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Caderno Nova Revolução Humana

Despertando para a sua missão de bodisatva

Capítulo “Sino do Alvorecer”, volume 30.

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Ho Goku

07/12/2023

Despertando para  a sua missão de bodisatva

PARTE 63

Partindo de Nova York, Shin’ichi Yamamoto chegou ao aeroporto internacional de Toronto (posterior aeroporto internacional Pearson de Toronto), no Canadá, pouco depois de 16 horas (horário local) do dia 21 de junho. No aeroporto, tendo à frente o diretor-geral do Canadá, Lou Hiroshi Izumiya, e sua esposa, a presidente do conselho de orientadores, Eli Teruko Izumiya, um grande número de membros recepcionou a comitiva com um buquê de flores e bandeiras do Canadá.

A ida de Shin’ichi ao Canadá ocorria 21 anos depois de outubro de 1960, ocasião em que ele visitou Toronto durante a sua primeira viagem ao exterior. Relembrando aquela vez, a única pessoa que recebeu a comitiva no aeroporto foi Teruko Izumiya, que ainda não era convertida. Em março daquele ano, Teruko Izumiya havia se casado com um canadense, descendente de japoneses de segunda geração, Hiroshi Izumiya, que trabalhava em uma empresa comercial. E, em abril, ela se mudou para o Canadá. Na manhã do dia em que Shin’ichi desembarcaria nesse país, ela recebeu uma carta aérea de sua mãe, que era membro da Soka Gakkai no Japão. Nela constava sobre a visita do presidente Yamamoto ao país e pedia para que ela recebesse sem falta a comitiva no aeroporto.

A princípio, ela ficou na dúvida se deveria ir, pois não se sentia muito bem devido à gravidez. Além disso, tinha receio de que fizessem shakubuku nela. A mãe relatava-lhe sobre benefícios da prática, mas ela os sentia como superstição e algo antiquado. Assim, tinha certa resistência à prática budista. Ao mesmo tempo, sentia que se não fosse ao aeroporto seria ingrata com a mãe, desprezando a vontade dela. E assim, resolveu dirigir-se até lá.

Shin’ichi expressou profunda gratidão por ela tê-los recebido e conversou sobre a situação do seu lar, entre outros assuntos. Falou sobre o porquê da importância da prática religiosa na existência de uma pessoa, explicando que o budismo era a lei da vida.

Um ano e sete meses depois, ela que tinha saúde frágil decidiu por si só iniciar a prática budista, desejando ser saudável. Não queria causar preocupações ao marido por causa da saúde e tinha o sentimento de tranquilizar a mãe com a sua conversão.

Quando a semente da Lei Mística é plantada no coração, no momento propício, com certeza ela acaba germinando. O importante é criar nas pessoas do seu convívio a relação com o Buda, plantando a semente.


PARTE 64

A pintora e escritora canadense Emily Carr manifesta sua disposição: “Eu me levanto só” e “Com minhas próprias pernas, resolutamente”.1

Ao iniciar a prática budista, Teruko Izumiya começou a realizar reuniões sozinha. Com base no jornal Seikyo Shimbun que recebia do Japão, ela promovia diálogos sobre o budismo com as pessoas que conhecera, visitando-as.

Para participar de atividades da organização, era precioso viajar longas distâncias de ônibus ou de avião, ultrapassando as fronteiras entre países, chegando a cidades como Buffalo e Nova York, Estados Unidos. O marido apoiava a prática dela, muitas vezes conduzindo-a de carro nas viagens. Porém, ele não queria praticar o budismo. Hiroshi Izumiya, seu esposo, nascera em 1928, nas ilhas Vancouver, Canadá. Seu pai, originário da província de Wakayama, havia se mudado para o Canadá onde vivia com a família como pescador.

Em 1941, com o início da Guerra do Pacífico, o Japão se tornou um país inimigo do Canadá, que era colônia da Inglaterra. No ano seguinte, os japoneses foram presos em um campo de detenção localizado nas Montanhas Rochosas do Canadá. Na época do rigoroso inverno, a temperatura chegava a menos de 20 graus Celsius negativos.

Alguns jovens japoneses chegaram a manifestar aspiração em pertencer ao Exército canadense como forma de demonstrar lealdade a esse país. Esses foram considerados traidores, e entre os próprios japoneses começaram a existir rusgas, rompendo a fraternidade entre eles.

A guerra chegava ao fim. Porém, os japoneses não possuíam mais casas para as quais retornar. Assim, eles foram forçados a decidir entre a volta ao Japão e a mudança para o lado leste. O pai de Hiroshi já passava dos 70 anos e possuía o sentimento de encerrar a vida no Japão. Dessa forma, a família retornou para a província de Wakayama, terra natal do seu pai.

Mais tarde, Hiroshi mudou-se para Tóquio. Ele decidiu pela continuidade do curso superior e passou a se dedicar aos estudos trabalhando no comércio localizado em uma base das forças de ocupação. Esforçou-se em estudar a língua japonesa que não era tão familiar para ele e, por fim, conseguiu ser aprovado para prosseguir com seus estudos no curso de economia da Universidade Keio. Após a formatura, passou a trabalhar em um banco de capital estrangeiro, porém começou a cultivar o desejo de voltar para o Canadá e trabalhar ajudando a estreitar as pontes da amizade com o Japão. Assim, ele foi trabalhar em uma empresa japonesa com filial em Toronto. As pessoas que sofreram com a guerra possuem a missão de viver pelo bem da paz. 


