Daisaku Ikeda — sublime e corajoso ser humano

Infância memorável

Daisaku Ikeda nasceu em 2 de janeiro de 1928, como o quinto de oito filhos do casal Ichi e Nenokichi Ikeda. Seus pais adotaram mais duas crianças para compor a numerosa família, o que expressava enorme carinho e benevolência por parte deles. Para prover o sustento do lar, trabalhavam arduamente com cultivo de algas marinhas.

Na infância, uma das maiores paixões de Daisaku Ikeda era a leitura. Como seus pais não tinham dinheiro para comprar livros, ele os pegava emprestado de bibliotecas da escola e da vizinhança e lia avidamente. O sonho dele na juventude era ser autor de grandes romances, e seu entusiasmo pela literatura e pela poesia contribuíram para que ele, na fase adulta, se tornasse escritor e poeta reconhecido mundialmente.

Sua mãe, Ichi, era uma pessoa amável e muito dedicada à criação dos filhos. Dela, o jovem aprendeu simples e importantes lições que foram extremamente valiosas durante toda a sua vida. Na obra Nova Revolução Humana, ele registra esses ensinamentos:¹

Desde muito jovem, sua mãe sempre lhe dizia: “Não cause problemas aos outros”, e “Sempre diga a verdade”. Quando Shin’ichi [pseudônimo do presidente Ikeda no romance] cresceu um pouco mais, ela ampliou seu conselho: “Uma vez que decida fazer algo, seja responsável e vá até o fim”. 

Com as amáveis instruções de sua mãe incutidas em sua essência, Ikeda sensei se tornou posteriormente uma pessoa confiada e respeitada por ilustres intelectuais do mundo ao elucidar sempre a verdade em seus pensamentos.

Um acontecimento na infância marcou para sempre sua vida. Naquela época, não somente o Japão, mas o mundo inteiro estava mergulhado no obscurantismo dos conflitos bélicos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945):²

Chegou, então, o período em que o Japão afundou no atoleiro da guerra. Seus quatro irmãos mais velhos, esteios da família, foram convocados um após o outro; e a família ficou entregue à pobreza. Contudo, sua mãe simplesmente riu e declarou: “Nossa família é a campeã em ser pobre”. Ela continuou trabalhando mais do que nunca, cultivando até alguns vegetais no quintal.

A mãe de Daisaku, que era alegre e mantinha sempre o sorriso no rosto, chorou profundamente em certa ocasião.³

Shin’ichi a viu de costas tentando esconder sua emoção; seus ombros tremiam e ela chorava baixinho, sozinha. Isso foi em maio de 1947, quando chegou o comunicado oficial de que seu irmão mais velho, Kikuo [seu nome verdadeiro era Kiichi], havia morrido em combate na Birmânia (atual Mianmar).

Ao ver a dor da mãe, Shin’ichi sentiu uma raiva atroz da guerra crescer em seu coração. Ao mesmo tempo, percebeu claramente o grande amor de sua mãe pelos filhos e determinou resolutamente que, em seu nome e do seu falecido irmão, demonstraria gratidão e carinho por ela.

Todo o enredo da infância do presidente Ikeda desenvolveu nele um espírito corajoso, torneado pelo carinho e pelo afeto de sua mãe. A soma desses aprendizados foi essencial para que ele jamais desistisse em crer no potencial transformador dos seres humanos.

Juventude de grandes sonhos

Ao ver sua mãe chorar copiosamente pela morte do seu irmão, a chama pelo combate aos horrores da guerra e por viver uma vida dedicada a um nobre ideal se acendeu no coração do jovem Daisaku Ikeda.⁴

Estou farto de guerras! É preciso fazer com que elas nunca mais se repitam. Não podemos permitir, jamais. Mas... o que devo fazer para que não ocorram mais guerras? Como é possível unir as pessoas de bem?

A paixão pela leitura de grandes pensadores e clássicos da literatura foi essencialmente importante no período da guerra. O jovem procurava suportar sua angústia relembrando a história de cada um dos livros que havia lido. Assim que os conflitos cessaram, Daisaku Ikeda criou um clube de leitura com seus amigos, e juntos refletiam como seria um modo de vida verdadeiramente correto. Foi a partir dos livros que ele recebeu seu primeiro convite para participar de uma reunião de palestra da Soka Gakkai.

Numa noite abafada de agosto de 1947, o jovem Ikeda recebeu a visita de uma moça e de um rapaz, amigos que haviam estudado com ele na infância. Em seu quarto, tinha uma estante repleta de livros, muitos deles eram complexas obras de filosofia. Admirada, a moça perguntou-lhe se ele gostaria de participar de um encontro com um professor de filosofia da vida. 

Daisaku Ikeda participou da palestra de Josei Toda na noite de 14 de agosto de 1947. O jovem ficou impressionado com a força de caráter daquele “filósofo da vida” que falava de questões profundas com facilidade e fascínio. Intrigado, fez algumas perguntas. A mais importante delas dizia respeito sobre qual a maneira correta de se viver. A resposta de Josei Toda o atingiu em cheio porque transbordava a convicção de alguém que havia sobrevivido ao cárcere por confrontar o militarismo que imperava na época.

Daquele dia em diante, Daisaku Ikeda, aos 19 anos, trilhou ao lado do seu mestre, Josei Toda, a mais correta, corajosa e grandiosa estrada da vida.

