Na prática
TC
Fazer surgir o brilho da vida com a “Prática da fé para vencer as dificuldades”
Redação
03/10/2024
No Estudo desta edição, Ikeda sensei faz a seguinte provocação:
Alguns de vocês, meus jovens amigos, podem estar se perguntando por que têm de enfrentar dificuldades, quando se supunha que, praticando o budismo, receberiam benefícios. Talvez pensem que seja melhor nem começar a praticar.1
Vamos entender por que passamos por problemas, mesmo praticando o Budismo de Nichiren Daishonin, e como ultrapassá-los com base na diretriz da Soka Gakkai “Prática da fé para vencer as dificuldades”
Por que eu?
Uma famosa fábula conta que, certa vez, uma barra de metal acertou em cheio uma pedra. Assustada, a pedra perguntou?
— Por que você me castiga? Não me maltrate, deve ter me confundido com outra. Nunca ninguém me quis mal.
A barra então respondeu:
— Se tiver paciência, verá que fruto maravilhoso sairá de você.
A pedra então suportou com serenidade e viu surgir de dentro si o maravilhoso fogo.2
Assim como a pedra e angustiado pelas circunstâncias, você pode estar se perguntando: “Por que eu?”. Por que, mesmo praticando o budismo, passo por isso?
Na fábula, a pedra estava sofrendo com os golpes por uma finalidade: extrair fogo de si. Da mesma forma, as adversidades pelas quais passamos também têm um propósito. Elas são oportunidades para extrair o melhor da nossa vida, a transformação do nosso ser. É em meio às dificuldades que podemos evidenciar a condição de vida do estado de buda e abrir esse caminho para as pessoas.
Reação diante do problema
A teoria é essa. Mas como mudar a condição de vida de “Por que eu?” para “Sim, eu!”?
O primeiro aspecto é a reação diante das questões.
Qual comportamento melhor o caracteriza diante de um problema:
1. Desiste e se conforma, afinal, você é uma pessoa sem sorte.
2. Esquiva-se porque, com o tempo, tudo se resolve.
3. Lamenta e chora no ombro de quem se dispõe a ouvi-lo.
4. Nutre ressentimento e culpa o outro e as circunstâncias.
Essas são atitudes comuns de quem está atravessando uma questão difícil.
A prática do budismo ensina e oferece meios para conduzir a vida em todos os momentos com coragem, ânimo e vitalidade. Assim, não podemos nos permitir ficar apenas nos queixando, alimentando o medo ou presos ao conformismo.
No entanto, reconhecer que existe o problema e que a chave para solucioná-lo está em suas mãos e que cabe a você encontrá-la constitui um passo importante para transformar uma postura passiva em uma atitude proativa.
Com relação à nossa reação diante dos problemas, Ikeda sensei enfatiza:
Da perspectiva da nossa fé e prática budista, devemos responder às dificuldades e às provações ativando o poder da nossa fé e prática, extraindo desse modo os poderes do Buda e da Lei. Essa maneira de reagir aos problemas nos permite “acumular ilimitado e indestrutível ‘tesouro do coração’”3 e desenvolver a capacidade de ajudar muitas pessoas a se tornarem felizes.4
Como orar para o problema
A diretriz da Soka Gakkai de que estamos tratando é “Prática da fé para vencer as dificuldades”. “Prática da fé” significa orar daimoku.
Depois de ativarmos o poder da nossa fé e prática, como o presidente Ikeda ressalta, nosso próximo passo é recitar Nam-myoho-renge-kyo. Nesses momentos, podem surgir incertezas sobre como orar e o que pensar para conseguir vencer aquela dificuldade. Ikeda sensei é claro e direto:
Não há necessidade de complicar demais as coisas. Vocês precisam apenas se sentar diante do Gohonzon e então orar com honestidade e naturalidade por qualquer que seja o problema que estiver incomodando vocês ou causando-lhes sofrimento.5
Ele ainda afirma:
Espero, portanto, que orem pela solução de seus problemas ao Gohonzon. Quando transformamos problemas em oração e recitamos Nam-myoho-renge-kyo, a coragem brota de dentro de nós e a esperança começa a brilhar em nosso coração.6
Somos aliados dos que sofrem
Quando assumimos uma postura proativa diante da dificuldade e recitamos daimoku com forte fé ao Gohonzon, manifestamos essa coragem e esperança descritas pelo nosso mestre para lutar contra as adversidades. Essa alegria advém da elevada condição de vida conquistada.
Agora, vamos ao segundo aspecto sobre qual é a verdadeira causa para passarmos por dificuldades.
Os praticantes do Budismo de Nichiren Daishonin, ao evidenciarem o estado de buda, enxergam a real natureza das questões de sua vida como meios para cumprir sua missão de bodisatvas da terra. Eis a resposta para a questão de “Por que tenho de enfrentar dificuldades, mesmo praticando o budismo”. Ikeda sensei explica:
Para os praticantes do Sutra do Lótus, conquistar a vitória não se restringe ao seu próprio benefício. Constitui o nobre desafio de abrir o caminho da vitória para os amigos que estão lutando contra problemas e incontáveis outras pessoas que virão depois deles nas futuras gerações. Toda sensei dizia: “O Budismo de Nichiren Daishonin é um ensinamento que habilita aqueles que estão diante de adversidades a conquistar a felicidade. Não há ninguém tão forte quanto alguém que enfrentou e venceu árduas dificuldades. Uma pessoa assim pode se tornar um verdadeiro amigo e aliado dos que realmente estão sofrendo”.7
Carma é outro nome para missão
Vamos conhecer a história de uma pessoa que, diante de um comovente drama, se desafiou na prática do budismo e cumpriu sua missão.
