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Entrevista

Contribuir para a vida do planeta

Antonio José de Araujo - Engenheiro florestal

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03/08/2020

Contribuir para  a vida do planeta

Com 45 anos de experiência como professor universitário, inclusive na Universidade Soka do Japão em 2017, pesquisador e administrador na área da engenharia florestal, Antonio José de Araujo, recebedor de prêmios e honrarias nacionais e internacionais, fala sobre a sua história, carreira e relação com Ikeda sensei

– O que é ciência florestal?

É o ramo da ciência relacionado a florestas, árvores e outras plantas em geral (flora), a animais silvestres (fauna), e inclui água, solo e ar. O cientista florestal estuda as inter‑relações de modo que a sociedade possa usufruir dos benefícios da natureza e de seus produtos e desenvolve meios de como usar esses recursos com sabedoria para o bem de todos ao proteger a vida no planeta de forma sustentável.

– Porque escolheu essa profissão?

Escolhi a carreira de engenharia florestal porque desejava trabalhar com a natureza. Quando ainda cursava o ensino médio, conheci alguns estudantes da Escola Nacional de Florestas que moravam numa república próxima à minha casa, em Curitiba, PR. Fiz amizade com eles e me explicaram o que era essa nova profissão. Decidi então prestar vestibular para engenharia florestal, e passei em primeiro lugar.

– Dentro de sua carreira, qual foi o momento mais marcante?

Em minha primeira carreira, na Universidade Federal do Paraná (UFPR), fui professor e pesquisador, exercendo as funções de chefia de departamento, coordenador de curso e pró‑reitor, entre outras. 

Fui professor visitante na Michigan State University (MSU), quando estabeleci e dirigi com um colega americano o Programa de Intercâmbio Acadêmico entre MSU e UFPR intitulado Biodiversidade, Proteção e Manejo de Ecossistemas no Brasil. Tive vários períodos marcantes em minha carreira. Um dos mais importantes foi a luta para a construção de um novo e moderno prédio para o curso de engenharia florestal em Curitiba.

– Como chefe do departamento de ciências florestais, possui algum projeto que foi implantado que gostaria de compartilhar? 

Em 1998, fui contratado pela Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro), onde o curso de engenharia florestal estava iniciando. Fui nomeado chefe de departamento e coordenador do curso. Inspirado em orientações do meu mestre, Dr. Daisaku Ikeda, decidi que me esforçaria para “construir um dos melhores cursos do país”. A situação era difícil, mas ao longo dos anos reformulamos o currículo do curso para torná‑lo moderno e sintonizado com as necessidades do Brasil. Planejamos contratações e, gradualmente, com o apoio dos dirigentes da universidade, formamos um corpo docente de excelente qualidade. Preparando muitos projetos, fomos em busca de recursos e construímos treze laboratórios. Isso resultou em muitos alunos envolvidos em pesquisa junto com os professores nesses laboratórios. Em 2006, foi iniciado o curso de mestrado em ciências florestais e, mais recentemente, o curso de doutorado em ciências florestais.

– Qual dica daria aos Estudantes que aspiram trabalhar com ciências e suas variadas áreas?

Trabalhar com as ciências é prazeroso porque traz contribuições importantes para a sociedade e a toda a humanidade. Trabalhar com as ciências exige seriedade, esforço e dedicação. Minha dica é que se esforcem em cultivar essas qualidades, dedicando-se com seriedade aos estudos. E que enfrentem as dificuldades com o espírito de desafio e de “nunca desistir” (Never Give Up). Dominar o inglês, que é a língua do mundo das ciências, é fundamental. 

– O que seu aprendizado na BSGI contribuiu para sua profissão? 

Conheci a BSGI por intermédio do meu professor de caratê, Sr. Hiroshi Taura, um dos pioneiros da propagação do budismo no Paraná. Eu tinha 19 anos quando decidi abraçar a filosofia budista; sou o primeiro membro brasileiro não descendente de japoneses em Curitiba. O que me impressionou no budismo foi, e continua sendo, a racionalidade dos ensinamentos e o humanismo da filosofia que propõe que cada pessoa nasce para ser feliz e não para sofrer. E que o sofrimento, embora faça parte da vida, deve ser transformado em felicidade pela revolução humana do indivíduo. E o mais importante: ensina como concretizar esse sonho. É isso que tenho aplicado em minha vida profissional e pessoal.

