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Juventude em Questão

Ciúme doentio

Vanessa Cunha, psicóloga, integrante do grupo Flor de Lótus do Departamento de Saúde da Coordenadoria Cultural da BSGI.

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01/04/2007

Ciúme doentio
O ciúme é um sentimento humano comum. É um conjunto de pensamentos, emoções e ações desencadeadas por alguma ameaça à estabilidade de um relacionamento íntimo valorizado. Suas definições são diversas, tendo em comum três elementos:

1) Ser uma reação frente a uma ameaça percebida.

2) Existência de um rival real ou imaginário.

3) Ocorrer uma reação que visa a eliminar os riscos da perda do amor.

Para exemplificar, um casal vai a uma festa e conhece uma terceira pessoa, que, por diversos motivos, pode acarretar ciúme em uma das partes, causando “estremecimento” momentâneo na relação. Nesse caso, existiu uma situação real que causou o ciúme. No entanto, há casos em que as situações são infundadas, criadas, fazendo com que as pessoas desenvolvam sentimentos perturbadores, desproporcionais e absurdos. Surge, então, o ciúme patológico, ou doentio.

Os portadores dessa patologia manifestam vários sentimentos, como por exemplo, depressão, ansiedade, raiva, vergonha, insegurança, humilhação, perplexidade, culpa e desejo de vingança. Sentem-se como um vulcão prestes a entrar em erupção. É comum essas pessoas tentarem surpreender seu parceiro(a), indo à sua casa ou ao seu trabalho, ou telefonando em diversos horários para confirmar suas suspeitas. Os companheiros(as) dessas pessoas geralmente tentam minimizar os graves problemas provocados pelo ciúme, mas isso geralmente agrava ainda mais o quadro, pois o ciumento acredita estar sendo enganado ou algo parecido.

Aqueles que manifestam excesso de ciúmes têm o desejo de controlar o sentimento e o comportamento do companheiro. Também se preocupam excessivamente com relacionamentos anteriores.

Os portadores de ciúme patológico são normalmente sensíveis, vulneráveis, desconfiados e possuem baixa auto-estima. Podem ainda se mostrar impulsivos, egoístas e agressivos. Essa patologia pode também motivar homicídios.

Devido à falta de informação ou ao preconceito, muitas pessoas que sofrem dessa doença não procuram auxílio médico. Assim, o quadro vai se agravando. Para alguns especialistas, a maioria dos homicídios seguido de suicídio é crime passional, ou seja, relacionam-se a idéias de suspeita exagerada e desconfiança.

Para diagnosticar essa patologia, é necessário investigar se as preocupações são reais ou fantasiosas, se a pessoa possui predisposição emocional — sentimentos de inferioridade e insegurança —, se há histórico de transtornos psicológicos na família, entre outros fatores. O tratamento envolve uma combinação de diferentes intervenções, tais como o controle da raiva e violência, treino de comunicação, aconselhamentos, técnicas de relaxamento, inversão de papéis (colocar-se no lugar do outro), técnicas cognitivas e, em alguns casos, uso de medicação.

É importante ressaltar que o ciúme patológico envolve riscos, podendo decorrer de diversos outros transtornos mentais. Portanto, é fundamental que seja feita uma avaliação de cada caso separadamente, de acordo com suas particularidades. Dessa maneira, se o ciúme o incomoda, é importante procurar ajuda profissional para avaliar seu grau e garantir sua qualidade de vida.

Ciúme e possessividade: um sinal de alerta

Há diversas manifestações de ciúmes que, na maioria das vezes, causam desarmonia, prejudicando os diversos tipos de relacionamento, como por exemplo, o ciúme que existe entre irmãos, entre amigos, casais, entre colegas de trabalho, grupos e organizações. Nesses casos, é nítida a disputa de atenção e o sentimento de exclusão, o que gera uma sensação de desconforto entre as pessoas envolvidas.

O ciúme decorre do que é chamado no budismo de “apego”. O apego excessivo impede o indivíduo de se desenvolver, de avançar, de se realizar plenamente, enfim, de ser feliz.

Na realidade, longe de ser uma prova de amor, o ciúme é uma demonstração de egoísmo. É um erro tomar o outro como um objeto, transformando-o em posse ou propriedade. É preciso entender que o outro também é um ser humano, que possui sentimentos, vontades, opiniões e escolhas próprias.

Algumas dicas para lidar com o ciúme

• Não negue esse sentimento. Reprimi-lo faz com que ele volte com mais força.

• Confie em seu companheiro(a); sempre que esse sentimento surgir, nada melhor que o diálogo.

• Valorize-se. Entenda que a segurança que procura no outro está dentro de você.

• Não confunda ciúme com inveja. A inveja é o desejo de alguma qualidade do outro. No entanto, inveja e ciúme podem aparecer juntos, como, por exemplo, desejar ter a beleza física de quem causa o ciúme.

• Não confunda ciúme com zelo. Ciúme não é prova de amor. Quem zela, quer o bem-estar do outro. Quem tem ciúme, quer manter o outro a qualquer custo.

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