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Na prática

Tem coragem para tudo aquele que faz por todos

A casa estava sempre cheia de tios, primos e agregados. A mãe, dona de casa; o pai, professor; e ela, uma garota de 11 anos que frequentava a escola. O fato de ela ir à escola não é habitual porque vivia numa sociedade em que a educação para meninas era proibida. Ela sempre fora incentivada pelo pai a continuar estudando. No dia 9 de outubro de 2012, aos 15 anos, dentro de um ônibus escolar no retorno para casa, foi atingida por um tiro na cabeça. Sobreviveu e se restabeleceu depois de alguns meses. Então, a jovem paquistanesa Malala Yousafzai bradou: “Nada mudou em minha vida, a não ser o fato de que a debilidade, o medo e a desesperança morreram; a força, o poder e a coragem nasceram” (TC, ed. 549, 17 maio 2014, p. 22), como o presidente da SGI mencionou em sua Proposta de Paz. O que fez com que Malala não sucumbisse? O que move as pessoas mesmo diante da dificuldade pessoal ou social?

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11/08/2018

Tem coragem para tudo aquele que faz por todos
A jovem Malala não sucumbiu porque conseguiu extrair de dentro de si a coragem. Ela diz que o que a move a continuar a contar sua história não é o fato de ela ser única, mas justamente por não ser. Malala não se acovardou diante daquilo que acreditava ser certo e justo pelo bem dela, mas de milhões que estavam e estão fora de uma sala de aula.

O início de sua batalha contra a opressão sofrida pelas mulheres no seu país se deu quando estava com 11 para 12 anos. Na época, as aulas para meninas foram suspensas em seu vilarejo e ela foi convidada pela imprensa internacional a narrar seu dia a dia em um blog. Esse ato deu notoriedade a Malala, que passou a ser perseguida por um grupo que dominava aquela região do Paquistão e era contrário à educação das mulheres.

Ela sofria diversas ameaças por ser o ícone dessa luta ao lado das amigas. Algumas, diante das perseguições, desistiram de usar o uniforme, outras deixaram de ir à escola, e houve até aquelas que aceitaram o destino e se casaram aos 12 anos, como determinava o grupo que controlava o país.

O auge da repressão sofrida por Malala foi em outubro de 2012, quando extremistas invadiram o ônibus em que ela voltava da escola, perguntaram por ela, e atiraram na sua direção e em duas de suas amigas.

A jovem ficou entre a vida e a morte. Junto com a família, precisou mudar de país para que sua recuperação fosse plena. As amigas também sobreviveram.

Ela afirma que depois desse terrível incidente tinha duas escolhas: “Eu poderia viver uma vida tranquila ou poderia aproveitar ao máximo esta nova vida que me foi dada. Decidi continuar minha luta até que todas as meninas possam ir para a escola”.1

O que fez Malala definitivamente optar por uma vida de desafios, e não por uma vida tranquila, foi seu desejo pelo bem das pessoas.

Benevolência pelo próximo

O presidente Ikeda afirma que coragem e benevolência são dois lados da mesma moeda. Ele declara:

Por definição, a coragem deve estar baseada no senso de justiça e de solidariedade pelos demais. O presidente Josei Toda costumava dizer: “A verdadeira benevolência é algo muito difícil de as pessoas manifestarem. As emoções interferem constantemente e, muitas vezes, as próprias pessoas não querem modificar certos sentimentos. A benevolência é imprescindível, porém é muito difícil de cultivar. No entanto, podemos cultivar a coragem. Dessa forma, embora saibamos que a benevolência é fundamental, o que podemos fazer é agir com coragem”.2

Malala agiu com coragem porque sentia benevolência pelas pessoas. Esse ato de benevolência e de coragem também é encontrado na brava atitude dos camponeses de Atsuhara, como é descrito no estudo desta edição.

Muitas pessoas se converteram ao budismo durante o movimento de propagação que Nikko Shonin, sucessor imediato de Nichiren Daishonin, liderava na região de Fuji. Um ano depois de se tornarem budistas, vinte camponeses foram presos sob falsas acusações e forçados a abandonar o budismo, real motivo pelo qual estavam sendo perseguidos.

Apesar de recém-convertidos, eles tinham plena consciência de que estavam praticando o ensinamento correto e que todas as pessoas deveriam ter liberdade religiosa. Nessa batalha, três camponeses — os irmãos Jinshiro, Yagoro e Yarokuro — foram mortos e reconhecidos por Daishonin como Três Mártires de Atsuhara.

Assim como os três camponeses de Atsuhara, Malala conseguiu extrair a coragem de dentro de si porque não travava uma luta pelo seu bem individual, mas para garantir direitos humanos essenciais.

Então, o primeiro ponto a ser destacado é o de que a coragem é manifestada diante da benevolência pelo próximo.

Não retroceder

Nichiren Daishonin declara que os camponeses deram significado ao surgimento do Buda neste mundo. A partir da atitude intrépida dos discípulos diante da perseguição, Daishonin concluiu que as pessoas já estavam preparadas para compreender a grandiosidade da Lei e assim o tempo para o kosen-rufu havia chegado.

A decisão de não retroceder de Malala também foi de grande impacto para a história do mundo. Com seu pai, ela criou a organização Malala Fund em defesa da educação de qualidade e segura das meninas, em 2014. Ainda se tornou a mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel da Paz e atualmente viaja o mundo em defesa do direito à educação. Em julho, esteve pela primeira vez no Brasil.

A coragem dos três camponeses de Atsuhara e de Malala é inegável e inspiradora. Será que você tem essa coragem dentro de si? Se não a tem, como cultivá-la?

Torne-se corajoso

Imagine um carro bonito, moderno, potente, com vários acessórios instalados, banco de couro, mas o motor apresenta uma série de avarias. O ser humano também é assim, pode ter inúmeras qualidades, mas se não possuir coragem, é como um veículo com problemas no motor, que não consegue avançar.

Ikeda sensei ensina que as pes­soas que não têm coragem são apáticas, negativas, têm atitudes destrutivas, falta de discernimento sobre o rumo certo para a vida, fogem das dificuldades e buscam viver da forma mais cômoda possível. Como resultado essas pessoas não se dedicam à felicidade de outras, não se aprimoram, tampouco realizam algo duradouro.3

A fonte da transformação dessa condição é a recitação do daimoku. “O daimoku é uma forma poderosa de coragem. É a faísca que dá partida ao motor da coragem”.4

A recitação do Nam-myoho-renge-kyo com o pensamento em como sua vitória pode contribuir para a felicidade de mais pessoas e como você pode conduzir a sociedade à paz é a manifestação da benevolência que faz brotar a coragem do seu coração, independentemente da realidade que esteja vivendo hoje. Experimente!

Vencer a própria ilusão

Em sua explanação do escrito As Perseguições ao Venerável, nosso mestre afirma:

"Referindo-se ao fato de os três irmãos de Atsuhara estarem dispostos a dar a vida pelas suas crenças, Toda sensei certa vez comentou: ‘Não se avalia a fé pela quantidade de anos que uma pessoa praticou, mas por sua coragem. As pessoas de fé intrépida são as mais extraordinárias’.

A fé corajosa é demonstrada pelos discípulos que se empenham com o mesmo espírito do mestre."6

Devemos agir com coragem pelo nosso bem e, acima de tudo, pelo bem de todos.

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