Uma jovem senhora veio do Japão para o Brasil com a família para trabalhar na lavoura. Ainda com os filhos pequenos, o marido ficou doente e morreu. Num momento de muita tristeza e desespero, ela conheceu o budismo. A pessoa que lhe apresentou a prática budista falou que a origem do sofrimento dela eram as ofensas que havia cometido em outras existências. Assim, ela só sentia angústia por não saber se seria capaz de suportar seu pesado carma.
Quando ela contou sua história para Ikeda sensei, ele esclareceu que isso era apenas um aspecto desse amplo e profundo ensinamento, mas que nem tudo se restringe ao carma. Então, disse que o Budismo de Nichiren Daishonin vai além dessa noção superficial de causalidade e ensinou sobre o princípio de “carma adotado por desejo próprio” (ganken ogo). Esse princípio explica que os praticantes do budismo, embora tenham acumulado boa sorte para desfrutar uma vida de benefícios, escolhem nascer em circunstâncias desfavoráveis para cumprir a missão de propagar a Lei Mística. E, incentivando a jovem senhora, elucidou:
Por exemplo, se alguém que sempre viveu como uma rainha, sem grandes dificuldades ou problemas, dissesse que se tornou feliz graças à prática do budismo, ninguém lhe daria ouvidos. Contudo, se uma pessoa doente, de família pobre, menosprezada pelos outros, consegue transformar a vida por meio da prática budista, tornando-se feliz e ainda uma líder na sociedade, isso será uma esplêndida prova da grandiosidade do budismo. A senhora não concorda que isso levaria outros a querer praticar o budismo também? Ao vencer a situação de grande pobreza, o praticante consegue transmitir esperança a outras pessoas que enfrentam dificuldades financeiras. Ao adquirir boa saúde e vitalidade, alguém que sempre lutou contra a doença consegue acender a chama da coragem no coração daqueles que enfrentam circunstâncias similares. Ao construir um ambiente familiar feliz e harmonioso, alguém que sofreu com desentendimentos no lar se tornará um líder para outros afligidos por problemas de relacionamento familiar. Da mesma forma, se conseguir se tornar feliz e criar seus filhos de maneira que se tornem excelentes pessoas neste país, cujo idioma sequer fala, a senhora se tornará um exemplo reluzente que inspira outras mulheres que também perderam o marido. Mesmo aqueles que não praticam o budismo irão admirá-la e procurá-la em busca de conselhos. Como vê, quanto maior e mais profundo o sofrimento, mais magnífica será a prova dos benefícios da prática budista. Pode-se dizer que carma é outro nome para missão. Eu sou filho de um pobre beneficiador de algas marinhas. Trabalhei ao lado de Toda sensei durante as amargas provações resultantes da falência da empresa, apesar de estar com a saúde frágil devido à tuberculose. Por ter experimentado dificuldades e sofrimentos como todo mundo, pude assumir a liderança do movimento do kosen-rufu como representante das pessoas comuns.8
Depois do caloroso e esclarecedor incentivo, aquela mulher antes atormentada e sem enxergar uma saída bradou cheia de entusiasmo:
— Sim! Eu serei a pessoa mais feliz!
Na sequência desse diálogo inspirador entre a mulher e Ikeda sensei na reunião de palestra, ele anunciou a fundação do Distrito Brasil, em outubro de 1960.
É graças aos esforços de pessoas anônimas, como essa jovem senhora, que desde a fundação da organização desafiaram seus problemas e dramas e, com isso, inspiraram outras a fazer o mesmo, que hoje praticamos o budismo e celebramos os 64 anos da nossa vitoriosa BSGI!
“Eu venci! Nós vencemos!”
Nascemos para usufruir uma vida feliz e inspirar os outros a trilhar este mesmo caminho. Com uma reação proativa diante das questões e forte oração, podemos vencer até os mais desafiadores problemas. Nossa reação e oração estão assentadas na sólida base da filosofia budista que nos ensina que essa é nossa nobre missão.
Ikeda sensei nos orienta:
Na carta para os irmãos Ikegami, Nichiren Daishonin escreve: “Quando uma rocha é submetida ao fogo, ela simplesmente se transforma em cinzas, mas o ouro se torna ainda mais puro”.9 Essa é uma expressão da profunda confiança de Daishonin nos irmãos. Ele está dizendo que, como praticantes do Sutra do Lótus, eles já são pessoas de “ouro”; portanto, devem se desafiar para superar as dificuldades e fazer sua vida brilhar com força, intensidade e amplitude, assim como o “ouro puro”.10
Vamos decidir também fazer nossa vida brilhar como o “ouro puro”, suplantando todos os obstáculos e ensinando ao outro a “Prática da fé para vencer as dificuldades”. Juntos, vamos bradar: “Eu venci! Nós vencemos!”.
No topo: Getty Images.
Notas:
1. Terceira Civilização, ed. 674, out. 2024, p. 56
2. Adaptado de VINCI, Leonardo da. Fábulas e Alegorias. Seleção e tradução: Bruno Berlendis de Carvalho. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, p. 34
3. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 112, 2017.
4. Terceira Civilização, ed. 605, 19 jan. 2019, p. 50-65
5. Brasil Seikyo, ed. 2.068, 22 jan. 2011, p. A3.
6. Terceira Civilização, ed. 605, jan. 2019, p. 50-65.
7. Ibidem.
8. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 1, p. 241, 2021
9. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 520, 2020.
10. Terceira Civilização, ed. 674, out. 2024, p. 56-57
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