremos alegria tanto na vida como na morte.

Dra. Chiaki: O senhor tratou desse tema em seu segundo discurso na Universidade de Harvard (em 1993), intitulado “O Budismo Mahayana e a Civilização do Século XXI”, o qual teve uma grande repercussão entre pensadores e intelectuais do mundo inteiro.

A gripe espanhola e a Primeira Guerra Mundial

Presidente Ikeda: Foi uma grande honra para mim.

Mas, voltando ao assunto da gripe, quando ela foi identificada pela primeira vez?

Dr. Hirasawa: A enfermidade já era conhecida na Grécia antiga. Hipócrates, o “Pai da Medicina”, descreveu a gripe em seus escritos.

A epidemia da gripe espanhola (1918) foi o caso mais devastador na história da humanidade. Aproximadamente seiscentos milhões de pessoas foram afetadas e mais de vinte milhões morreram.

Dr. Narumi: Somente no Japão, mais de 390 mil pessoas morreram. Outros casos notórios foram o da gripe asiática (1957) e a gripe de Hong Kong (1968).

Presidente Ikeda: A gripe espanhola propagou-se durante a Primeira Guerra Mundial. Ela dizimou tantos soldados que dizem ter apressado o fim do conflito. Mas qual a diferença entre as gripes dizimadoras como a gripe espanhola e aquelas sazonais?

Dr. Hirasawa: A morfologia do vírus está sempre evoluindo. Sendo assim, cada ano, surge uma nova epidemia. Porém, na maioria dos casos, não atinge a virulência da gripe espanhola.

Dr. Narumi: Cabe destacar também que, aproximadamente a cada dez anos, surge um tipo de vírus totalmente diferente dos já existentes.

Presidente Ikeda: São esses novos tipos de vírus que causam epidemias generalizadas, não é mesmo?

Dr. Narumi: Exatamente. Como as pessoas não têm imunidade contra esses novos tipos de vírus, ocorrem grandes pandemias, como a gripe espanhola, a gripe asiática e a gripe de Hong Kong, com inúmeras vítimas.

Por que surgem novos tipos de gripe?

Presidente Ikeda: Recentemente, ouvi uma notícia surpreendente. Dizia que o vírus da gripe espanhola havia derivado da mutação de um vírus que produzia infecção nas aves.

Dr. Hirasawa: Sim, é verdade. Originariamente, o vírus infectava somente as aves, em particular, as aquáticas. Em condições normais, esse vírus não pode ser transmitido para as pessoas. No entanto, ao infectar os suínos simultaneamente com o vírus da gripe humana, pode mudar seu código genético dentro desse novo intermediário e produzir um novo tipo de vírus capaz de infectar o ser humano.

Dr. Narumi: O que se teme atualmente é o surgimento de um novo tipo de gripe humana como resultado da mutação do vírus aviário, devido ao contato próximo que há entre as pessoas e as aves.

Presidente Ikeda: Com o grande desenvolvimento dos meios de transporte, teme-se pela rapidez com que esses novos vírus de gripe humana possam se propagar pelo mundo. Considerando o poder de contágio que esses vírus possuem, acredito que não podemos nos descuidar o mínimo.

Dra. Chiaki: Estudos mostram que uma nova pandemia infectaria metade da população mundial e que muitas pessoas morreriam. Todos nós corremos o risco de ser a primeira pessoa infectada, ou seja, aquela que inicia uma pandemia mundial.

Precauções constantes

Dr. Hirasawa: O inimigo mais perigoso é o descuido. Voltando a falar da gripe espanhola, os primeiros casos ocorreram entre abril e junho de 1918. Nos Estados Unidos, o número de vítimas era relativamente pequeno, levando muitos a concluir que não se tratava de uma doença grave e que representava perigo somente aos idosos. Dessa forma, as autoridades do governo não tomaram nenhuma medida preventiva.

Porém, em outubro do mesmo ano, o número de vítimas aumentou drasticamente: foram mais de 20 milhões de pessoas infectadas e aproximadamente 850 mil mortos. Para agravar a situação, talvez pelo fato de o vírus ter sofrido mutação nesse ínterim, muitas das vítimas eram pessoas mais jovens. Foi então que as autoridades perceberam a gravidade da situação. No entanto, já era muito tarde e nenhuma medida para mudar o quadro surtiu efeito.

Presidente Ikeda: Muitos dos acidentes ocorrem pela arrogância ou negligência de pensar que, de alguma forma, tudo ficará bem e que as tragédias só ocorrem para os outros.

Por essa razão, é importante que estejamos sempre alertas e firmemente determinados a tomar precauções contra doenças ou acidentes.

Medidas cautelosas — a chave da vitória

Dr. Narumi: Quando a epidemia da gripe espanhola ocorreu, houve um vilarejo nos Estados Unidos que, apesar de localizar-se numa área infectada pelo vírus, conseguiu se salvar.

