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Na prática

Seja a estrela da própria história

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02/04/2022

Seja a estrela da própria história

Em vista dos recentes acontecimentos — desastres naturais em diversas regiões do país, conflito militar preocupante no Leste Europeu e pandemia da Covid-19 ainda em curso —, podemos ficar apreensivos com a estabilidade social, econômica e, sobretudo, com a paz mundial entre os povos, além de nos afligir com o desespero daqueles que enfrentam essas dores diretamente. Esses cenários, somados aos desafios cotidianos, parecem montanhas muitas vezes insuperáveis. Mas, mesmo o Monte Everest, considerado o ponto mais alto do mundo, permeado de severos obstáculos e aparentemente inconquistável, já foi alcançado por milhares de alpinistas.

Podemos traçar equivalências da ilustração da famosa montanha com as condições do cotidiano das pessoas — em certos períodos da vida, uma completa serenidade; e em outros momentos, repleta de turbulências. O presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, destaca:

Circunstâncias favoráveis não garantem a felicidade e, da mesma forma, circunstâncias difíceis não significam que alguém esteja fadado a ser infeliz. Não é o ambiente, mas somos nós quem decidimos a nossa felicidade. Nós escolhemos se seremos derrotados pelo nosso ambiente ou se triunfaremos sobre ele. Esse é o fator que determina a nossa felicidade.1

Essa clara e profunda observação do Mestre retrata quão essencial é cultivar a convicção de não sermos arrastados pelos desafios emergidos no decurso da vida, pois, momento a momento, nos defrontamos com fatos preocupantes, dolorosos e desagradáveis. Quando nos depararmos com situações desse tipo, há duas possibilidades, segundo o Mestre:

Pode-se reclamar, culpar o ambiente e ser derrotado. Algumas pessoas talvez se mostrem solidárias, mas, no final, quem sairá perdendo é você, e qualquer coisa que disser não passará de desculpa. A segunda opção é viver com um espírito invencível, abrindo o próprio caminho, independentemente da sua situação. Cabe a você escolher.2

Na Prática da edição, alicerçada nas diretrizes do presidente Ikeda e nos ensinamentos do budismo, apresentará o caminho para nutrir a mente e o coração com a determinação da vitória.

Monte Everest

O Everest é parte integrante da cadeia de montanhas do Himalaia, no sul da Ásia. O pico está na fronteira entre o Nepal e a região chinesa do Tibete. No idioma tibetano, Monte Everest é conhecido como Chomolungma, que significa “Deusa Mãe do Mundo”.

Com 8.849 metros de altura, o ar no cume é escasso; as temperaturas são muito baixas; e os ventos, extremamente fortes. Próximo ao topo, as condições são severas demais para a sobrevivência de qualquer ser humano. No nível do mar, o ar contém aproximadamente 21% de oxigênio, mas a partir dos 3,6 mil metros de altitude esse nível diminui em 40%. A partir dos 8 mil metros de altitude, respirar é penoso.

O Monte Everest sempre foi um desafio para os montanhistas, mesmo para os atuais praticantes que são favorecidos com alta tecnologia. O registro da primeira escalada bem-sucedida aconteceu em 29 de maio de 1953. Edmund Hillary, da Nova Zelândia, e Tenzing Norgay, um guia xerpa,3 foram os primeiros a atingir o topo.

Embora cientes das dificuldades e dos riscos, o neozelandês e seu parceiro Norgay estavam determinados a atingir o feito. Para o histórico triunfo, alguns pontos foram determinantes.

Antes de conquistar o Everest, Hillary escalou diferentes montanhas na cordilheira do Himalaia, e outros importantes picos dos Alpes do Sul. Ele adquiriu experiência em montanhismo ainda jovem e o know-how para alcançar o local mais alto do mundo.

Além disso, os preparativos minuciosos da escalada foram essenciais. A organização logística foi feita com antecedência. O grupo se estabeleceu no acampamento-base quase dois meses antes para os detalhamentos da expedição e para se habituar com as altitudes elevadas a fim de estar prontos para o desafio.

O escritor e documentarista Tom Scott assegura que Hillary conseguiu escalar o topo em virtude de sua determinação e incrível fortaleza física.4 Um dia antes da conquista, três dos expedicionários do grupo abandonaram a subida faltando apenas 350 metros para atingir o pico da montanha. No entanto, Hillary e Norgay enfrentaram a extrema exaustão, a escassez de suprimentos e não desistiram do objetivo inicial. Assim, eles se sagraram vitoriosos.

