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Na prática

As “quatro virtudes” — ingredientes da felicidade

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01/06/2022

As “quatro virtudes” — ingredientes da felicidade

Aqueles que preenchem a vida com os grandiosos ensinamentos de Nichiren Daishonin são capazes de alcançar vasta condição de vida e ser revestidos com a fragrância das “quatro virtudes”, ou as nobres qualidades da vida do Buda — eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza. Como um dos princípios fundamentais do budismo, as “quatro virtudes” são importantes ingredientes para que os praticantes budistas revelem o “eu maior”, ou seja, uma condição de vida de profundo estado de liberdade e clara percepção de felicidade. Então, prepare o caderninho de receitas! Na Prática da edição descreverá os principais elementos das “quatro virtudes” e ensinará como manejá-los e aplicá-los no cotidiano. Ao final da experiência, desfrute a sensação de imensa plenitude.

Nichiren Daishonin citou o princípio “as quatro virtudes” no Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente — importante obra do Buda compilada por seu pupilo e sucessor Nikko Shonin. Em Minobu, no Japão, Daishonin promoveu uma série de palestras para seus discípulos sobre frases essenciais do Sutra do Lótus. O documento, datado no primeiro mês de 1278, consiste em duas partes e revela os principais fundamentos dos ensinamentos do Buda.

Agora que sabemos um pouco da origem do conceito, vamos preparar o mise en place (termo francês que significa “pôr em ordem, fazer a disposição”. É também uma forma de dizer para arrumar e preparar a cozinha para começar a confeccionar os pratos) e, assim, compreender um pouco mais sobre cada item das “quatro virtudes”, a fim de experienciá-las na própria vida.

Tudo pronto, vamos lá!

Caderno de receitas

Com o caderninho de receitas em mãos, vamos nos aprofundar nos ingredientes do conceito: eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza.

Na cozinha, durante o preparo dos pratos, ter “dinamismo” e “criatividade” é indispensável. Dinamismo para coordenar diversas etapas de modo simultâneo, e criatividade para dar um toque especial à receita.

Eternidade — indica o dinamismo da vida que se renova a cada momento e rompe qualquer estagnação. Mesmo ao enfrentar os desafios da realidade presente, podemos manifestar com a prática budista coragem e sabedoria para sobrepujá-los e, além disso, obter importantes aprendizados. 

Felicidade — consiste na alegria da vida, assim como Toda sensei observou: “O próprio fato de estar vivo converte-se num contentamento absoluto”.1 Também corresponde a possuir um caráter plenamente primoroso, que transmite alegria a todos ao redor.

No fundo, preparar uma boa refeição seja ela simples ou refinada demanda entrega de quem a faz. De modo geral, o feito é para corresponder e satisfazer outros paladares.

Verdadeiro eu — representa um estado de liberdade tão vasto quanto o universo, no qual podemos usufruir nosso eu verdadeiro ou maior. À medida que recitamos daimoku com profunda fé, estudamos os ensinamentos budistas e os empregamos em nosso cotidiano, energia vital e sabedoria emanam da vida e passamos a buscar não somente nosso bem-estar, mas também o dos demais.

Pureza — designa a ação de purificar o egoísmo do nosso eu menor por meio da poderosa energia vital do nosso eu maior.

Agora, com pouco mais de conhecimento sobre cada ingrediente das “quatro virtudes”, vamos entender como manejá-las e aplicá-las no cotidiano. Para isso, apresentaremos um episódio do romance Nova Revolução Humana, volume 26. No trecho, Shin’ichi Yamamoto, pseudônimo do presidente Ikeda na obra, participa de atividade com integrantes da Divisão Feminina (DF).

Conceito na vida diária

Para incentivar as participantes da DF, Shin’ichi caminhou com tranquilidade até o microfone e inquiriu as presentes: “Por que nascemos neste mundo?”. Após a indagação, o silêncio imediatamente se instalou na sala. Algumas delas pareciam pensativas, enquanto outras aguardavam o que ele diria em seguida.

Nichiren Daishonin com frequência cita a passagem do Sutra do Lótus “Os seres vivos vivem felizes e tranquilos”. Como esse trecho indica, o propósito de nossa prática é transformar esta vida de dor e sofrimento numa vida de satisfação e tranquilidade.2

Shin’ichi também afirmou que o meio fundamental pelo qual podemos efetivar as palavras de Nichiren Daishonin apresentadas no trecho anterior é orar ao Gohonzon. Ele prosseguiu:

Quando recitamos Nam-myoho-renge-kyo ao Gohonzon — que é a materialização da vida de Nichiren Daishonin, o Buda dos Últimos Dias da Lei — nossa vida se funde com a grandiosa condição de vida do Buda (...). Consequentemente, manifestamos o estado de buda inerente a nós. A condição de vida do estado de buda é caracterizada pelas “quatro virtudes” — eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza. (...)
Quando nossa vida é permeada pelas quatro virtudes, conseguimos vivenciar nossos dias de maneira tranquila, agradável e sem medo, não obstante o que aconteça.

Shin’ichi explicou que “alegria e tranquilidade” no budismo não se referem a condições relativas como mera riqueza, posição social, fama, capacidade ou saúde. Ele afirmou que correspondem a um profundo senso de felicidade e de satisfação, um estado de felicidade absoluta.

