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Conheça o Budismo

Corra, seja feliz e viva por ideais nobres

“Vamos correr incansavelmente, com vigor e jovialidade, rumo à nossa meta do juramento seigan”

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28/10/2017

Corra, seja feliz e  viva por ideais nobres
1 — Vencendo os íngremes rochedos,

Seguindo pelas vastas planícies do céu,

Varando negras florestas,

Sempre correndo,

Avança o jovem Melos.

Autonomia, liberdade, força, amizade e lealdade.

Correr em alta velocidade construindo e reconstruindo o destino. Correr em direção aos amigos, incentivá-los com generosidade e criar redes de vidas vitoriosas e fortes — assim é a ativa vida de um membro da SGI.

“Quem se empenha em prol do kosen-rufu com máxima dedicação desfruta uma condição de vida de autonomia e liberdade tal qual um grandioso rei por toda a vida e pelas existências futuras”, afirma Ikeda sensei (BS, ed. 2.296, 24 out. 2015, p. A2).

Oposto ao “rei da Lei Mística” é o monarca do conto Corra, Melos! do escritor japonês Osamu Dazai (1909—1948). Ikeda sensei leu essa história para as participantes de uma reunião do Grupo Kayo em 1966.

2 — Ele corre.

Corre para cumprir seu juramento

Feito ao amigo e mostrar confiança.

Para sustentar veloz

A elevada pureza de coração,

Melos corre!

Corra, Melos! é a história de um rei tirano e cruel que havia perdido a fé na bondade e na lealdade dos seres humanos.

O jovem camponês Melos se rebela contra o rei, demonstrando ira contra atos de injustiça praticados pela realeza. Por causa disso, é preso e sentenciado à morte.

O jovem tinha um último desejo antes da execução: ir à vila onde morava para assistir ao casamento da irmã mais nova. O malvado rei o chantageia: “Vá mas deixe um refém em seu lugar”.

Serinuntius, o grande amigo de Melos, imediatamente se voluntaria. Melos vai para a sua vila e jura voltar em três dias, antes de o sol se pôr. Ikeda sensei reflete: “Se mantivesse o compromisso, seu amigo seria libertado e ele, executado. Melos retornaria no tempo determinado ou trairia seu amigo para salvar a própria vida?” (Terceira Civilização, ed. 539, 17 mar. 2009, p. 38).

3 — Não vê as árvores verdejantes,

Nem se lembra das

agitadas ruas da cidade.

Não olha as nuvens prateadas.

Igual ao vento impetuoso, ele corre!

O rei não acreditava no valor do juramento nem na solidez da amizade e sugeriu a Melos que não voltasse: “— Deixe que seu amigo seja morto, pois assim obterá sua liberdade”, balbuciou o tirano.

Melos assistiu ao casamento da irmã e iniciou seu retorno.

Ele corria e corria superando vários obstáculos impossíveis. Em sua mente, apenas o desejo de corresponder ao amigo. Mas a caminhada era muito penosa. Já na metade da jornada, não havia mais forças em seu corpo. Não conseguia dar nenhum passo. Caiu ao chão, chorando. Em sua mente, ele pensava, desesperado: “Oh! Você chegou até aqui, venceu as correntezas e os bandidos terríveis que queriam lhe derrotar a todo custo. Como pode ser tão covarde? Seu estimado amigo morrerá por ter confiado em você. Você será o homem mais mesquinho e covarde deste mundo. Será tal qual o rei desejou” (Ibidem).

Melos se autorrepreendia, se martirizava, pois queria forças para continuar. Porém, seu corpo exausto não obedecia. Não conseguia se mover.

4 — Ele galga as ondas dos rios,

Envolto pelos mantos da Verdade,

Orando para alguma grande entidade

Cujo poderio não compreende.

Tudo o que ele faz é correr, correr!

Melos, vivendo aquele tormento, continua sua reflexão:

“Quando o cansaço é muito grande, atinge até a consciência. Os maus pensamentos, impróprios a um herói, tomam conta da pessoa. Eu me esforcei tanto! Jamais pensei em não cumprir minha promessa. Corri até não poder mais. Não sou covarde. Oh! Se pudesse, abriria meu peito e mostraria meu coração. Este coração que pulsa com o sangue do amor e da sinceridade. Porém, sou um homem infeliz” (Ibidem).

Trair a confiança do amigo era inadmissível. Ele queria forças para continuar, sua alma desejava continuar, mas não conseguia. Sua mente continuava vivendo aquele drama:

“Todos rirão de mim. Minha família também será desprezada. Eu traí a confiança de um amigo. Fraquejar no meio do caminho é o mesmo que ser derrotado desde o começo. Oh! Não há remédio. Talvez seja o meu destino. Serinuntius, perdoe-me. Você sempre confiou em mim. Eu também nunca o traí. Sempre fomos amigos. Nunca fomos atacados pela desconfiança, nem mesmo por um instante. Mesmo agora creio que esteja me esperando. Obrigado, Serinuntius. Muito obrigado por ter tanta confiança em mim! Quando penso nisso, fico desesperado. Serinuntius, corri, jamais pensei em traí-lo. Creia-me, corri como um louco. Outra pessoa não conseguiria chegar aonde cheguei... Agora, nada mais me importa. Deixe-me. Fui derrotado. Sou mesmo fraco. Ria-se” (Ibidem).

