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Na prática

Todo dia é um recomeço — a essência da transformação do carma

O Brasil é um dos países com a maior frota de carros do mundo. Segundo dados do Ministério da Infraestrutura,1 o país atingiu em 2021 a marca de mais de 59 milhões de automóveis. Com tamanha quantidade de veículos circulando, especialmente nas grandes metrópoles brasileiras, todos os itens de segurança precisam estar com a manutenção em dia para que o motorista guie o auto com o máximo de tranquilidade. Entre esses itens, os espelhos retrovisores têm uma importante função durante a condução dos veículos. Eles são fundamentais para evitar situações de risco e acidentes ao ampliar a visão do motorista durante uma conversão ou manobra. Mas, imagine que você esteja dirigindo com os olhos voltados somente para os retrovisores. Sem olhar para a frente e sem ter a visão do que está por vir, certamente um desastre não demoraria a acontecer. Em nossa vida não é diferente. Olhar para trás tem papel essencial: compreender os caminhos que já percorremos e nos valer das experiências vividas para reparar ou melhorar os fatos do presente. No entanto, assim como na direção, é adiante que precisamos olhar, e é somente no “presente” que conseguimos fazer diferente, reinventarmo-nos, alterando assim a rota do destino e culminando num estado de grande plenitude. Sobre essa perspectiva, os ensinamentos budistas esclarecem a causalidade da vida, explicando que nossas ações do passado são causas que se manifestam como efeitos no presente, sejam elas positivas ou negativas. Porém, quando ficamos presos nessa premissa, focamos excessivamente no que já passou, e isso pode nos levar a conduzir a vida de forma passiva —, pensando, por exemplo, que “não tem jeito, isso é meu carma”. Já o Budismo de Nichiren Daishonin esclarece o princípio da verdadeira causa — que nos permite sempre avançar em direção ao futuro a partir do momento presente, de forma proativa. A seção Na Prática, fundamentada nas reflexões do presidente Ikeda, apresentará os mecanismos essenciais para transformar a realidade do carma e, com isso, possibilitar que você, e todos, se deleite com uma vida interiormente iluminada. Então, aperte os cintos e aproveite a viagem.

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01/02/2022

Todo dia é  um recomeço — a essência da transformação do carma

Explicando o carma

Como apresentado na introdução, os ensinamentos budistas esclarecem que a vida é, em grande parte, governada pelo carma que foi se acumulando devido às ações praticadas em existências passadas. A palavra “carma” (do sânscrito karma-n) significa “ação”. Todas as nossas ações — o que pensamos, dizemos e fazemos — ficam gravadas na vida.

O presidente Ikeda detalha:

As ideias budistas convencionais sobre a retribuição cármica, segundo as quais nossos efeitos negativos do presente são o resultado de nossas más causas anteriores, e os efeitos positivos são o produto das boas causas realizadas no passado: na realidade, não constituem um princípio de transformação cármica. Isso porque para se erradicar todas as causas cometidas no passado, uma a uma, seria preciso um tempo inconcebivelmente longo.2

Desse ponto de vista, se o presente é definido pelas causas do passado, o destino se torna algo imutável e predeterminado. Esse pensamento deixa as pessoas impotentes e passivas — assim como ter os olhos voltados apenas para o retrovisor — diante da realidade da vida e as privam de viver com esperança.

Ikeda sensei diz ainda:

O budismo expõe, de fato, que o indivíduo que comete um mau ato contra outros sofrerá os efeitos negativos dessas ações e terá uma vida infeliz. Porém, esse é apenas um aspecto dos ensinamentos budistas. Se tudo se restringisse ao carma, as pessoas estariam fadadas a viver carregando o peso da culpa e sob uma forte ansiedade por não saberem que ofensas teriam cometido em existências passadas. (...) O Budismo de Nichiren Daishonin vai além dessa noção superficial de causalidade.3

Para romper a tradicional teoria sobre o destino, o presidente Ikeda lança luz ao princípio místico da verdadeira causa:

Em vez de ser aprisionado pelo passado, ao mudarmos nossa mentalidade, ou decisão profundamente arraigada, podemos mudar o significado do nosso passado; por meio de nossas ações, podemos criar valor e abrir o caminho para uma vida nova a partir deste presente momento. A filosofia do “princípio místico da verdadeira causa” denota esforçar-se para construir um futuro mais radiante.4

Transformar a realidade

Suportar as dores do destino, em muitas situações, pode parecer sufocante quando as ondas do carma atingem a vida. O pesar da doença, das relações conflituosas, do drama financeiro — são inúmeras circunstâncias vivenciadas que podemos atribuir como “carma negativo”. Contudo, como praticantes budistas, condutores do próprio destino, recitar Nam-myoho-renge-kyo com determinação é o caminho para transformar nossa realidade, sempre para melhor.

