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Entrevista

Uma vida dedicada à educação

Márcia Verônica Ramos de Macêdo 54 anos Organização pertencente: Área Acre, Sub. Amazônia Ocidental, CRE Oeste Membro da BSGI desde 1o de abril de 1994, é responsável pela Divisão Feminina do Bloco Floresta, Comunidade Glória Graduação e atuação: Pós-doutorado em estudos linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 2019. Doutora em letras e linguística pela UFBA, na Bahia, 2012. Graduada em letras/português/francês pela Universidade Federal do Acre (1989), onde atua nas áreas de linguística, dialetologia e língua portuguesa. Líder do Grupo de Estudos do Léxico e Narrativas da Amazônica Legal (Gelnal). Livros publicados: As Lendas da Floresta Contadas por Seringueiros Acreanos (2007); Glossário da Pesca: Conceito, Classificação, Etimologia (2017) e Variedades Linguísticas na Amazônia Ocidental: Feijó Fala (prelo).

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03/12/2020

Uma vida dedicada à educação

Márcia Macêdo fala sobre a sua relação com o ensino e a aprendizagem como educadora e compartilha suas experiências, incluindo o título de doutor honoris causa oferecido ao presidente Ikeda e sua viagem ao Japão

- O que a levou a escolher a profissão?

Creio que foi o bom exemplo dos meus pais, que também eram professores. Eles sempre me incentivaram a ler bons livros e, com isso, segui o caminho das letras. Constantemente, ajudava meus irmãos mais novos nas tarefas da escola. Acho que eu tinha duas características para a coisa: vocação e paciência.

- Como foi sua formação acadêmica? 

Diria que foi precoce. Aos 17 anos ingressei na graduação em educação física, e aos 19 já estava com meu primeiro diploma pela Universidade Federal do Amazonas. Aos 20 anos, eu me formei em letras/português/francês. Ingressei na pesquisa acadêmica sobre a linguagem do seringueiro e, após dois anos de formada, em 1992, entrei para o mestrado em linguística na Unicamp, em Campinas, SP. Porém, retornei ao Acre, pois era difícil ficar distante do meu filho, Venícius, na época com 7 anos. Fiz duas especializações, e em 2003 iniciei o mestrado na Universidade Federal de Rondônia (Unir), concluindo-o em 2005. Em 2007, ingressei no doutorado na UFBA; e em 2018 parti para o pós-doc em estudos linguísticos na UFMG. Desse modo, levei cerca de quinze anos dedicados aos estudos. Não foram dias fáceis. Sem bolsa de estudo, a dificuldade financeira era constante. Mas nunca desisti, e tive total apoio da família, de bons amigos, dos companheiros da organização e incentivos do meu mestre, Daisaku Ikeda.

- Desde quando atua como docente? Como é sua relação com seus alunos?

Atuo desde os 18 anos na docência. Sou professora e quero trabalhar para sempre como professora. Amo minha profissão! Meu primeiro emprego foi na Secretaria de Educação do estado. Um ano depois, passei num concurso e, após dois anos, fiz outro concurso para a prefeitura da capital, Rio Branco, e então fui contratada. Por fim, prestei o último concurso para a Universidade Federal do Acre, na qual estou trabalhando há dezesseis anos. 

Minha relação com meus alunos é de mãe, psicóloga, amiga, professora, carrasca, durona, exigente, aquela “com quem se aprende”, mas adequada a cada situação. Na minha sala de aula digo que sou a estrela porque planejo, organizo a aula, distribuo tarefas e funções; e muito exigente. Sempre brinco dizendo: “Não reprovo ninguém, você é que se reprova”. Nesses 38 anos de magistério, a relação com os alunos foi de respeito, carinho e admiração, e, sobretudo, de humanismo. Amo todos os meus alunos por igual. Até sentem ciúmes deles lá em casa (risos).

- Das suas experiências no ramo da educação, qual gostaria de destacar?

Da pesquisa acadêmica. Fui bolsista de aperfeiçoamento científico em 1991 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Orientei, a partir de então, muitos trabalhos de iniciação científica acerca da linguagem do seringueiro, do pescador e das variações regionais. Olhar para um corpus1 e descobrir dados, curiosidades na pesquisa de campo realizada, quebrar a cabeça, fazer e refazer, tudo isso é prazeroso.

- Pode compartilhar um pouco dos projetos que desenvolveu? 

Entre os inúmeros projetos tive um com o título O Ensino e o Discurso Ideológico: A Deformação da Imagem do Outro (1993, era substituta na Ufac). Versava sobre a imagem dos negros nos livros didáticos. Fui a primeira bolsista/pesquisadora da Ufac e a experiência me tornou a pesquisadora que sou hoje, sem preconceitos e com simplicidade e disposição para ouvir e respeitar a cultura desconhecida.