PARTE 65

Em 1960, a empresa onde Hiroshi Izumiya trabalhava estabeleceu-se como entidade jurídica oficial no Canadá. Naquele ano, ele se casou com Teruko, a qual conheceu no Japão. Na primavera do mesmo ano, ela se mudou para o Canadá, e quando da primeira visita de Shin’ichi Yamamoto àquele país, recebeu a comitiva no aeroporto de Toronto.

Teruko, que se converteu ao budismo algum tempo depois, passou a manifestar o sentimento de viver em prol do kosen-rufu do Canadá. Embora o esposo a apoiasse nas atividades da organização, o fato de ele não praticar o budismo era uma preocupação para ela.

Em outono de 1964, ela foi ao Japão e visitou a sede da Soka Gakkai em busca de Shin’ichi, levando uma adorável menina pelas mãos chamada Karen. Era a filha que quatro anos antes o recebeu em Toronto ainda na barriga da mãe.

Certamente, para Teruko, que começou a praticar o budismo no Canadá, havia muitos sofrimentos e tristezas. Com lágrimas nos olhos, ela começou a falar. Meneando a cabeça diversas vezes ao ouvi-la, Shin’ichi disse-lhe então com uma voz firme:

— O dia a dia deve estar repleto de coisas difíceis. Mas à luz dos sutras e dos escritos de Nichiren Daishonin, a senhora se encontra nas terras do Canadá, como bodisatva da terra, por ter feito por si mesma seu juramento seigan no remoto passado de promover o kosen-rufu. Despertando para essa missão de bodisatva da terra, deve decidir que vai cumpri-la até o fim. Tenha a convicção de que esta é a existência mais nobre e aí se encontra a suprema alegria e plenitude, como também a mais elevada felicidade. As pessoas possuem os mais variados destinos. A vida é um período em que não se sabe o que acontecerá. E mesmo as pessoas que pareçam ser as mais afortunadas não conseguem solucionar a questão do envelhecimento, da doença e da morte, e guardam no coração a intranquilidade e os sofrimentos. Nós estamos trabalhando em prol de um empreendimento sagrado, sem precedentes, que nunca ninguém conseguiu realizar, de ensinar sobre como estabelecer o caminho da inabalável felicidade absoluta na vida e promover a transformação do destino da sociedade, do país e da humanidade. Pensando dessa forma, não é natural que surjam muitas dificuldades e sofrimentos? A ilusão acovarda as pessoas. Deve estabelecer claramente sua decisão no fundo do coração. Quando fizer isso, nascerá uma coragem e uma força ilimitadas.



PARTE 66

Quando a decisão é firmemente estabelecida no coração, cria-se um eixo do modo de viver. Essa única pessoa se torna o eixo da organização e inicia-se o giro da engrenagem do kosen-rufu.

Shin’ichi disse ainda para Teruko Izumiya a respeito do marido dela:

— Não deve falar ao seu esposo como se quisesse lhe impor a fé. Como boa esposa, deve edificar um lar feliz. O que demonstrará a grandiosidade da prática da fé será seu comportamento e seu modo de vida como esposa e como ser humano. Se continuar a se relacionar com seu marido de forma sábia e sincera, desejando a harmonia familiar, com certeza chegará o dia em que ele praticará o budismo.

Teruko Izumiya aceitou essa orientação com todo o seu ser. Ela se naturalizou canadense e decidiu que dedicaria a vida ao Canadá e enterraria seus ossos na grandiosa terra das folhas avermelhadas e das flores humanas. Mesmo nos momentos mais tristes e sofridos, ela jamais se lamentou ao esposo. Aceitando tudo para si mesma, nos momentos de sofrimento, apenas recitava devotadamente daimoku ao Gohonzon.

Como esposa, protegeu a família, e como mãe, criou seus três filhos. Sempre radiante, desbravou o caminho do kosen-rufu do Canadá com todo o vigor. O círculo da propagação do budismo também se expandiu concretamente.

O marido de Teruko, Hiroshi, resolveu se converter em março de 1980. Ela lhe disse pacientemente até tarde da noite: “Quero ser feliz junto com você, empenhando-nos na prática do budismo”. Era justamente a época em que ele havia perdido duas irmãs mais velhas que tanto amava seguidamente por causa de uma doença. Defrontava-se assim com a difícil questão chamada destino da vida. Recordava-se, também, de sua vida no campo de prisioneiros na infância devido à guerra.

Quando se defronta com situações absurdas que parecem ser difíceis de serem superadas pelas próprias forças, as pessoas as classificam como “destino” ou como “fatalidade” causadas por seres transcendentais. O budismo investiga as causas desses acontecimentos por meio da lei de causa e efeito na vida, e elucida o caminho da transformação.

Dezoito anos depois de sua esposa, ele decidiu trilhar o caminho da Soka Gakkai. Nessa noite, pela primeira vez, o casal recitou junto o gongyo. Do lado de fora caía uma forte neve. Na sala, dentro de casa, reinava alegria e lágrimas quentes escorriam pelo rosto de Teruko.



nrh

 

 

O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.

Nota:

1. BRAID, Kate. No ni Sumu Tamashii no Gaka Emily Carr [Emily Carr, a Artista cuja Alma Vive nos Campos]. Tradução: Masae Ueno. Editora Shunju sha.

Ilustrações: Kenichiro Uchida

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