Expansão do Budismo Nichiren para o mundo

Ikeda sensei esteve com Josei Toda até o último momento da vida do seu mestre, em 2 de abril de 1958. Durante pouco mais de dez anos, o jovem foi instruído por ele sobre os mais variados temas, o que considera um grande tesouro denominado “Universidade Toda”.⁵

Minha maior honra é ter me formado na Universidade Toda. Comecei a trabalhar na editora de Josei Toda aos 21 anos, mas os negócios dele depararam-se com tempos difíceis. Para apoiá-lo, desisti do curso noturno da escola e devotei-me inteiramente a reerguer a empresa dele. Toda sensei dava aulas particulares para mim canalizando todo o seu ser — em sua casa aos domingos e todos os dias de manhã no escritório antes do horário do expediente — ensinando-me ampla gama de assuntos. Isso se estendeu por muitos anos. É o que denomino “Universidade Toda”. Por meio de suas aulas, ele me ensinou a essência de todas as áreas do conhecimento. Ele não se limitava a fornecer informações. Concentrava-se unicamente em me habilitar a obter sabedoria e discernimento. Em seus últimos anos de vida, Toda sensei dizia a meu respeito: “Nenhum outro discípulo se compara a Shin’ichi. Sei que ele conseguirá de se sair bem em qualquer situação. Treinei-o para ser uma pessoa capaz de discutir ideias até mesmo com os mais eminentes líderes ou intelectuais”. Toda sensei fez de mim quem sou hoje.

Após o falecimento do seu mestre, Daisaku Ikeda assumiu a liderança da Soka Gakkai em 3 de maio de 1960, com o objetivo único de propagar com esplendor o que aprendera com Josei Toda, e perpetuar por todo o Japão e para o mundo a filosofia de Nichiren Daishonin.⁶

Em conformidade com os ensinamentos de Nichiren Daishonin, a Soka Gakkai propagou a Lei Mística por todo o Japão, conduzindo milhões de pessoas à prática. Também difundiu o Budismo Nichiren no mundo. Incontáveis membros, tendo superado vários problemas e sofrimentos por meio da fé, hoje desfrutam uma vida feliz, repleta de grandiosos benefícios.

Além de trabalhar incansavelmente para a propagação do budismo pelo mundo, Daisaku Ikeda dedicou-se de maneira infatigável para a restauração da paz, especialmente no período em que a humanidade vivenciava com tensão a iminente eclosão de um conflito mundial com a Guerra Fria. Em 1974, ele visitou a China e a União Soviética no auge do embate ideológico entre os dois países, com o forte desejo de conter o avanço da animosidade entre aquelas nações. Era uma atitude de extrema coragem.⁷

O maior temor de Shin’ichi era que pudesse irromper uma guerra entre os dois países [China e União Soviética] — ambos detentores de armas nucleares —, e sentia que deveria impedir tal fato a todo custo. Ele estava determinado a fazer o que estivesse ao seu alcance para assegurar isso. Nutria fé no poder do diálogo. Como budista, acreditava no ser humano; tinha certeza de que, por meio do diálogo, seria possível sensibilizar a consciência das pessoas e evitar a guerra.

(...)

Shin’ichi expôs com total franqueza ao vice-presidente da Associação da Amizade Sino-Japonesa, Zhang Xiangshan:

— Perdi meu irmão mais velho na guerra, e minha casa foi incendiada nos ataques aéreos. Sou total e inteiramente contra as guerras. Devo lhe perguntar: “A China invadirá outro país?”.

O vice-presidente Zhang garantiu:

— A história chinesa tem sido de invasões e ataques de outras nações. Sabemos melhor que ninguém da importância da independência nacional e como é deplorável sofrer uma invasão. Desse modo, acredito que a China jamais invadirá outro país.

Shin’ichi sentiu que a resposta era muito significativa. Os chineses tinham ciência de que Shin’ichi faria uma visita à União Soviética no outono daquele ano. Aquela poderia, perfeitamente, ter sido uma mensagem que eles desejavam que ele transmitisse à União Soviética.

Esse episódio tão marcante na história da paz mundial teve atuação direta do presidente Ikeda. Seu coração magnânimo e sua repulsa pela guerra foram determinantes para que ele agisse com precisão e dinamismo.

A coragem altera a rota da vida

A dedicação pela paz empreendida em seus 93 anos faz do presidente Ikeda um dos mais importantes líderes pacifistas da humanidade. Seus esforços em prol da paz, cultura e educação foram reconhecidos por instituições de diversas partes do mundo, e o número de títulos honorários, homenagens acadêmicas e demais reconhecimentos somam mais de 3 mil. O abnegado empenho dele para apresentar o caminho da revolução humana, no aspecto individual, e a efetiva construção da paz mundial, no aspecto global o tornam um autêntico modelo de notável ser humano, digno de absoluto respeito. 

Em todas as fases da vida, Ikeda sensei apoderou-se da coragem para enfrentar os desafios mais severos, e sua determinação em vencer absolutamente em tudo, apresentando o caminho da vitória aos discípulos do mundo, é fonte de grande incentivo. Dessa forma, aprender com o exemplo do Mestre, manifestar a coragem e avançar um passo sequer, independentemente das adversidades, serão fatores preponderantes para se construir uma vida brilhante e inspiradora. Coragem é a palavra-chave!

Notas:

1. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana, v. 24, p. 36.

2. Ibidem.

3. Ibidem, p. 39.

4. RDez, ed. 126, jun. 2012, p. 18-19.

5. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana, v. 19, p. 204-205.

6. Ibidem, v. 26, p. 299.