Estatuto da Soka Gakkai: alteração no artigo referente à doutrina

Introdução

Em novembro de 2014, um ano após a inauguração do Auditório do Grande Juramento pelo Kosen-rufu, a Soka Gakkai promoveu uma revisão no seu estatuto, mais especificamente no artigo referente à doutrina religiosa.

Na edição do dia 8 de novembro do Seikyo Shimbun, foi publicado um texto com as palavras do presidente Minoru Harada, proferidas na Conferência Nacional de Coordenadores-Gerais de Província, realizada no dia anterior, que explicam o significado dessa revisão estatutária.

Mais tarde, nas edições dos dias 29 e 30 de janeiro de 2015 do mesmo jornal, foi veiculada uma matéria, elaborada pelo Departamento de Estudo do Budismo da Soka Gakkai — que desenvolve explicações e comentários a respeito desta revisão —, esclarecendo diversos pontos com base na doutrina do Budismo de Nichiren Daishonin.

Este suplemento do Brasil Seikyo apresenta esses textos devidamente traduzidos e revisados para a língua portuguesa com o intuito de esclarecer essa questão (revisão no artigo referente à doutrina religiosa) a todos os associados da BSGI.

Essa revisão estatutária, realizada às vésperas do significativo ano de 2015, em que se comemora o 85º aniversário de fundação de nossa organização, os 55 anos da posse do presidente Ikeda como seu terceiro presidente e os 40 anos de estabelecimento da SGI, visa tornar ainda mais clara a natureza religiosa independente da Soka Gakkai, como também adequar o texto do estatuto à realidade da nova era do kosen-rufu mundial que seja consistente com o atual aspecto da prática da fé desenvolvida em nossa organização.

Breve histórico da Soka Gakkai

A Soka Gakkai foi fundada no dia 18 de novembro de 1930 pelo professor Tsunesaburo Makiguchi. Na ocasião, denominada Soka Kyoiku Gakkai, a organização foi estruturada de forma gradativa e começou a atuar efetivamente em 1937 com educadores que simpatizavam com o sistema educacional Soka (“criação de valores”). Depois, passou a ser composta por pessoas de outras áreas e se tornou uma organização de leigos praticantes do Budismo de Nichiren Daishonin.

Nessa época, a Nichiren Shoshu, com sede no templo Taiseki-ji, era uma pequena entidade religiosa formada por clérigos cujos adeptos compunham uma espécie de paróquia em torno de templos locais e recebiam orientação de seus sacerdotes priores. No entanto, desde a fundação, a Soka Kyoiku Gakkai estabeleceu-se como instituição independente da Nichiren Shoshu. Com o presidente Makiguchi e o diretor-geral Josei Toda, a organização permaneceu como entidade leiga autônoma e seus integrantes receberam orientações sobre a prática do budismo por intermédio da liderança deles, sem se subordinarem ao clero da Nichiren Shoshu.

Em 3 de maio de 1951, Josei Toda tomou posse como segundo presidente da Soka Gakkai e objetivou concretizar 750 mil novas famílias convertidas ao budismo no Japão. A partir de então, foi iniciada uma fase de extraordinário desenvolvimento do kosen-rufu pelo presidente Josei Toda e seu discípulo, o jovem Daisaku Ikeda.

Os novos membros que se associavam à Soka Gakkai se tornavam, ao mesmo tempo, adeptos de templos da Nichiren Shoshu onde recebiam o Gohonzon.

Apesar de a Soka Gakkai ser constituída como entidade leiga independente, o presidente Josei Toda se empenhou em proteger o clero da Nichiren Shoshu na esperança de estabelecer a harmonia entre clérigos e adeptos leigos.

Em 1952, quando a Soka Gakkai já estava com uma estrutura mais forte, Josei Toda organizou peregrinações ao templo Taiseki-ji para os membros apoiarem o clero a solucionar a situação financeira caótica em que se encontrava e elaborou também um projeto de construção de templos locais.

Após assumir como terceiro presidente da Soka Gakkai, Daisaku Ikeda continuou a proteger o clero. Assim, ele promoveu a construção do Daikyakuden e do Sho-Hondo (ambos destruídos mais tarde pelo sumo prelado Nikken) nas áreas do templo Taiseki-ji, além de erguer mais de 350 templos locais.

A problemática do clero

Ao longo dos anos, ocorreram atritos entre o clero da Nichiren Shoshu e a Soka Gakkai, devido à natureza autoritária dos clérigos. Todas as vezes a situação era contornada com a iniciativa da Soka Gakkai de manter a harmonia entre clérigos e adeptos. Dentre esses atritos, destacam-se dois:

O primeiro foi no fim da década de 1970, quando um grupo de clérigos da Nichiren Shoshu atacou de forma injustificada a Soka Gakkai para persuadir os membros a se afastarem da organização e se tornarem adeptos diretos dos templos (Danto).

O segundo aconteceu em dezembro de 1990. Nessa ocasião, o clero da Nichiren Shoshu, sob a liderança do sumo prelado Nikken, atacou repentinamente a Soka Gakkai com críticas e difamações infundadas. Sem qualquer justificativa, o clero destituiu o presidente Ikeda e os líderes da Soka Gakkai da função de coordenadores da Hokkeko (Associação de Leigos da Nichiren Shoshu), publicando unilateralmente tal comunicado em jornais de grande circulação da sociedade japonesa. Na verdade, o clero estava pondo em ação um plano arquitetado por Nikken para destruir a organização e usurpar seus membros. Essa estratégia ficou conhecida como “Plano C” (a letra “c” é a inicial da palavra cut — “cortar”, em inglês —, indicando o ato de “cortar a Soka Gakkai”).

A direção do clero recusou todos os pedidos dos líderes da Soka Gakkai de dialogar sobre a problemática numa tentativa de encontrar soluções. Em 28 de novembro de 1991, o clero excomungou os membros da Soka Gakkai, negando-lhes a concessão do Gohonzon. A partir daí, a Soka Gakkai se tornou, de fato, uma entidade totalmente independente do clero da Nichiren Shoshu. Essa data foi considerada pelo presidente Ikeda como o dia da libertação e da independência espiritual da Soka Gakkai.

Em 1993, a Soka Gakkai adotou o Gohonzon transcrito por Nichikan Shonin, promovendo a concessão do objeto de devoção aos membros do mundo inteiro. Dessa maneira, ela se tornou uma instituição independente do clero em todos os aspectos e assinalou um grande avanço como organização promotora do kosen-rufu, diretamente ligada a Nichiren Daishonin.