5 — É uma corrida em direção

à morte do mundo.

É uma corrida para o eterno renascer.

Jovem Melos!

Te afastaste do mundo dos homens,

Repleto de falsidades e desilusões

E buscaste uma vida nova

A mais sublime, mais pura.

Cumprir um juramento a um amigo traz alegria cristalina. Ao contrário, trair um amigo leal desperta as sombras na alma. Melos continuava prostrado e já admitia a derrota:

“Serinuntius, eu morrerei também. Deixe-me morrer junto com você. Sei que acredita em mim, apesar de tudo, não é? Ou será que isso é apenas otimismo da minha parte? Oh! Não! Talvez eu viva como um traidor. Tenho uma casa na aldeia. Quem sabe minha irmã não me expulse de lá. Justiça, sinceridade, amor. Pensando bem, tudo isto é bobagem. Mate outra pessoa para viver. Não seria esta a lei deste mundo dos homens? Tudo é bobagem. Sou um traidor desprezível. Façam como quiserem” (Ibidem).

6 — Saudoso da tua terra querida,

Fiel ao conchego da família,

Sentimentos maldosos

brotaram no seu íntimo

E por algum tempo dominaram

O homem bravo que a nada se submetia — e naqueles dias, eu imagino,

Sentiste as tuas frustrações

E te debateste com os

sonhos enganosos

Que em secreto

tentavam o teu coração

Para os prazeres e as delícias.

Tomado de dores no corpo e fraco, desfalece. Chorando, se vê estendido ao chão. Não havia tempo, o amigo seria morto; não havia forças, só lhe restava esperar e viver pela eternidade com o arrependimento amargo da deslealdade.

7 — Mas Melos se reergueu

Com a paixão da juventude

Que arde pela justiça

E transcende o doce fascínio

De sonhos sedutores.

Ao fundo, ouviu o murmurar de uma correnteza.

Apoiando-se no último fio de esperança que havia, se levantou e cambaleando foi até a água que surgia de uma rocha.

Tomou um gole. E mais outro. Um longo suspiro pareceu lhe acordar de um pesadelo.

Conseguiu dar alguns passos, recobrar a energia. Embora uma luz fraca ainda, sentiu a esperança se renovar. Conseguiu andar. Recobrando a energia, viu renovar o ânimo. Começou a correr novamente.

8 — Ele venceu a si próprio.

Já faz tempo, o caminho da conversão

Foi ameaçado por laços afetivos

Difíceis de romper

Ou pelo medo de dores duras de suportar

— e em desespero ele recuou um passo.

Foi quando surgiu a lógica da autojustificação,

Que o levou a recuar ainda mais.

Cada passo chamava outro. Era a esperança que surge da ânsia de cumprir o dever, de dar a vida pela honra. Ele bradava:

“Alguém me aguarda, confiante, sem duvidar um pouco sequer. Não me pertenço. Minha vida nada vale. Não posso pensar em ser perdoado se morrer aqui. Devo recompensar a confiança em mim depositada. No momento, isso é o mais importante. Corra, Melos! Alguém confia em você!”

Corra, Melos! Corra além das suas forças. O tempo era bem curto e o pôr do sol já se aproximava. Mas ele, agora revitalizado, avançava sem temor, consciente de que havia superado a dúvida:

“Aquele pensamento que me ocorreu há pouco foi o sussurro de um demônio, um pesadelo que eu tive. Devo esquecer. Agora sim, poderei morrer como um herói. Oh! O sol já vai desaparecer. Espere-me! Oh! Desde que eu nasci, fui um homem honesto. Quero morrer como tal” (Terceira Civilização, ed. 539, 17 mar. 2009, p. 38).

9 — Se ninguém me acompanha, pouco importa.

Vendo as coisas como são,

Fortalecido por pensamentos

Serenos e profundos,

De olhar fito em minha própria missão,

Sigo com os que lutam pela justiça.

Melos corria desesperadamente; empurrava as pessoas com a fúria de uma onda implacável. Corria, corria. Ikeda sensei narra: “No momento em que o último clarão do dia se extinguiu e o amigo Serinuntius seria sacrificado, Melos entra correndo no local da execução” (BS, ed. 2.392, 21 out. 2017). Ele bradou:

“— Guarda, sou eu! Sou eu quem deve morrer. Sou Melos, quem fez deste homem um refém. Estou aqui.”

Gritando com o máximo de suas forças, ele pulou até o local da execução do amigo e agarrou-se aos seus pés. Era uma cena de tirar o fôlego, tamanha a intensidade e emoção.

10 — Mas posso dizer:

Na indolente facilidade

Dos que rejeitam os amigos

Um remorso morderá

Até o fim da vida.

— Serinuntius!, disse Melos com os olhos marejados. Bata-me com força. No meio do caminho tive um mal pensamento. Se não me bater, não terei o direito de abraçá-lo. Bata!