Presidente Ikeda: Esse é um caso muito interessante e importante. A que se deveu esse feito?

Dr. Narumi: Ao tomar conhecimento do aparecimento de focos da gripe nas localidades vizinhas, um professor da escola do vilarejo tomou prontas medidas. Ele empregou todo o seu conhecimento, persistiu na divulgação de métodos de tratamento e prevenção e convenceu os habitantes a seguirem rigorosamente esses procedimentos. Dessa forma, o vilarejo estabeleceu seu próprio sistema de controle médico. Graças a esses esforços, a epidemia se deteve a trinta quilômetros dali.

Presidente Ikeda: Foi uma grande vitória conquistada graças ao senso de responsabilidade de um professor que tratou de proteger o vilarejo e as crianças. Uma pessoa de firme comprometimento é mais forte do que dez mil juntas. O mais importante é estar sempre alerta e preparar-se cuidadosamente para qualquer eventualidade. Se pensarmos que “a situação se resolverá de alguma forma”, já fomos derrotados.

Precauções como fazer gargarejos e lavar as mãos podem parecer medidas demasiadamente simples e rudimentares para evitar doenças. No entanto, é um erro menosprezá-las. Em qualquer situação, estar atento aos pequenos detalhes é fundamental. Devemos considerar essas medidas simples como o primeiro passo para evitar uma repercussão em maior escala.

Dra. Chiaki: A propósito, isso me fez lembrar do Jardim-de-Infância Soka de Hong Kong. No auge da onda de medo que se propagou com a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), em 2003, o estabelecimento foi reconhecido pelo governo como modelo de educação sanitária.

Presidente Ikeda: Os professores utilizaram jogos para ensinar as crianças a importância de lavar as mãos e de fazer enxágües bucais. Tomaram também as devidas medidas para evitar o contágio, como limpeza das instalações e uso obrigatório de máscaras.

Dr. Hirasawa: Quando o Dr. Arthur Kwok Cheung Li, secretário da Educação de Hong Kong, visitou a escola, observou que, de fato, ela era um modelo ideal de educação, por fazer do desenvolvimento das crianças sua prioridade máxima.

Presidente Ikeda: Como fundador da escola, fiquei imensamente feliz. Gostaria de reiterar meu mais profundo agradecimento a todos do corpo docente.

Dr. Narumi: Foi o Dr. Li que, há alguns anos (em 2000), como vice-reitor da Universidade de Hong Kong, outorgou-lhe o grau de Doutor Honoris Causa em Ciências Sociais, não foi?

Presidente Ikeda: Sim. Jamais me esquecerei da generosidade do vice-reitor e da solene cerimônia realizada na ocasião.

Mas, retomando o assunto da gripe, uma vez que a pegamos o que temos de fazer? Repousar seria o mais indicado?

Dra. Chiaki: Exatamente. É recomendável também ingerir muita água, alimentos nutritivos e descansar bem. Há também remédios que podem evitar a multiplicação do vírus, e seu uso apropriado permite aliviar os sintomas.

Dr. Hirasawa: Uma outra recomendação importante é evitar contagiar as pessoas que estão ao redor. Se contrairmos gripe, devemos evitar, na medida do possível, ir trabalhar ou ir a reuniões.

Dr. Narumi: Correto. Mesmo que os sintomas diminuam, devemos evitar reuniões por um tempo, porque o vírus ainda conserva sua capacidade de contágio. Recomenda-se descansar dois ou três dias depois de a febre ter baixado.

A empatia é a base de uma sociedade sã

Presidente Ikeda: Essa é uma atitude que demonstra consideração para com os demais e que devemos adotar. Conforme observei anteriormente, Sakyamuni instruía seus seguidores a lavar as mãos e a enxaguar a boca freqüentemente. Naquela época, o Buda e seus discípulos levavam uma vida comunitária, portanto, era lógico que essas precauções fossem tomadas, já que o contágio de doenças poderia trazer conseqüências trágicas a todo o grupo.

As pessoas costumam ser muito sensíveis à dor própria, mas tendem a ser desatentas ao sofrimento alheio. A gripe é uma enfermidade que pode se propagar rapidamente em escala mundial. Se nós não nos preocuparmos com nossa própria saúde, com a saúde de nossos familiares, vizinhos e amigos, a humanidade se verá envolta numa tragédia sem precedentes. Não estou exagerando. A melhor maneira de evitar essa epidemia é mudando nossa mentalidade e nossa própria condição de vida.

Daishonin diz: “Os diversos sofrimentos pelos quais todos os seres vivos passam são os próprios sofrimentos de Nitiren”.5 A empatia, a capacidade de colocar-se no lugar do outro, é uma característica fundamental do budismo, a base para criar o “Século da Saúde e da Vida”. Acredito que é disso que a humanidade mais necessita atualmente.

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