Crônica
TC
Como nossas orações são respondidas?
03/08/2021
Enquanto a questão que afligia Hamlet, personagem de Shakespeare, era “ser ou não ser”, a que atormentava a mim e às minhas irmãs no início dos anos 1990, no momento em que assistíamos aos desenhos e às novelas na nossa TV de tubo, era “como eles foram parar lá dentro”.
Foi entre indagações e suposições que uma de nós deu a brilhante ideia de conferirmos se havia uma passagem secreta na parte de trás. Como a televisão estava na estante, encostada na parede, tivemos de afastá-la mais para a frente, empurrar mais um pouco, só mais um pouquinho, até que ka-boom!, a TV caiu de cara no chão.
Quando era criança, não tinha condições cognitivas de entender como as imagens chegam à tela do televisor. Ainda hoje, apesar de saber que existem ondas eletromagnéticas que podem ser transportadas por cabos ou rebatidas por antenas e satélites, tecnicamente não consigo assimilar por completo como apertar o botão do controle remoto faz imagem e som, captados em outro tempo e lugar, aparecerem na tela. Mas isso não muda a minha capacidade de ligar e assistir à TV.
Já a curiosidade de muitos adultos é como nossas orações são respondidas. Tecnicamente, existe uma resposta para a dúvida das crianças e, filosoficamente, há uma resposta para a dúvida dos adultos. Ikeda sensei explica:
Assim como existem leis físicas, tais como as que controlam a eletricidade, que os seres humanos habilidosamente descobriram como fazer uso, o budismo investigou e revelou a Lei da vida e do universo. E assim como a luz elétrica foi inventada baseada nas leis da eletricidade, Nichiren Daishonin inscreveu o Gohonzon para nós com base na suprema Lei do budismo.
Toda sensei costumava descrever o Gohonzon da seguinte maneira: “Minhas palavras com certeza não fazem jus à sua grandiosidade, mas o Gohonzon pode ser comparado a uma ‘máquina de fazer felicidade’”.1
Às vezes, queremos uma resposta definitiva e pragmática, como minhas irmãs e eu buscávamos — “uma abertura atrás da TV”. Porém, como o personagem da tragédia de Shakespeare mostra, os questionamentos em si não necessariamente conduzem a uma vida feliz. Por outro lado, entrar em ação é o que produz resultados.
Comparo o ato de ligar a TV na tomada, posicionar o controle para a tela e apertar o botão com o momento de fazer daimoku — unir as mãos em oração, olhar para o Gohonzon diante de si e iniciar a recitação sonora do Nam-myoho-renge-kyo. Nesse momento, conseguimos ativar todas as funções protetoras do universo e acionar nosso próprio ser para a produção da felicidade.
A TV dos anos 1990 não parou de funcionar nem com a queda nem com a minha falta de compreensão sobre o seu funcionamento. De forma semelhante é minha fé no daimoku: inabalável, tal qual a convicta afirmação de Nichiren Daishonin de que “Jamais [ocorrerá] de as orações do devoto do Sutra do Lótus ficarem sem resposta”.2
Juliana Ballestero Sales Vieira Kamiya
Redação
Notas:
1. Brasil Seikyo, ed. 1.516, 24 jul. 1999, p. A3.
2. Cf. CEND, v. I, p. 362.
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