Jamais recuar

A convicção é um valor essencial para as pessoas superarem seus receios e incertezas. Talvez se a dupla de alpinistas fosse envolvida pela dúvida, jamais triunfaria na jornada do Everest. De forma semelhante, o presidente Ikeda, no romance Nova Revolução Humana, incentiva uma jovem líder da Divisão Feminina de Jovens (DFJ) com deficiência motora que se sentia incapaz de liderar a organização:

Ele [Shin’ichi Yamamoto, pseudônimo do presidente Ikeda no romance] procurava criar o máximo de oportunidades para conversar com os jovens a fim de desenvolvê-los como valiosos seres humanos.
Em um desses diálogos, uma líder da Divisão Feminina de Jovens de Mito desabafou com Shin’ichi. Chamava-se Masako Nakagawa e tinha deficiência na perna direita.
Sensei, não consigo atuar da mesma forma que os outros. Esforço-me ao máximo, mas não consigo obter os resultados almejados. Acho que não tenho condições de liderar as atividades do meu distrito.5

Masako foi acometida de erisipela aos 3 anos e teve de amputar a perna direita na altura do joelho. Shin’ichi a nomeara em setembro do ano anterior responsável pela Divisão Feminina de Jovens de distrito.

Na entrevista para novos líderes, Shin’ichi a orientou:
— Jamais deve recuar ou desistir por ter deficiência física. A força decisiva da vitória encontra-se na firme determinação.
Então, passaram-se três meses. Ele conhecia perfeitamente a dificuldade de atuar como líder central tendo deficiência física. Quando ela expôs seu problema, chegou a pensar em elogiá-la e protegê-la, deixando-a livre do encargo. Porém, preferiu ser rigoroso.
— Da maneira como está falando, parece que as pessoas que a nomearam são culpadas.6

Ela ficou estarrecida, pois fez essa consulta ao Mestre após pensar e sofrer muito. Mesmo com relação à visita aos membros de sua organização, Masako conseguia percorrer uma ou duas casas no máximo, enquanto as demais líderes visitavam várias famílias num mesmo dia. Esta e outras questões a fizeram se sentir incapaz de atuar como líder da DFJ.

Shin’ichi estava ciente dos sentimentos dela, entretanto, sabia que mero sentimentalismo ou compaixão não lhe acrescentariam nada de positivo. Ele reflete, no romance: “A prática da fé existe justamente para polir e fortalecer a vida para transpor as próprias fraquezas”.7

Encerrada a reunião, Shin’ichi conversa com Minoru Suzumoto, coordenador da província de Ibaraki:

— Hoje repreendi aquela líder das jovens, e sei que ela não é covarde e está se esforçando bastante. Se avançar mais um passo e quebrar a concha de sua fraqueza, abrirá um grandioso caminho para a felicidade.8

Ao retornar para seu alojamento, Masako foi recitar daimoku em lágrimas. Nesse instante, chegou Suzumoto. Dedicando-lhe palavras de incentivo, mencionou a conversa com Shin’ichi:

— O presidente Yamamoto alimenta grande expectativa em você. Ele disse: “Ela não é covarde. Com certeza vai se empenhar ao máximo”. A orientação dele foi justamente para despertar em você um novo desafio.
Ao ouvir as palavras de Suzumoto, sentiu como se fachos de luz penetrassem em seu coração apertado pela tristeza e, então, sorriu com lágrimas nos olhos de sincera alegria e também de juramento.9

A vitória na batalha da vida define-se a partir de uma forte decisão. “A causa da derrota não se encontra no obstáculo ou no rigor das circunstâncias; está no retrocesso da determinação e na desistência da própria pessoa”,10 afirma o presidente Ikeda na passagem do romance.

Em outro incentivo, ele faz referência ao seu mestre, Josei Toda, como expressão de inabalável convicção. Veja no trecho a seguir.

Convicção, a chave da vitória

Certa vez, Ikeda sensei perguntou ao presidente Josei Toda o que tornava uma pessoa extraordinária. Seu mestre, sem hesitar, respondeu:

“Ter convicção. Na vida e em tudo, o que conta é a convicção”.
Toda sensei foi um homem extraordinário. Pela sua experiência de ter vencido problemas nos negócios, a morte de familiares, doenças graves e o encarceramento na prisão em defesa de suas crenças, ele podia afirmar categoricamente que a convicção é o fator fundamental.
Convicção significa determinação num único momento (ichinen). Refere-se a coragem, força, esperança e grande compaixão. Acima de tudo, consiste em fé absoluta no Gohonzon.
Aqueles que continuam desafiando a si mesmos com convicção — determinados, por exemplo, a perseverar na prática budista por toda a vida, a contribuir para o desenvolvimento do seu local de trabalho, a possibilitar que todos com quem possuem um vínculo se tornem felizes, a ajudar sua comunidade a prosperar — são pessoas realmente esplêndidas.11

As três diretrizes citadas, apresentadas por Ikeda sensei na Convenção da Divisão Sênior (DS) em julho de 1999 — orientações precisas também para as demais divisões —, quando aplicadas podem se tornar trajetos para a vitória absoluta. Não por acaso, a vida da dupla de alpinistas Edmund Hillary e Tenzing Norgay também apresentavam as três características referidas pelo Mestre:

1. Espírito de procura vitalício

Edmund Hillary nasceu em julho de 1919 na cidade de Auckland na Nova Zelândia. Na adolescência, viajava todos os anos como integrante de uma equipe escolar para competições de esqui realizadas no Parque Nacional Tongariro. A partir dessas viagens, desenvolveu um amor por montanhas, neve e gelo. Gradualmente se interessou por montanhismo. Todo o treinamento e aprendizados na juventude foram fundamentais para seu triunfo na escalada.

