Discurso do Presidente da SGI
BS
Assumindo a liderança do Kossen-rufu mundial a partir de Kanagawa (1)
24/06/2006

Estou realmente muito feliz por retornar ao Centro Cultural de Kanagawa, uma altiva cidadela do Kossen-rufu, após ter comemorado o 75o aniversário da Soka Gakkai com grande vitória. Esta é minha primeira visita após dois anos e dois meses.
A Província de Kanagawa compete com Tóquio e Osaka como grande centro populacional. Ela tem um brilhante futuro. Junto com a Província de Shizuoka, é uma das localidades mais importantes para o nosso movimento em prol do Kossen-rufu aqui no Japão. As pessoas de todo o país, e de fato do mundo inteiro, estão observando com toda expectativa os valorosos empreendimentos realizados por nossos membros em Kanagawa e Shizuoka [que juntas formam a Região de Tokaido na estrutura organizacional da Soka Gakkai].
Com o som dos apitos e das sirenes dos navios ecoando pela Baía de Yokohama, vamos iniciar uma brilhante e vigorosa jornada pelo mar de renovadas vitórias!
Uma multidão de amigos aguardando
No dia 3 de maio de 1979, participei de uma convenção da Soka Gakkai realizada em comemoração do Dia da Soka Gakkai no ginásio da Universidade Soka. Após o término, dirigi-me diretamente para o Centro Cultural de Kanagawa. Eu e minha esposa chegamos por volta das 19 horas. Uma grande multidão de membros de Kanagawa estava esperando para nos cumprimentar. Eles também se amontoavam na ampla escadaria que ficava na frente do Centro e que dava do primeiro para o segundo andar.
Todos nos receberam com um caloroso aplauso.
Por que eu vim para Kanagawa naquela ocasião? Vim para cá para pensar no futuro. Não fui para a Sede da Soka Gakkai nem para nenhum outro local em Tóquio. Estava determinado que a partir daqui do Centro Cultural de Kanagawa, observando o mar, eu embarcaria numa nova batalha em prol do Kossen-rufu mundial. Em vez de me limitar a um pequeno e insignificante país insular que se ressentia de qualquer pessoa que tentasse fazer a diferença, eu assumiria a liderança pelo Kossen-rufu em todas as partes do mundo inteiro! Vim para Kanagawa visualizando o mundo. Além do oceano estão as Américas, a Europa, a África, a Ásia e a Oceania. Minha visão se expandia a cada vez que eu olhava para a água.
Recordando aquela época, havia ao meu redor um turbilhão de ódio e inveja, de intrigas, maquinações e rancor — tudo porque a Soka Gakkai estava conquistando tanto sucesso. Um grupo de bonzos corruptos e intratáveis, que eram contra a Soka Gakkai, estava causando muito tumulto. Enquanto tudo isso acontecia, eu olhava para o mundo de um plano muito mais elevado. A época era apropriada, pensava eu. Agora eu poderia me empenhar com seriedade no estabelecimento de uma sólida base para o Kossen-rufu global.
Nas décadas que se seguiram deste então, o movimento da Soka Gakkai em prol da paz e da cultura difundiu-se por 190 países e territórios. Minha liderança e minhas ações estavam corretas. Se o Sr. Toda ainda fosse vivo, sei que ele ficaria muito contente e que aplaudiria minhas conquistas. Como me sinto triste pelo fato de ele não estar aqui para ver.
O vigoroso apoio de Kansai e Saitama
Eu renunciei à presidência da Soka Gakkai no dia 24 de abril de 1979. Naquela ocasião, alguns membros que estavam profundamente preocupados correram para Tóquio para encontrarem-se comigo, querendo saber por que eu tive de renunciar uma vez que havia sido por causa de minha liderança que a Soka Gakkai e a Nitiren Shoshu haviam conquistado aquele dinâmico desenvolvimento. Essas pessoas foram os Sete Heróis de Kansai, e entre elas estava o líder da Região de Kansai, Takeshi Fujiwara. Os olhos deles brilhavam e toda sua atitude irradiava o forte compromisso de proteger seu mestre. Atualmente, todos estão corajosamente liderando Kansai para conquistar uma vitória sem precedentes. Mas, naquela época, eles derramaram lágrimas de fúria. Nunca me esquecerei do que vi.
Disse-lhes: “Vou abrir uma nova era. Quero que vocês se juntem a mim nesse empreendimento. Daqui a vários anos, todos ficarão admirados com o que conquistamos”. Não há dúvidas de que o clero corrupto e ingrato que havia oprimido a Soka Gakkai pensou que havia conseguido me deixar sem ação. Muitos altos dirigentes da Soka Gakkai haviam abandonado suas convicções naquela época, apesar de posteriormente alguns deles terem se arrependido profundamente, vindo se desculpar comigo pelo que haviam feito.
