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Entrevista

Expandir a vida por meio do estudo de idiomas

A professora e tradutora Jessica Boron Pereira fala cinco idiomas, mesmo assim, ela continua estudando. Aqui, ela dá várias dicas para quem deseja aprender outras línguas

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Redação

14/02/2022

Expandir a vida por meio do estudo de idiomas

Perfil

- Jessica Boron Pereira

- 30 anos

- Mora em São José dos Pinhais (PR)

- Vice-coordenadora da DE da CRE-Sul

- Formação: licenciatura em letras (português-inglês), pós-graduação em tradução e mestrado em linguística

Pode nos contar um pouco sobre você?

Tive a grande boa sorte de nascer numa família budista. Desde a infância, tenho ricas memórias das atividades da organização e de aprender sobre o sensei. Hoje, atuo como vice-coordenadora da Divisão dos Estudantes da CRE-Sul, mas a DE já faz parte da minha vida desde 2011, pois tive a oportunidade de ser líder de RM e de subcoordenadoria nos níveis Futuro e Esperança. Só na Sub. Sul do Paraná exerci a função por três anos.

Sempre digo que as fases da minha vida estão profundamente ligadas às fases de atuação na DE, pois foi por meio delas que me formei em letras na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), onde tinha o sonho de estudar. Fiz mestrado em estudos linguísticos na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e hoje faço pós-graduação em estudos da tradução.

Qual é a sua história com idiomas?

Eu me lembro do dia em que minha mãe comprou meu primeiro livro em inglês, eu tinha 6 anos. O livro se chamava 150 Primeiras Frases em Inglês e trazia expressões normais e da forma como se pronuncia em inglês. Não sei quantas vezes li esse livro, foram muitas! E o interessante é que hoje a minha área de pesquisa é em fonética e fonologia do inglês, ciência que observa os sons da fala.

Na adolescência, gostava muito de ouvir músicas em inglês e espanhol. Como minha família passava por dificuldades financeiras na época, eu me esforçava para estudar sozinha a partir das letras dessas canções.

Quando fiz 15 anos, meus pais viram quanto o estudo de idiomas era importante para mim. Então, comecei a fazer um curso de inglês que, por meio de uma promoção, ganhava o de espanhol. Quanta boa sorte eu tive de poder estudar os dois idiomas ao mesmo tempo!

Qual é a importância de aprender um novo idioma?

Esse aprendizado nos faz expandir os horizontes e entender melhor o nosso lugar no mundo. Cada cultura tem sua história e seu valor e quando se aprende mais sobre outro povo e outra língua nos tornamos uma pessoa com visão ampla. Ikeda sensei sempre ensina os Estudantes a serem cidadãos globais que conhecem e respeitam as diferentes culturas. Acredito que aprender uma língua nova não só permite a pessoa conhecer outras perspectivas como também a coloca numa posição de observar e refletir sobre a própria língua e cultura, o que também é maravilhoso.

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Com os líderes e Estudantes da Sub. Sul do Paraná na Academia dos Sucessores Ikeda (Belo Horizonte, 2019). Foto: arquivo pessoal.

Como podemos iniciar o aprendizado de uma língua estrangeira? Você fala quantos idiomas?

O inglês é uma língua comum de se encontrar em propagandas, nomes de coisas, em expressões e na internet, mas isso não significa que seja fácil e acessível para todo mundo. O importante é se esforçar para que a língua faça parte do dia a dia e utilizá-la com coisas que goste de fazer.

Além do português e do inglês, falo espanhol, italiano e estudo coreano. O mais fascinante para mim é perceber o tanto de carga cultural inserimos no nosso mundo quando aprendemos uma língua diferente e quanto isso nos muda e empodera.

Quando começou a trabalhar como professora?