- Quais os maiores desafios da profissão? E os maiores prazeres?

Sem dúvida o maior desafio da profissão de professora/educadora é ter valorização profissional de acordo com a formação e ser respeitada pelos órgãos. Apesar de termos uma estrutura adequada de trabalho, ainda falta valorização. 

O maior prazer é conhecer alunos novos, de cem a duzentos a cada semestre, e contribuir para a formação deles, vê-los bem, no futuro. Tenho ex-alunos médicos, enfermeiros, juízes, professores; isso dá um prazer danado.

- Como o fato de ser membro da BSGI influencia sua vida?

Ser membro da BSGI foi uma oportunidade que agarrei com unhas e dentes. Desde o início, nosso mestre, Daisaku Ikeda, me direcionou para todas as conquistas que obtive. Penso que se você tem graduação, deve fazer uma pós; se tem mestrado, então faça doutorado. Aprenda uma língua estrangeira. Aprendi francês, espanhol e italiano. Por isso, lutei para honrar e proporcionar mais um o título de doutor honoris causa ao sensei em 2017.

- Tem algum incentivo que goste bastante e queira compartilhar?

No início da minha prática, sempre ouvi dizer que no mundo existem três tipos de pessoas: a primeira é aquela que entra no seu ambiente e você nem percebe (a presença dela é indiferente); a segunda pessoa entra e todos fazem de conta que não a veem (a indesejável); e a terceira, quando chega, todos fazem festa para ela (é uma pessoa indispensável e muito querida). Eu decidi ser do terceiro tipo. Um dos incentivos que mais gosto é: “Seja como for, a grandiosa revolução humana de uma única pessoa irá, um dia, impulsionar a mudança total do destino de um país e, além disso, será capaz de transformar o destino de toda a humanidade” (Revolução Humana, v. 1, p. 9).

- Qual conselho você daria para quem planeja seguir essa carreira?

Digo que deva ser uma pessoa dedicada aos estudos, pois a formação continuada é uma obrigação e não um desejo. O mundo mudou, as pessoas mudaram, o método, as técnicas e as ferramentas de ensino também se transformaram. Logo, estudem sempre!

- Qual o seu sonho? 

Vários, mas o que mais acalento é acabar com o analfabetismo no Brasil e nos países subdesenvolvidos. Sonho também com a paz e a harmonia entre as famílias. 

- Gostaria de compartilhar alguma coisa que não perguntamos? 

Sim. Sobre meu subprojeto do programa de Iniciação à Docência da Capes/Ufac. Orientamos graduandos em letras/português a iniciar a docência em escolas públicas no tocante à produção do texto dissertativo‑argumentativo, ajudando os alunos do terceiro ano do ensino médio a entrar na faculdade. Dois deles foram aprovados para medicina. Atendemos mais de 2 mil alunos, e nos encaixamos no ODS 11,2 o de incluir alunos de periferia na universidade.

Gostaria de frisar que, por gratidão, fui autora do ofício de solicitação da homenagem de doutor honoris causa ao presidente Daisaku Ikeda pela Ufac, em 2017. Levei o título junto com o Magnífico Reitor Minoru Kinpara. Foram dias inesquecíveis em Tóquio, Quioto e Osaka. Recebi vários recados do presidente Ikeda, dos quais o mais marcante foi que deveria ter grandes sonhos e objetivos, defender uma causa e que, pela minha alegria, viveria o dobro da minha idade (tinha 52 na época, risos). Nunca vi o Mestre, mas sonhei com ele quando estive no Japão. Oro por ele e pela Sra. Kaneko, que estão, profundamente, em meu coração. Gratidão, gratidão.

Gostaria de finalizar com a seguinte frase: “Sofra o que tiver de sofrer, desfrute o que existe para ser desfrutado. Considere tanto o sofrimento quanto a alegria como fatos da vida e continue recitando Nam‑myoho‑renge‑kyo, independentemente do que aconteça. Que outro significado isso poderia ter senão a alegria ilimitada da Lei? Fortaleça o poder de sua fé mais do que nunca” (CEND, v. I, p. 713). 

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são planos de ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar paz e prosperidade. 

Os dezessete objetivos são integrados e indivisíveis, e mesclam, de forma equilibrada, as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. São como uma lista de tarefas a serem cumpridas pelos governos, sociedade civil, setor privado e todos cidadãos na jornada coletiva para um mundo sustentável.

Fonte: www.agenda2030.com.br

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