Mas Kansai se levantou, seguida pelos membros de Saitama, que bradaram com todo vigor: “Por que o clero e a liderança da Soka Gakkai forçaram um presidente que havia conquistado tanto pelo Kossen-rufu a renunciar? Vocês podem chamar isso de ‘renúncia honrosa’, mas a verdade é que vocês o chutaram! Que futuro tem a Soka Gakkai sem o presidente Ikeda? A organização irá acabar!” Essas eram as preocupações deles.
Meu mestre e predecessor, o Sr. Toda, havia deixado esta diretriz: “Protejam o terceiro presidente! Se o protegerem, vocês conseguirão concretizar o Kossen-rufu!” Todos os principais líderes da Soka Gakkai sabiam disso. Além do mais, Nitiren Daishonin ensina que as perseguições e dificuldades são uma honra e devem ser consideradas com paz e tranqüilidade.
Permaneci eternamente fiel ao juramento que fiz ao meu mestre, não importando o quanto a época se torne tempestuosa. Seguirei para sempre pelo caminho da paz, da esperança e do Kossen-rufu com o coração radiante e otimista.
Mantendo o impulso para o avanço do Kossen-rufu
A essência do Budismo de Daishonin está na crença de que “Não avançar é o mesmo que retroceder”. Os dirigentes devem pensar constantemente em como manter o impulso para o avanço do Kossen-rufu. Devem empreender ações incessantemente quando e onde for necessário.
Tanto o presidente Makiguti como o presidente Toda eram, num certo sentido, muito rigorosos e exigentes. Eles prestavam minuciosa atenção aos menores detalhes, em geral para surpresa das pessoas que estavam ao seu redor.
Ser fiel aos princípios básicos da prática da fé é a forma de proteger as excelentes tradições da Soka Gakkai. Se negligenciarem ou se descuidarem das questões básicas, os problemas inevitavelmente surgirão depois. Tudo irá se desmoronar. Quando as boas tradições da Soka Gakkai são mantidas, todos se sentem confiantes e seguros e a liderança apropriada será mantida. Também no campo educacional, as melhores escolas são aquelas que valorizam as excelentes tradições. Espero que nossos dirigentes valorizem as tradições da Soka Gakkai e continuem a se empenhar por um sólido crescimento.
A propósito, hoje (12 de janeiro), está sendo realizada uma conferência executiva em Shikoku, localidade onde os membros compartilham profundos laços com Kanagawa. Dentre os participantes, estão o coordenador da Região de Shikoku, Shingo Takahashi, e a coordenadora da Divisão Feminina, Yuri Matsushita, e também os conselheiros executivos regionais Ryozo Nishiguchi (coordenador-geral da Região de Kansai) e Mihoko Ouchi (vice-coordenadora da Divisão Feminina da Região de Tokaido). Vamos nos unir com o mesmo espírito de nossos membros de Shikoku enquanto realizamos nossa conferência de hoje.
Visita dos membros de Shikoku
Este ano, o Seikyo Shimbun comemora seu 55o aniversário. Sou profundamente grato pelos incansáveis esforços empreendidos por nossos membros de Kanagawa e Shizuoka, e também de Shikoku, para expandir o número de leitores do jornal.
Um artigo publicado numa coluna do Reader’s Voices (Vozes dos Leitores) da edição de 10 de janeiro do Seikyo Shimbum lembrava um episódio que me traz lembranças realmente ternas e felizes. No dia 14 de janeiro de 1980, quase mil membros de Shikoku embarcaram num barco chamado Sunflower 7 e cruzaram os agitados mares do inverno para me visitar aqui no Centro Cultural de Kanagawa.
Isso aconteceu há 26 anos. Com esse evento como ponto de referência e tendo o juramento de mestre e discípulo como força motriz, os membros de Shikoku venceram vários obstáculos e dificuldades e contribuíram grandemente para o desenvolvimento do Kossen-rufu. O artigo publicado na coluna Reader’s Voices traçava essa história de uma forma muito comovente e impulsionou uma grande resposta por parte dos leitores.
O mês de janeiro de 1980 marcou meu primeiro Ano-Novo após ter deixado a presidência. No dia 13 de janeiro, eu estava trabalhando no Centro Cultural de Kanagawa quando, pouco depois das treze horas, chegou de navio o primeiro relatório dos membros de Shikoku. O relatório dizia que mil membros das Províncias de Kagawa, Kochi, Ehime e Tokushima, pertencentes à Região de Shikoku, haviam partido do porto de Takamatsu e estavam a caminho do porto de Yokohama, que fica em frente ao Centro Cultural de Kanagawa. Eles estavam viajando a bordo do reluzente navio branco de passageiros, o Sunflower 7.