Serinuntius concordou e o esbofeteou fortemente. E sorrindo disse:

— Melos, bata-me também com o mesmo ardor que lhe bati. Nesses longos dias de espera, por um instante, duvidei de você. Se você não me bater, não poderei abraçá-lo.

Melos esbofeteou-o com toda a força. Os dois amigos se abraçaram falando ao mesmo tempo:

— Obrigado, amigo.

Depois, choraram de alegria. “A sinceridade havia vencido a desconfiança”, afirma Ikeda sensei.

11 — Antes de viver pelos lamentos escondido num beco,

Forçando sorrisos desolados,

Prefiro morrer pela verdade.

O povo chorava também. O rei tirano, que assistia à cena do meio da multidão, aproximou-se e disse:

— Vocês venceram. Venceram meu coração incrédulo. Agora sei que a sinceridade não é mera ilusão sem fundamento. Por favor, façam de mim um companheiro de vocês. Peço-lhes de coração, permitam-me ser seu amigo.

Esse conto Corra, Melos! aguça o sentimento de lealdade em relação à verdade, à justiça, aos amigos e, no nosso caso como membros da SGI, a cumprir o juramento seigan exatamente conforme o mestre ensina.

12 — Basta uma única pessoa.

Alguém que resista

À avalanche que tudo arrasta.

Ikeda sensei, pouco antes de ler o conto Corra, Melos! para as integrantes da DFJ, disse com profunda emoção:

“Gostaria de dedicar esta história a todas vocês como um tributo ao Grupo Kayo. O espírito que ela retrata reflete minha própria história, meu futuro e minha determinação. Lutem sem medo em suas batalhas pessoais!” (BS, ed. 1.957, 27 set. 2008, p. A3)

Ser fiel à si mesmo nas batalhas diárias significa não ter medo de acreditar que os fenômenos são passageiros e que, portanto, tudo mudará para melhor se tivermos a coragem de continuar a recitar daimoku com forte esperança no ser humano.

13 — Se ninguém resistir,

A Verdade continuará vencida

E a História será simplesmente

Uma procissão de falsidades.

Ikeda sensei relata de forma emocionante como ele mesmo se tornou “Melos da Lei Mística”, ou seja, um jovem apaixonado pela missão que escolheu na vida que jamais abandona o Gohonzon, o mestre e os amigos. Ele afrima:

“Quando a empresa de Toda sensei passava por uma crise e a própria sobrevivência da Soka Gakkai estava ameaçada, corri como Melos para proteger meu mestre. Durante a Campanha de Osaka de 1956, lutei e venci com inabalável determinação, como se fosse o próprio Melos. Após o falecimento de Toda sensei, venci cada violenta tempestade de adversidade e corri incansavelmente para comprovar ao mundo inteiro a verdade e a vitória da Soka Gakkai. Com o incansável espírito de Melos, me dediquei a cumprir o juramento que havia feito ao meu mestre como seu discípulo. Como Osamu Dazai proclamou: ‘Faça a coisa certa sorrindo!’” (BS, ed. 1.957, 27 set. 2008, p. A3)

14 — E jamais esquecerei estas palavras:

“Caminhando com a Verdade,

Fenecem as obsessões

De suspeitas e de intrigas,

Floresce a grandeza humana”.

Ser fiel à Lei Mística é o mais importante, é a forma mais pura de viver que rende os maiores benefícios. A lealdade à própria vida sintoniza nossa existência ao ritmo harmônico do universo e isso aflora alegria, serenidade e compaixão.

Grande força é a

fidelidade universal,

uma verdade imutável

Ikeda sensei conclui:

“No momento em que recua um passo, surge toda aquela argumentação de autojustificativa, que faz a si próprio recuar ainda mais.”

“Não sejam abalados pelas diversas tentações que surgem na vida! Não sejam derrotados pela sua própria indolência! Quero que de maneira esplêndida percorram até o fim o caminho do juramento que estabeleceram em sua vida, seu caminho da missão!”

“O juramento pelo kosen-rufu feito com um amigo significa também jurar a si mesmo, e se inicia a partir do levantar-se só para sua missão.”

“Mesmo que o amigo venha a tombar no meio do caminho ou que desista ou abandone seu juramento, é necessário percorrer até o fim o caminho da fé que determinou seguir.”

“Mesmo que Serinuntius bradasse contínuas ofensas contra Melos no local de execução, tomado pela desconfiança e ira em relação ao amigo, Melos certamente teria continuado a correr para salvá-lo.”

“E ainda que Melos desistisse de retornar e fugisse, Serinuntius acreditaria até o fim em seu amigo, pensando que Melos talvez tivesse sido morto em alguma emboscada tramada pelo rei e louvaria a vida do amigo.”

Osamu Dazai, escreveu que ‘Melos correu arrastado por uma grande força que nem mesmo ele compreendia’. A ‘grande força’ é a fidelidade universal dos seres humanos, uma verdade imutável.” (BS, ed. 2.392, 21 out. 2017, p. C3)

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