Crônica
TC
Juventude eterna
Redação
04/09/2024
Recentemente, conheci uma lenda da mitologia grega sobre um príncipe troiano chamado Titônio.
De acordo com essa lenda, Eos, deusa da aurora, se apaixonou por Titônio e, desejando passar a eternidade ao lado dele, pediu a Zeus que concedesse a imortalidade a seu amado. Zeus atendeu ao pedido, contudo, Eos cometeu um erro crucial: esqueceu-se de pedir também a eterna juventude para Titônio.
Com o passar do tempo, Titônio tornou-se imortal, no entanto, continuou a envelhecer indefinidamente. Ele acabou extremamente velho e frágil, sofrendo por causa da idade avançada, sem jamais poder morrer.
Conforme meus aniversários se acumulam, ano após ano, é impossível não me lembrar das pessoas ao longo da minha vida falando sobre a importância de aproveitar a juventude. Tenho 36 anos, ainda sou muito jovem, e minha saúde e disposição me permitem realizar praticamente tudo o que almejo, apesar de os joelhos já não proporcionarem a mesma segurança de dez anos atrás.
O que mais me preocupa, com o passar dos anos, não é apenas o físico, e sim como minha mente e meu comportamento amadurecem. Por quanto tempo manterei o espírito de busca e a disposição da juventude? Será que são os joelhos e as costas que me impedem de passar a noite em um rolê com os amigos ou já não acho mais tão bacana?
Sinto que a maturidade que a vida nos proporciona nos torna mais sábios e, ao mesmo tempo, mais conservadores em nossas atitudes e ações, gerando uma linha tênue entre correr riscos desnecessários e ser medroso, ter experiência e discernimento, mas se fechar ao novo.
No romance Nova Revolução Humana, escrito pelo Dr. Daisaku Ikeda, o jovem Shin’ichi (personagem do autor na obra) reflete sobre o envelhecimento:
Embora as pessoas tendam a encarar o envelhecimento de forma negativa, como a diminuição das próprias capacidades, na verdade se trata de uma realidade inevitável que todos terão de enfrentar e deve ser considerada um somatório desejável, o ápice de tudo na vida.1
O surgimento de cabelos brancos e a crítica às novas músicas em detrimento daquelas da adolescência podem parecer algo ruim, mas, na verdade, é o resultado da grande busca que fizemos na juventude: crescer, amadurecer e desbravar novas aventuras.
Na sequência, Shin’ichi menciona uma carta que escreveu:
Não considero a juventude algo restrito à idade cronológica ou mesmo ao vigor físico. A verdadeira glória da juventude, a meu ver, consiste em manter as convicções da juventude com a mesma paixão até a morte. (...) Para mim, é muito importante preservar esse tipo de “juventude vitalícia”; e espero nunca perder essa fundamental juventude de espírito.2
O tempo passa, e talvez a tendência de um mortal comum seja, de fato, sucumbir aos estereótipos das pessoas mais velhas. Entretanto, como jovem discípulo do sensei, aprendi, desde a juventude, com o próprio exemplo do Mestre, como me manter jovem.
Cada vez mais nos tornaremos jovens veteranos, porém, definitivamente, não seremos o Titônio da nossa época. Seja aos 30, 50, 60 ou 90 anos, sempre conquistaremos a eternidade com jovialidade a partir das nossas ações e do espírito incansável de busca.
Edjan Santos
Colaboração
No topo: Getty Images
Notas:
1. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 22, p. 54, 2019.
2. Ibidem, p. 55.
Compartilhar nas