Eu e minha esposa oramos sinceramente para que os membros de Shikoku realizassem uma viagem segura. Oramos para que ninguém sofresse de enjôo. Naquele dia, estava frio e nevava em Yokohama. Um sistema de baixa pressão havia se formado na costa leste do Japão, e esperava-se que o mar ficasse revolto. A Sede da Soka Gakkai havia enviado uma mensagem aos viajantes sugerindo que eles cancelassem a viagem, mas a mensagem chegou assim que a sirene do navio anunciou a hora da partida. Dessa forma, os membros iniciaram a navegação, dedicindo confiar na perícia do capitão.
Uma “reunião de dirigentes no navio”
Na “reunião de dirigentes no navio” que eles realizaram durante a viagem, os líderes de Shikoku falavam com vivacidade aos companheiros. Eles lamentaram o fato de que naquele ano os membros não poderiam comemorar com toda alegria o 50o aniversário da Soka Gakkai sob minha liderança. Isso era injusto, afirmaram eles, considerando que a Soka Gakkai havia sido construída pelos três primeiros presidentes. Sentiam-se indignados pelo fato de eu não poder atuar livremente e por não poderem nem mesmo me convidar para ir a Shikoku. Já que era assim, eles disseram que seriam os primeiros do Japão a irem me visitar e a comemorar o 50o aniversário comigo. Eles insistiam em dizer que, onde quer que eu estivesse, esse era o centro e a linha de frente do Kossen-rufu.
Posteriormente, li um registro dessa viagem pelo mar e derramei silenciosas lágrimas em meu coração com a sinceridade deles.
Membros da Divisão de Médicos e dos grupos de enfermeiras, o Shirakaba-kai e o Grupo Shirakaba, acompanharam os membros de Shikoku nessa viagem para cuidar de sua saúde. Os voluntários da Divisão dos Jovens, particularmente os representantes dos grupos Sokahan e Byakuren (Cerejeira), também foram, devotando-se com todo vigor à segurança e ao bem-estar dos membros. Eu também providenciei antecipadamente para que um filme japonês muito apreciado passasse no navio para que os membros tivessem uma viagem mais agradável.
Os membros do Hato-kai (Grupo Altos Mares), formado por membros da Divisão Sênior e da Divisão Masculina de Jovens que trabalham como marinheiros, navegadores e em outras ocupações no mar, também permaneceram gentilmente alerta nas embarcações em importantes pontos ao longo da Costa do Pacífico para proporcionar relatórios regulares a respeito das condições do mar.
Os membros de Shikoku que ficaram em casa recitaram contínuo Daimoku para os viajantes, orando por sua segurança e pelo sucesso da viagem.
As atitudes de todas as pessoas irradiavam a união indestrutível caracterizada pelo espírito de “muitas pessoas com um único pensamento” — uma força contra a qual o clero invejoso não conseguiria nunca superar.
Recebendo os amigos de longe
Cruzando os mares tempestuosos, os membros de Shikoku que estavam no barco chegaram enfim ao cais Osanbashi, em Yokohama, pouco antes das 14 horas do dia seguinte, 14 de janeiro. Num contraste total ao dia anterior, o tempo estava quente e ensolarado.
Consta no Sutra de Lótus: “Se encontrar uma pessoa que aceita e abraça este sutra, deve se levantar e cumprimentá-la de longe, demonstrando-lhe o mesmo respeito que teria para com o Buda”. (LS 28, pág. 324). Nitiren Daishonin chegou a dizer que essa passagem é “o ponto mais importante que ele desejava nos transmitir” (The Register of the Orally Transmitted Teachings [OTT], pág. 192). Eu fiquei esperando no cais Osanbashi segurando um buquê de flores para receber esses amigos que haviam feito tão longa viagem.
Nunca me esquecerei dos rostos dos muitos membros sinceros de Kanagawa que, com o mesmo espírito, reuniram-se no cais vindos de toda a província para receber os membros que chegavam de Shikoku. A banda musical também se uniu para recepcionar os viajantes com retumbantes apresentações de canções da Soka Gakkai.
Às 13h30, foi realizada uma reunião de intercâmbio entre os dirigentes de Shikoku e Kanagawa no Centro Cultural de Kanagawa. Os membros de Shikoku que haviam ansiosamente feito aquela longa viagem pelo mar estavam transbordantes de orgulho e dignidade, assim como os membros de Kanagawa que os recepcionaram com todo o entusiasmo. Como todos pareciam admiráveis! Toquei várias canções para eles ao piano, incluindo “O Grande Herói Kusunoki” e “Os Três Mártires de Atsuhara”. Foram formados profundos laços de coração entre todos os presentes. Foi uma ocasião dourada e de intenso significado.
