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Crônica

A montanha de vidro

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02/04/2022

A montanha de vidro

Recentemente, li uma história1 que me fez refletir. Era mais ou menos assim: em um local afastado da civilização havia uma montanha de vidro, com uma árvore de frutos dourados fincada no topo. Dizia a lenda que os frutos eram de ouro maciço, mas ninguém conseguira subir até lá para provar.

Certo dia, um jovem cavaleiro tenta a façanha, porém, ao ser atacado por uma águia, desequilibra e cai. Desgostoso e ferido, ele desiste da tarefa. De longe, os olhos atentos de um menino acompanhavam tudo. Decidido, o pequeno sai de seu esconderijo e, valendo-se das garras de um animal morto que encontrara pelas redondezas, põe-se a subir a montanha.

Na metade do caminho, o pequeno sente a exaustão se apossar de seu corpo. Os ventos fustigam sua pele, quase desequilibrando-o. Ele para e respira um pouco.

Vendo a oportunidade, a águia que havia atacado o cavaleiro dá um mergulho no ar e abre suas presas para agarrar o corpo franzino. Já prevendo esse movimento, o jovem pega impulso, projeta seu corpo e se segura nas pernas finas do animal, que se assusta e tenta derrubá-lo. Nesse esforço, a ave acaba alçando voo levando-o até o cume da montanha.

Ao ver a árvore de frutos dourados se aproximando logo abaixo, o menino se solta e cai na copa, quebrando alguns galhos com a queda. Ferido e faminto, ele pega um dos pomos que caíra junto e, sem pensar, dá uma dentada. Então, percebe duas coisas: o fato de serem saborosos e de terem propriedades curativas. O garoto suspira aliviado, colhe o máximo de frutos que consegue carregar e se prepara para uma nova etapa de sua trajetória.

A meu ver, essa história diz muito sobre nossa vida diária e o papel da prática budista. Não pela montanha de vidro ou pela águia, mas sim pelos desafios incessantes, constantes e aparentemente insuperáveis que elas representam. A prática budista, por sua vez, nos fornece os aparatos, a força e a sabedoria necessários para transformar tudo, até as adversidades, em benefícios. O presidente Ikeda afirma:

Em última análise, fé não consiste em pedir às divindades celestiais que nos auxiliem, mas ativar as funções protetoras delas dentro de nossa própria vida, que incorpora a Lei Mística.Daishonin cita uma passagem [de uma obra do grande mestre Miaole da China]: “O corpo e a mente dela permeiam todo o mundo dos fenômenos num único momento”.2 De fato, nossa determinação mental pode permear o universo inteiro. Em outras palavras, podemos tornar tudo no universo, até mesmo as forças maléficas e hostis, nosso aliado. Tal é o infinito poder da Lei Mística.3

Não podemos evitar as “montanhas de vidro” da nossa existência; e se não nos dispusermos a escalá-las, enfrentando “águias” e “vendavais”, nunca experimentaremos o sabor da vitória dourada. Para nossa felicidade, temos a prática e as orientações do Mestre que, dia após dia, nos permitem ativar as funções protetoras em nossa vida, usando até os erros e as quedas como aprendizados para o sucesso. Assim, pegamos impulso a partir deles e alçamos um belo voo de elevada condição para a jornada que se desenrolar dali em diante.

Mariana Travieso Bassi

Redação

Notas:

1. Disponível em: https://sharonblackie.net/the-glass-mountain/ Acesso em: 28 fev. 2022.

2. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 384, 2020.

3. Terceira Civilização, ed. 643, mar. 2022, p. 50-65.

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