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Relato

Sem medo de ser feliz

Com base na prática da fé, Alison vence preconceitos e encontra respostas para desfrutar uma juventude digna

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Redação

26/09/2024

Sem medo de ser feliz

Sem medo e ser feliz

Alison, centro da foto, segurando cartaz, ele desfruta a alegria do encontro dos jovens da localidade




Eu me chamo Alison Dionísio Freitas da Silva, identidade construída à base do empoderamento conquistado com determinação e força. É extraordinário como o ambiente de acolhimento e de aprendizados que temos na Soka Gakkai nos permite crescer e desenvolver sendo nós mesmos. Tenho 34 anos, moro em Belo Horizonte, MG, cidade onde nasci.

O Budismo Nichiren passou a ser a luz a me guiar aos 13 anos, de uma adolescência e juventude conturbadas, de conflitos e questionamentos, incluindo minha sexualidade, meu gênero e meu péssimo humor.

Vinte anos não são vinte dias. O tempo trouxe o amadurecimento e conquistas essenciais da pessoa que sou hoje. Eis um pouco da minha jornada.

Meu pai sofria com alcoolismo e esquizofrenia e senti as primeiras comprovações da força da prática do budismo quando ele passou a ter crises menos intensas. Era a força da recitação do Nam-myoho-renge-kyo, que conhecemos por intermédio da minha avó materna, Terezinha, a qual seguia outra religião. Ela não hesitou em nos apresentar para um casal budista, pois ouviu dele que o budismo transformaria nossa vida. Estava certa. Lembro-me do dia que fui com minha irmã, Bruna, a uma reunião da Divisão Feminina de Jovens (DFJ). Logo depois veio a participação de minha outra irmã, Jessica. A terceira, Poly, é grande apoiadora até hoje.

Sempre fui uma pessoa muito tímida. Por gostar de música, recebi estímulo para integrar a banda Asas da Paz Kotekitai do Brasil, grupo no qual fiquei por dezenove anos. Um precioso tempo, de cultivar sabedoria.

Sim, nasci num corpo de menina. E foi em 2013 que me descobri na minha sexualidade. Essa fase foi adicionada ao falecimento do meu avô e do sonho de fazer uma faculdade. Havia participado quatro anos antes da Convenção dos Jovens, em maio de 2009, e, ao selar meu juramento de luta conjunta com o Mestre, determinei vencer com base no daimoku.

Em 2017, formei-me em geografia na Pontíficia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). No ano de 2019, começou minha transição de gênero e a separação da pessoa com quem me casei. A vida é feita de escolhas e eu precisava me encontrar.

Sempre lemos que a força maior da Soka Gakkai é a defesa do respeito pela dignidade da vida. Para mim, isso se reflete nesta orientação de Ikeda sensei:

Basta serem vocês mesmos. O budismo compara a personalidade individual de todas as pessoas às flores de cerejeira, ameixeira, damasqueiro e pessegueiro, e ensina que cada uma, apesar de diferente e única, é linda à sua maneira.1

Sem medo de ser feliz

Alison, com a irmã Bruna, seu apoio de sempre, na Convenção da Juventude Soka, em São Paulo, SP, em maio deste ano



Budismo é transformação do coração

Na organização, assumi novas responsabilidades, envolvendo-me nas atividades junto com os companheiros, incluindo o período da pandemia e os desafios decorrentes. Passei a cuidar mais da minha aparência e busquei um psicólogo.

Nessa época, escrevi para o sensei. “Desfrute ótima disposição”, respondeu o Mestre, na primeira recomendação enviada por ele, das três que obtive retorno mediante minha atitude de buscar seu incentivo.

A harmonização para pessoas trans permite o alinhamento de características físicas à identidade de gênero. Em 2022, iniciei o processo de tomar hormônios masculinos. Lidava com o medo e a insegurança. Mais uma vez, recorri aos ensinamentos do Mestre em sua explanação do escrito Abertura dos Olhos, de Nichiren Daishonin:

Todas as pessoas, desde que possuam uma fé inabalável na Lei Mística, podem cultivar um estado de vida tão vasto quanto o universo em sua condição de mortal comum.2


Fortaleci minha fé. Em 2023, retifiquei documentos e comecei o processo da mastectomia (cirurgia para retirada das mamas). Isso significava fechar um ciclo e iniciar outro, dignamente. Busquei diálogo com veteranos e revisitei meu coração. Vencer com sabedoria. Entrei também para o Brasil Ikeda Myo-on Kai (Bimok) [grupo de sonoplastia da Divisão Masculina de Jovens (DMJ)]. Assim como a Asas da Paz Kotekitai me acolheu no passado, na primeira atividade do grupo já me senti parte de tudo aquilo.

Nesses vinte anos, sinto que minha vida foi polida por treinamentos e oportunidades. Ainda estou no processo de minha revolução humana, sempre. Ao aprender a respeitar meus limites e polir meu caráter, sigo avançando.

Atualmente, sou líder da DMJ da RM BH Leste. Moro sozinho, voltei a estudar, escolhendo o cuidado com pessoas como especialização. No trabalho, sou respeitado por todos, que gostam do Alison pela história de vida dele, independentemente do gênero. Tenho amigos grandiosos, irmãs que me incentivam. Minha prática diária é a força para trilhar o caminho diante de tudo, com gratidão.

Em maio último, participei da Convenção Juventude Soka Esperança do Mundo, junto com 24 jovens da minha RM. O brilho daquele ambiente, bem como a diversidade, é o mundo Soka, do qual muito me orgulho. Assim, renovei meu juramento e voltei ainda mais motivado para minha localidade. Agora, com a Liga Monarca, é hora de trazer mais e mais pessoas para essa órbita de felicidade.

Sou grato ao presidente Ikeda, meu mestre da vida. Deixo umas linhas de um poema de sua autoria, na expectativa de inspirar pessoas que, assim como eu, buscam acreditar em si próprias, sem medo de ser feliz. Muito obrigado!

Seja íntegro,

seja você mesmo,

e brilhe.3


Alison Dionísio Freitas da Silva, 34 anos. Assistente comercial. Na BSGI, é responsável pela Divisão Masculina de Jovens (DMJ) da RM BH Leste, CRE Leste.


Notas:

1. Brasil Seikyo, ed. 2.139, 14 jul. 2012, p. B2.

2. Terceira Civilização, ed. 437, jan. 2005, p. 46.

3. Idem, ed. 559, mar. 2015, p. 3.

Fotos: Colaboração local

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