Às 19 horas daquele dia, os membros de Shikoku voltaram novamente para casa de navio. Eu e minha esposa os vimos partir, acenando com lanternas da janela do Centro Cultural de Kanagawa até que o navio estivesse fora de vista. Naquela mesma noite, às 23h30, e outra vez às nove horas da manhã do dia seguinte, eu liguei para o navio para verificar a segurança dos membros e o progresso da viagem. Também lhes enviei mensagens para que fossem transmitidas para os membros quando chegassem em casa.
Mesmo apesar de o navio ter aportado em Shikoku, muitos dos membros, tais como os da Província de Koti, tinham ainda uma distância considerável para percorrer até chegarem em casa. Minha esposa também continuou a orar até que todos eles tivessem voltado em segurança.
Posteriormente, soube que o capitão do navio disse: “Foi a primeira vez que transportei membros da Soka Gakkai. Não tenho como expressar em palavras, mas foi uma experiência muito revigorante. Naveguei com muito cuidado, determinado a evitar que nem mesmo um de meus passageiros ficasse com enjôo”.
Temendo a reação do clero, o Seikyo Shimbun publicou a reportagem de uma reunião de intercâmbio que havia sido realizada, mas não escreveu nem uma palavra sobre meu encontro com os membros de Shikoku. No entanto, apesar disso, eu e os membros compartilhamos um magnífico drama de mestre e discípulo que ninguém jamais poderá tirar de nós.
Posteriormente, em maio daquele mesmo ano, duas outras grandes delegações formadas cada uma por mil membros de Shikoku — uma da Província de Tokushima e a outra da Província de Ehime — foram para Kanagawa de navio. Também recebi calorosamente aqueles membros, e nunca me esquecerei de nossos encontros.
Depois, dei a esses três grupos de enviados de Shikoku o nome de “Três Mil do Pacífico”. Quando a Soka Gakkai estava enfrentando seu mais sério desafio, esses sinceros membros de Shikoku criaram uma gloriosa e profunda página da história comigo. Podemos dizer o mesmo de todos os nossos membros de Kanagawa e Shizuoka — de toda a Região de Tokaido.
Sem temer as dificuldades
O magnata do aço e filantropo americano Andrew Carnegie (1835–1919) disse: “Há épocas na vida de muitos homens que testam se eles são escória ou puro ouro. É a decisão tomada num momento de crise que prova quem o homem é”.1 Aqueles que são verdadeiramente capazes brilham nas ocasiões difíceis.
O poeta Lucrécio, da antiga Roma, escreveu: “Assim é mais útil investigar um homem que está em perigo e discernir na hora da adversidade que tipo de pessoa ele é: pois somente então as palavras de verdade são tiradas bem do fundo do coração, a máscara é rasgada e o homem permanece”.2 Como isso é verdadeiro.
Em Vida dos Homens Ilustres, de Plutarco, encontramos a seguinte observação: “Mas o espírito verdadeiramente nobre e decidido levanta-se por si só e se torna mais notável em ocasiões de desastre e má sorte”.3 Estar pronto para enfrentar as dificuldades — esse é o espírito da Soka Gakkai. Conforme Daishonin escreveu: “Quanto piores forem as adversidades que recaírem sobre ele [o devoto do Sutra de Lótus], maior será a alegria que sentirá devido a sua forte fé”. (Os Escritos de Nitiren Daishonin [END], vol. I, pág. 81.)
Os nobres membros de Shikoku que me visitaram naquela época estão indelevelmente gravados nas profundezas de meu ser para todo o sempre. Nunca me esquecerei daqueles que se levantaram em meio à época mais triste e difícil. Aqueles membros que viajaram para Kanagawa são atualmente os líderes centrais de nossa organização em Shikoku, desbravando o caminho para o Kossen-rufu. Estou muito contente em observar sua intrépida liderança. Também recito Daimoku todos os dias por aqueles que já faleceram.
Os filhos, netos e companheiros de todos esses nobres membros de Shikoku estão seguindo os passos deles com respeito, gratidão e orgulho, saudando-os como pioneiros que incorporam o espírito de mestre e discípulo e participaram dessa famosa jornada a bordo do Sunflower 7.
As pessoas que permanecem no caminho de mestre e discípulo, seguindo a rota do Kossen-rufu por toda a viagem da vida, brilharão eternamente com glória e orgulho.
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