Ikeda sensei afirma:

Recitar o Nam-myoho-renge-kyo é o caminho para transformar nosso carma para melhor. (...)
Não importando o que tenha acontecido no passado nem o que está ocorrendo até agora, nós podemos fazer uma nova causa no presente — uma verdadeira causa embasada na Lei Mística, que é a causa mais forte de todas — e redirecionar o curso atual de nossa vida. Nossa fé nos dá o poder de continuar a avançar vitoriosamente por um futuro radiante.5

Assim como na ilustração, durante a condução do veículo, ao olharmos para o para-brisa dianteiro, podemos visualizar aonde realmente queremos chegar. Essa é a ação do momento presente, empregar energia e sabedoria por meio da prática budista e alcançar uma vida interiormente sólida — mesmo diante de grandes adversidades.

A seguir, vamos conhecer a história da família do Bernardo, um jovem guerreiro que suportou com determinação uma grave doença, e com coragem e esperança venceu essa batalha.

Não há oração sem resposta!

Depoimento de Winny Matsumoto

Bernardo é o filho do meio e sempre foi muito sorridente e brincalhão com todos, principalmente com os irmãos. Mas, a partir de fevereiro de 2021, por conta de fortes dores, ele tentava ficar mais isolado e silencioso. A preocupação bateu e fomos investigar o que poderia ser. Quando soubemos da possibilidade de ser câncer, de início a apreensão nos pegou em cheio. Porém, com o desafio diário da recitação de daimoku, ao sair o resultado de que ele estava com linfoma,6 já estávamos mais fortes para enfrentar tudo com a decisão da vitória.

Foi a primeira vez que Bernardo ficou internado. Ele encarou tudo com muita garra. Ficamos admirados com a postura dele. Nosso filho orava com tanta fé e bravura que os efeitos colaterais foram bem leves. Durante o tratamento, ele nunca deixou de sorrir, fazer piadas. Foi realmente muito forte!

Segundo o médico, o tratamento de Bernardo seria realizado em seis meses. No entanto, ele o concluiu antes desse tempo. Foi um período muito desafiador, mas, alicerçados na prática budista, nos incentivos do Mestre e dos companheiros da organização, superamos!

Por isso, é fundamental enfrentarmos qualquer situação com coragem, determinação e fé em nós mesmos, pois somos capazes de vencer qualquer obstáculo e doença com a força do Nam-myoho-renge-kyo. Bernardo é a comprovação de que não há oração sem resposta!

A força do Nam-myoho-renge-kyo é inabalável

Depoimento de Bernardo Matsumoto

Em fevereiro de 2021, aos 8 anos, fui diagnosticado com linfoma, um problema bem sério de saúde. Logo que soube, fiquei apavorado e com medo, porque nunca fui tolerante a dor. Iniciei o tratamento da quimioterapia no dia 25 de março de 2021, e realmente foram dias muito difíceis, pois, a cada sessão, era um novo obstáculo. Eu precisava acordar às 5 horas da madrugada — lembro-me de que era um período de intenso frio — para as sessões de quimioterapia e as realizava cinco vezes na semana. Ainda assim, em meio ao grande desafio de enfrentar a doença, posso afirmar que tive grande boa sorte, visto que não apareceu nenhuma ferida no corpo nem intestino preso, os piores sintomas. Nas horas de sofrimento, contei com pessoas maravilhosas ao meu redor, orando por mim e sempre me apoiando para não eu desanimar. O médico me deu seis meses de tratamento, mas determinei que acabaria antes de completar 9 anos. E, sim, amigos, a resposta veio, sem falta. Venci o câncer! Tive alta do tratamento no dia 27 de agosto de 2021, e meu aniversário foi no dia 25. Este foi o melhor presente, mais lindo e emocionante da minha vida. Hoje, posso falar com toda a convicção: “A força do Nam-myoho-renge-kyo é inabalável”.

Manter a serenidade e a determinação

Bernardo, mesmo tão jovem, nos mostra quão é essencial manter a serenidade e a determinação para superar uma condição de grande desafio e manifestar a convicção ilimitada de que venceria a doença por meio da recitação do daimoku, incentivando as demais pessoas, incluindo os adultos ao seu redor.

Vença os cenários mais adversos

Agora, neste exato momento, quem está na direção da “rota da vida” é você. Durante o trajeto, reveses surgirão, por exemplo: uma chuva torrencial poderá cair, e os cuidados precisarão ser redobrados, ou, ainda, um trânsito intenso talvez retarde a chegada ao seu compromisso. Por isso, é importante manter a tranquilidade e, quem sabe, aproveitar para ouvir uma boa música, prestando atenção sempre a tudo pela frente e usando o retrovisor apenas quando necessário. Independentemente das condições adversas no caminho, a maneira como reagimos a elas nos permitirá evitar um “incidente” — o que nos dificultaria alcançar, de maneira exitosa, o destino final, ou seja, a plena vitória.