Dedicar-se ao aprimoramento no estudo do budismo, aos encorajadores incentivos do presidente Ikeda e à prática budista, para compreender a dinâmica da Lei Mística na vida diária, é de suma importância, sobretudo nos momentos de grandes desafios.

2. Vencer no local de trabalho

Quando adolescente, Tenzing Norgay se estabeleceu na Comunidade Too Song Bhusti Sherpa em Darjeeling, Nepal. Ele trabalhou como xerpa até ser recrutado para ajudar em uma missão de reconhecimento do Monte Everest em 1935. Nessa época, Norgay foi convidado pela primeira vez a tentar escalar a montanha mais alta do mundo, feito que alcançou quase duas décadas depois.

Dar o máximo de si onde estiver, com tenacidade, alegria e sabedoria, seja no trabalho, no relacionamento com familiares e amigos. A sincera dedicação certamente amplificará o sentimento de cooperação e realização.

3. Contribuir para a comunidade

Hillary instituiu em 1982 a Himalayan Trust, fundação criada para melhorar as condições de vida dos nepaleses. O instituto construiu hospitais, escolas e angariou fundos de bolsas de estudo, as quais foram oferecidas às famílias locais.

Estimar e zelar pelas pessoas da organização local e o convívio social contribuem verdadeiramente para a felicidade de si e dos demais.

Essas realizações deixam marcas positivas na vida daqueles que foram envolvidos com esses genuínos esforços. Com isso, seguramente, elas reproduzirão as ações em seu cotidiano e também impactarão positivamente muitas outras pessoas.

O importante é não desistir

Diante dos atuais acontecimentos enfrentados pela humanidade, ao mesmo tempo em que nos empenhamos para avançar e vencer em meio aos dramas da vida diária, pode ser que, num primeiro momento, todo esforço empreendido nas diversas frentes de atuação não tenha resultados visíveis. Na história dos alpinistas, eles se esforçaram constantemente no aprimoramento das técnicas de montanhismo e no preparo físico para lograr êxito na expedição.

Certa ocasião, o presidente Ikeda incentivou um membro da DS da SGI-Estados Unidos. Mesmo o homem empreendendo esforços na organização e no trabalho, ele se sentia desapontado por não ver os resultados esperados. Então, o Mestre o aconselhou:

A manhã sempre segue a noite. Acreditar que um novo dia nascerá é o espírito do Budismo Nichiren. O importante é não desistir, não se entregar. Mantenha-se sempre realizando alguma ação positiva. Contanto que continue tentando, conseguirá avançar. O fato de estar desafiando a si mesmo é a prova da vitória. Vencer significa jamais sucumbir ao derrotismo.12

Com base nas orientações e nos incentivos do Mestre, é imprescindível nos munir de sabedoria e convicção quando estivermos diante de uma circunstância desafiadora. Além do mais, como praticantes budistas, devemos condicionar a mente, o coração e o espírito com o exercício da fé diária, abastecer-nos de incentivos de Ikeda sensei e de aprendizados dos ensinamentos de Nichiren Daishonin para que sejamos capazes de suportar eventuais reveses.

Assim como vimos no trajeto vitorioso dos alpinistas, a condução de sua jornada estará segura em suas mãos e não sujeita a fatores externos. Então, seja você a estrela reluzente da própria história.

Notas:

1. IKEDA, Daisaku. Sabedoria. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, p. 152, 2020.

2.  Ibidem.

3. Conhecidos no mundo do montanhismo, xerpa (ou sherpa) é o nome dado àqueles que são guias ou mesmo carregadores que ajudam os escaladores a subir as montanhas na região do Himalaia.

4. Disponível em: https://www.terra.com.br/esportes/ha-60-anos-ed-hillary-e-tenzing-norgay-alcancavam-o-topo-do-mundo,c16abfc217eee310VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html Acesso em: 7 mar. 2022.

5. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 3, p. 14, 2019.

6. Ibidem, p. 15.

7. Ibidem, p. 15.

8. Ibidem, p. 16.

9. Ibidem, p. 17.

10. Ibidem.

11. Terceira Civilização, ed. 644, abr. 2022, p. 55-56.

12. IKEDA, Daisaku. Coragem. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, p. 76, 2019.

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