Comecei a dar aulas de inglês aos 19 anos, quando cursava letras. Sempre fui muito tímida e, nessa época, lembro-me de chegar nervosa e suada às aulas. Em 2011, abriram vagas para bolsistas. Passei no processo seletivo e fiz parte do programa de iniciação à docência por dois anos. Nele, professores em formação são orientados por professores da universidade e de escolas públicas, nas quais observamos e ministramos aulas. Essa experiência foi muito importante para que eu me sentisse mais confiante e aprendesse a dar aula. Ainda me considero uma pessoa tímida, mas, na hora de ensinar, crio uma “persona professora” que toma conta de mim e faz surgir outra Jessica.

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Jessica com a mãe Regina, o pai Dalírio e o marido Leandro (São José dos Pinhais, 2019). Foto: arquivo pessoal.

Qual é a parte mais legal da sua profissão? E a mais desafiadora?

Para dar conta dos estudos e do trabalho, optei por dar aula particular apenas, então, sou autônoma e organizo meus próprios horários e materiais. A parte mais legal disso é que consigo acompanhar o desenvolvimento dos meus alunos de perto e de forma individualizada. A vitória deles em avançar no idioma, em conseguir um emprego novo ou viajar sozinhos porque falam inglês é a minha vitória também.

O mais desafiador em ser professor é ter que se atualizar e se reinventar a todo momento, pois o mundo está mudando muito rápido. Cada pessoa tem seu próprio jeito de aprender e acredito que isso precisa ser levado em consideração. O grande educador brasileiro, Paulo Freire, dizia que “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Como professora, acredito nisso, por isso, tenho como missão guiar meus alunos para que sejam a melhor versão deles mesmos.

Ficamos sabendo que atua também na área de tradução; poderia falar a respeito?

Na época do mestrado, trabalhei por dois anos no Centro de Assessoria à Publicação Acadêmica da UFPR e lá atuei como tradutora e assessora no processo de produção escrita de mestrandos e doutorandos. Nesse trabalho, aprendi mais sobre tradução e revisão de textos acadêmicos e, por conta dessa experiência, meu esposo e eu decidimos abrir uma empresa que presta serviços de tradução, revisão, dublagem, narração e edição de vídeo. Juntamos nossas habilidades na empresa e aprendemos muito um com o outro.

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Foto comemorativa com os Estudantes da DE-Herdeiro que se apresentaram na exposição da DE no Curso Latino-Americano de Budismo (Clab) (Curitiba, 2019). Foto: arquivo pessoal.

Que dicas daria para os Estudantes que querem aprender um idioma?

Há muitas formas de aprender um idioma hoje em dia: com o YouTube, por aplicativos, livros, num curso ou por conta própria. Minha dica é que você encontre temas e coisas que goste de fazer e use-os na língua que quer aprender, como eu fiz com as letras de música. Precisamos inserir o novo idioma no cotidiano para que nosso cérebro entenda que ele é importante e que agora faz parte do dia a dia. Aprender deve ser divertido e significativo, algo que nunca podemos parar de fazer.

Tem alguma frase do Mestre que carrega com você?

Tenho várias, uma é do livro Juventude: Sonhos e Esperanças: "Mesmo que seja versada em uma língua estrangeira, a pessoa que carecer de qualidades humanas não conseguirá conquistar o respeito nem a admiração dos outros em nenhuma parte do mundo. As pessoas são mais propensas a rejeitar alguém assim". E sensei diz em seguida:

Claro que dominar um idioma é importante, mas lembrem-se de que isso é apenas um meio, não um fim. A questão é como utilizar esse idioma. (...) Lutar pelo bem-estar das pessoas e da sociedade é o caminho fundamental do humanismo.
(Juventude: Sonhos e Esperanças, v. I, p.117)

A outra é:

O budismo manifesta-se na sociedade e, portanto, é missão daqueles que o praticam apresentar os princípios da crença em sua comunidade e ser participantes ativos de sua época. Isso exige que aprimoremos nosso caráter e conquistemos a confiança e o respeito daqueles que nos cercam. Revolução humana — ou seja, a transformação positiva do caráter de uma pessoa — é a força propulsora da mudança social.
(Nova Revolução Humana, v. 24, p. 232)

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