Estou certo de que há ocasiões nas quais gostariam, por exemplo, que o salário do marido fosse maior; a casa, um pouco mais ampla; ou as notas dos filhos, melhores. É imprescindível que orem e se esforcem para realizar esses objetivos. O mais importante, porém, é que edifiquem uma condição de vida na qual não sejam derrotadas ou desencorajadas, não importando quão enormes sejam as provações e os sofrimentos que possam enfrentar. Mesmo que percam tudo o que possuem, adoeçam gravemente ou percam alguém que lhes seja muito querido — ter a força para superar todos os infortúnios e construir uma vida feliz constituem “felicidade e tranquilidade”. (...) Por isso, é fundamental ter coragem de enfrentar resolutamente as adversidades (...). Sem coragem, não poderão experimentar a felicidade e a tranquilidade indestrutíveis.4

Shin’ichi desejava transmitir a elas que, ao perseverarem na prática budista, a boa sorte invariavelmente se evidenciaria e a vida seria permeada pelas “quatro virtudes”.

Pode parecer, às vezes, que nossa vida neste mundo se resume a uma série de dificuldades (...). Nessas circunstâncias, a única maneira de vencer é mediante a recitação do Nam-myoho-renge-kyo. Aqueles que possuem forte fé têm disposição de sentar diante do Gohonzon e orar, seja qual for a situação. Assim como o ímã atrai o ferro, quanto mais forte for sua determinação de perseverar na fé, maior a certeza de que atrairá a boa sorte em sua vida.
Quando isso acontecer, sentirão genuína alegria e convicção, e isso, por sua vez, fortalecerá ainda mais sua fé. Mesmo que suas orações não tenham resposta imediata, podem ter a certeza de que estão acumulando benefícios inconspícuos e que, com o passar do tempo, alcançarão uma condição de vida de total realização e satisfação.5

Como apresentado nos incentivos de Shin’ichi Yamamoto, quando somos envolvidos pela coragem, provinda da recitação sincera do daimoku ao Gohonzon, e persistimos com seriedade na resolução dos desafios enfrentados, sabedoria e boa sorte se manifestam. E o fruto desse esforço é ter a vida permeada pela eternidade, felicidade, verdeiro eu e pureza.

Vida forte e autônoma

Para aqueles que se aventuram na cozinha, ao preparar um prato e acertar na suculência e no sabor, é de encher o coração de alegria, e quando a comida agrada a outros paladares, a felicidade aumenta ainda mais. Todavia, para alcançar o resultado esperado, é necessário ter constância e paciência no ofício de chef, pois somente com persistência lograremos o resultado esperado.

Como apresentado no caderninho de receitas, cada item das quatro virtudes são ingredientes indispensáveis para a conquista de uma vida forte e autônoma. E, para manifestá-los, assim como o presidente Ikeda afirma no trecho do livro, tudo o que precisamos fazer é seguir em frente em nossa convicção na prática budista dia após dia, com ânimo e disposição. Desse modo, evidenciaremos o “eu maior” e experimentaremos profunda gratidão e vasta alegria da fé em meio à dinâmica realidade da vida.

Ikeda sensei diz:

O fator determinantemente crucial para a felicidade é o nosso estado de vida interior.
Aqueles que possuem uma condição existencial interior ampla são felizes. Eles vivem seus dias com um espírito aberto e confiante.
As pessoas com um estado de vida sólido são felizes. Não são vencidas pelo sofrimento e conseguem apreciar tranquilamente a vida, conforme ela vai se desenrolando.
Aquelas possuidoras de um estado de vida profundo são felizes. Glorificando o arraigado significado da vida, conseguem produzir um histórico de valor significativo e duradouro.
As pessoas dotadas de um estado de vida puro são felizes. Elas estão sempre espalhando revigorante alegria aos que estão à sua volta.
Existe um número incontável de indivíduos agraciados pela riqueza, posição social e outros benefícios materiais, mas que são infelizes. E essas circunstâncias externas são mutáveis e inconstantes; ninguém sabe quanto tempo elas vão durar.
Quando, porém, estabelecemos um estado interior inabalável de felicidade, ninguém consegue destruí-lo. Nada pode violá-lo. Edificar esse grandioso estado de vida é o propósito da prática budista. O importante é jamais se afastar do Gohonzon, nunca parar de progredir na fé.6

Então, como bons conhecedores dos ingredientes das “quatro virtudes”, vamos ajustar o xapô (chapéu de cozinheiro), vestir a dólmã (jaqueta utilizada pelos chefs), apertar o avental e preparar um excelente prato; ou seja, a partir da prática budista, dos incentivos do presidente Ikeda e da dedicação às atividades da BSGI, vamos manifestar o “eu maior” e deixar a vida diária reluzente e radiante, mantendo-nos sempre firmes e inabaláveis em todas as circunstâncias da vida.

No topo: Acompanhado dos membros, casal Ikeda apanha e lava verduras após colheita (Shizuoka, Japão, 1971)

Notas:

1. IKEDA, Daisaku. Coragem. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 35.

2. Idem. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 26, p. 113, 2021.

3. Ibidem, p. 114.

4. Ibidem, p. 115.

5. Ibidem, p. 116.

6. IKEDA, Daisaku. Coragem. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 72-73.

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