Construção contínua

Anos atrás, assisti à palestra de um grande diretor de arte brasileiro. Ele já era famoso e havia trabalhado em diversas construções de marcas relevantes. Com o tema “Processo Criativo”, o diretor apresentou não apenas um, mas vários de seus procedimentos, todos bem interessantes. Certa vez, ele precisava criar uma peça para a qual poderia usar praticamente qualquer coisa à sua disposição, e tanta liberdade acabou travando sua criatividade — todos nós passamos por algo parecido, por exemplo, quando vamos a um restaurante com muitas coisas gostosas no menu e não conseguimos escolher. No fim, a questão foi resolvida ao se limitar a construir a peça apenas com círculos.

Ele explicou também o processo de criação de uma de suas obras mais premiadas. Quando criança, no sítio do seu avô, existia uma árvore com uma flor amarela e cheiro bastante característico que se tornou marcante em sua infância. Os anos se passaram e, já aposentado, comprou um sítio e plantou essa árvore para lembrar dos bons momentos com seu avô. Tempos depois, com a árvore florida, recolheu as pétalas caídas e guardou-as em seu ateliê, vetorizando-as posteriormente e utilizando-as na peça premiada.

O processo criativo dessa obra, concluiu ele, começou cinquenta anos antes de ela ser realizada; e para o que vivemos e experimentamos ao longo da nossa vida é o mesmo: tudo é insumo para as tarefas a ser executadas no presente. Devemos estar atentos para saber utilizá-lo.

Como jovem, refleti muito sobre essa afirmação, não apenas do ponto de vista criativo, mas com relação a tudo em minha vida. O que eu estava vivendo, ou já vivi, seria fundamental em meu futuro?

Ikeda sensei sempre orienta os jovens a viver o momento presente, porém visualizando o futuro e a vitória no longo prazo:

É importante não ser impaciente e considerar o resultado em longo prazo. É muito difícil perceber, por exemplo, quanto uma árvore cresceu em um mês ou em meio ano, mas passados vinte ou trinta anos, ela terá crescido e alcançado um tamanho impressionante. Praticamos o Budismo Nichiren para sermos felizes nesta existência e por toda a eternidade; portanto, é ainda mais importante ter uma perspectiva de longo alcance na fé.¹

As limitações, as dificuldades e as experiências de agora e do passado, sem dúvida, se tornarão insumos do processo criativo e da vitória do futuro. Cabe a nós, jovens, estarmos atentos ao que nos acontece, com a decisão de vencer — não importa quando, mas com a convicção de que estou construindo essa vitória neste exato momento, e que essa luta de vitória continuará ao longo de todos os anos da minha vida.

Edjan Souza Santos

Divisão de Tecnologia e Inovação

Nota:

1. IKEDA, Daisaku. Sabedoria. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2020. p. 132.