Fundamentados nas orientações de Ikeda sensei e insuflados pelo relato do menino Bernardo, apresentamos, na editoria Na Prática, ações para transformar os cenários desfavoráveis que a vida reserva (carma negativo).

Recitar daimoku intensamente

Quando recitamos Nam-myoho-renge-kyo, manifestamos vigorosa energia vital para enfrentar qualquer tormenta. É por essa razão que o presidente Ikeda faz da recitação do daimoku sua prioridade. Ele diz:

Experimentaremos várias dificuldades ao longo do caminho, mas todas elas são oportunidades para transformarmos o carma e alcançarmos nossa revolução humana. (...) É imprescindível que recitemos intenso daimoku e nos dediquemos ao kosen-rufu. Agindo dessa forma, nossa fé jamais se estagnará. Venho até hoje fazendo da recitação do daimoku minha prioridade máxima. Quando oramos, mudamos a nós mesmos.7

Viver de maneira benéfica e positiva

Ao manifestarmos uma atitude mental positiva diante dos infortúnios, certamente o caminho de uma resolução se abrirá. Nosso mestre pontua, com clareza:

Uma vida sem alegria é miserável. Aqueles que se enfraquecem diante das adversidades, que são sempre negativos, que estão sempre com aspecto sem energia, que não fazem nada além de criticar e reclamar, não estão vivendo como Daishonin ensina em seus escritos. Aqueles que encontram alegria em tudo e que transformam toda circunstância em alegria são genuínos especialistas na arte de viver.8

Marca de um vitorioso

Em situações de grande tribulação, cultivar relacionamentos que nos impulsiona a avançar é ponto pacífico. Ikeda sensei declara:

Avancem, por favor, com boa saúde e com objetivos claros, ao mesmo tempo em que cultivam relacionamentos positivos e harmoniosos com as pessoas ao redor. (...)
A Lei Mística nos permite evidenciar o máximo de nosso potencial. E quando isso acontece, vamos a qualquer lugar e encara­mos qualquer desafio com um profundo senso de confiança. Passamos a ser verdadeiramente capazes de fazer o que pre­cisarmos sem sermos influenciados pelas circunstâncias ime­diatas e viveremos uma existência de grande satisfação, sem nenhum arrependimento. Essa é a marca de quem é realmente vitorioso na vida.9

O “agora” é o que importa!

A vida sempre reservará período de desafios. No entanto, a prática budista tonifica nosso coração e habilita nossa mente para afrontar com ardor cada um deles. Desse modo, podemos transformar, de maneira criativa, a nossa vida onde estamos neste exato instante, e inspirar outras pessoas também a se desafiar. Sobre isso, Ikeda sensei deixa a seguinte mensagem:

O grande escritor russo Liev Tolstói (1828–1910), que, segundo se relata, possuía profundo interesse pelo budismo, registrou como ele acreditava que a vida devia ser vista: “O passado não existe. O futuro não começou”. Ele observou ainda: “O tempo não existe. Há somente um ínfimo e infinito presente, e é somente no presente que nossa vida acontece. Portanto, a pessoa deve concentrar toda a sua força espiritual apenas neste presente”.
Shakyamuni ensinou seus seguidores a valorizar o agora, a apreciar o dia de hoje: “Não se deve correr atrás do passado, nem se desejar o futuro. (...) Dê o seu suor na labuta deste dia”.10

Diante dos eventos mais desafiadores que a vida pode nos reservar (carma), devemos nos impulsionar a prosseguir com tranquilidade e confiança, sem nos deixarmos levar por sentimentos de conformismo ou desapontamento. O importante é não olharmos apenas para o retrovisor e ficarmos aprisionados aos fatos do passado ou mesmo nos lamentar sobre os infortúnios vivenciados, mas usarmos o retrovisor com sabedoria, buscando focar no horizonte com a certeza de que o sol (da superação do carma) despontará, haja o que houver. Cada dia traz novos desafios. Todo dia é um recomeço.

Notas:

1. Disponível em: https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/transito/conteudo-denatran/frota-de-veiculos-2021 Acesso em: 13 jan. 2022.

2. Terceira Civilização, ed. 511, mar. 2011, p. 42.

3. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 1, p. 240, 2021.

4. Terceira Civilização, ed. 642, fev. 2022, p. 61-62.

5. Brasil Seikyo, ed. 2.012, 21 nov. 2009, p. A4.

6. Para saber mais, acesse: https://www.inca.gov.br/tipos-de-cancer

7. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 22, p. 310, 2019.

8. IKEDA, Daisaku. Felicidade. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 98.

9. Ibidem, p. 100.

10. Terceira Civilização, ed. 642, fev. 2022, p. 57.

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