Crônica
TC
Mil anos de serviços
Colaboração
12/08/2024
No silêncio contemplativo de uma manhã ensolarada, Shakyamuni, o Buda, ponderava sobre a vastidão do conhecimento que ainda ansiava adquirir. O ar ao seu redor parecia vibrar com uma energia serena, enquanto ele se perguntava quem poderia ser o próximo mestre a iluminar sua jornada espiritual. Foi nesse momento de profunda introspecção que um sábio se aproximou, carregando consigo uma promessa de sabedoria, mas com uma condição singular e exigente: “Mil anos de serviços”.
Para muitos, a ideia de mil anos de serviços seria uma barreira intransponível. No entanto, Shakyamuni, um príncipe que nunca havia realizado trabalhos manuais, viu nessa condição uma oportunidade. Ele se alegrou diante do desafio, percebendo que não era o tempo ou a dificuldade da tarefa que importavam, e sim o espírito com que se entregaria a ela. Seu desejo fervoroso de aprender, de ensinar sobre a Lei e de salvar o seu povo o impulsionava a aceitar essa missão com entusiasmo.
A narrativa desses mil anos de serviços transcende a mera narrativa. Não há registros que confirmem se Shakyamuni completou ou não esses serviços, porém, a essência dessa história reside no espírito de procura, na disposição para enfrentar qualquer desafio em nome do aprendizado e da iluminação. Essa disposição, essa alegria em realizar o trabalho independentemente do tempo que duraria, é um testemunho do compromisso de Shakyamuni com a sua missão espiritual.
Esse espírito de procura é uma lição atemporal que ressoa profundamente no coração do budismo. Ele nos ensina que o valor do esforço não está na duração ou na natureza da tarefa, mas na intenção e na dedicação com que nos lançamos a ela. Shakyamuni encarou o desafio com uma alegria digna, refletindo um espírito que todos nós podemos cultivar em nossa vida diária.
Assim, a história de Shakyamuni e os mil anos de serviços se tornam um farol que ilumina nosso caminho, lembrando-nos de que o verdadeiro valor está na jornada e no compromisso com o aprendizado contínuo. É essa busca incessante pela sabedoria e pela transformação que define o espírito do budismo e que nos inspira a cada dia a nos dedicar com alegria e disposição, dignos do espírito de procura.
Ricardo Shin-iti Miyamoto
Diretor-presidente da EBS
Foto: Getty Images
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