– Soubemos que foi o primeiro coordenador do Departamento de Cientistas da BSGI, fundado em 1984. Pode falar um pouco sobre o departamento?

Em 1984, fui nomeado pessoalmente por Ikeda sensei como o primeiro coordenador do Depac. Após a reunião, ele me presenteou com a insígnia comemorativa (ribbon) que tinha usado durante a cerimônia. 

O objetivo eterno do Depac é “criar reais ‘valores humanos’ nos setores científico e acadêmico da sociedade brasileira”. Ele reúne profissionais de todas as áreas da ciência que se comprometem a solidificar e a lapidar sua prática da fé, a realizar a comprovação profissional como cientista humanista, a conquistar a felicidade e a desenvolver seres humanos de valor. Você, membro da DE, pode se tornar um valoroso jovem no mundo científico do futuro! 

O senhor fez parte da realização do convênio entre a UFPR e a Universidade Soka do Japão. O que diria para os Estudantes que sonham fazer um intercâmbio?

Sonhar com um intercâmbio no exterior é um grande e nobre desafio. E na Universidade Soka é um desafio ainda maior. Não basta sonhar. Prepare-se estudando com muita seriedade e dedicação. Estude também a língua japonesa porque ela é fundamental para obter uma bolsa para a Universidade Soka do Japão. Já para estudar na Universidade Soka da América, o domínio do inglês é essencial.

– Há algo que não perguntamos, mas que gostaria de compartilhar?

Sim. Meu primeiro encontro com Ikeda sensei. Aconteceu em 5 de agosto de 1973, quando eu tinha 25 anos. Após um breve diálogo, traduzido pelo Sr. Roberto Saito, presidente da BSGI na época, sensei colocou a mão em meu ombro, olhou em meus olhos e disse: “Araujo, esforce-se ao máximo!”. Nos momentos difíceis, lembro-me daquele instante e sempre renovo minha decisão de que até o fim da minha vida vou me esforçar para corresponder à confiança do Mestre. 

Convênio UFPR e Universidade Soka: 31 anos de cooperação 

O primeiro contato entre a Universidade Federal do Paraná e a Universidade Soka do Japão foi em 1973 ao propor futura cooperação. O ofício foi dirigido ao Dr. Daisaku Ikeda, fundador da Universidade Soka. 

Em 1987, o professor Araujo, na época pró‑reitor da UFPR, foi portador de um ofício do reitor Riad Salamuni ao Dr. Daisaku Ikeda, propondo intercâmbio entre as duas universidades. Após estudos, foi firmado em 1989 o primeiro convênio (Memorando de Cooperação). 

O objetivo do intercâmbio tem sido proporcionar aos estudantes das duas instituições a oportunidade de: 1) aprofundar o conhecimento e adquirir proficiência das línguas japonesa e portuguesa no Japão e no Brasil; 2) conhecer e estudar in loco as culturas japonesa e brasileira; e 3) estudar disciplinas do seu currículo profissional na medida em que tenham proficiência para acompanhar as aulas no idioma local na universidade anfitriã. 

Os três itens que compõem o objetivo têm sido plenamente atingidos com o reconhecimento recíproco pelas duas instituições dos estudos realizados na universidade parceira. 

Conheça mais da carreira de Antonio

Publicou mais de 150 trabalhos em periódicos, anais de eventos (trabalhos convidados, voluntários e pôsteres), livros e relatórios técnicos. 

Recebeu prêmios e honrarias como: Honra ao Mérito (Universidade Federal do Paraná); Prêmio de Alta Contribuição à Pesquisa (Soka Gakkai Internacional); Prêmio Cultural (Instituto de Filosofia Oriental); Prêmio de Estudos Canadenses (Governo do Canadá); Medalha Militar Correia Lima (Exército Brasileiro); Prêmio Ecologia e Ambientalismo (Câmara Municipal de Curitiba), entre outros. 

Foi membro fundador e vice-presidente da Academia de Letras, Artes e Ciências do Centro‑Sul do Paraná (Alacs), ocupando a cadeira no 16 cujo patrono é o Dr. Daisaku Ikeda. 

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