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Na prática

Desfrute os Três Tesouros

Iniciamos o “Ano dos Jovens e do Progresso Dinâmico”, tema de 2022 da Soka Gakkai. No começo de cada ano, um frescor envolve o coração das pessoas, com a esperança de que o novo ciclo seja repleto de avanços em todas as áreas da vida. E principalmente após o mundo ter enfrentado nos últimos dois anos a pandemia do novo coronavírus, considerado o maior desafio humanitário desde a Segunda Guerra Mundial — conforme declaração do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres.1 Sabemos que a doença ainda requer atenção e cuidados e está longe de ser totalmente controlada. Mas, no Brasil, gradativamente, as atividades socioeconômicas estão sendo retomadas, resultado do avanço da vacinação contra a Covid-19 em todo o país. Na esperança de que você coroe 2022 com progressos efetivos, a seção Na Prática da edição apresentará um importante escrito de Nichiren Daishonin — Os Três Tipos de Tesouro. Nele, o buda expõe os tesouros do cofre, do corpo e do coração, expressando o modo de viver de uma pessoa sábia. Com esse ensinamento, podemos compreender que, a partir da contínua prática budista, é possível refinar o tesouro do coração, o mais importante entre eles, e obter uma vida radiante de imensa boa sorte e abundância dos demais tesouros.

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11/01/2022

Desfrute os Três Tesouros

Os Três Tesouros

Como citamos no início, nosso tema central se encontra na carta de Nichiren Daishonin, Os Três Tipos de Tesouro.2 Foi endereçada em setembro de 1277 a um de seus principais discípulos, Shijo Kingo — o qual era samurai, tinha conhecimento de medicina e trabalhava na área de obras públicas prestando serviços ao lorde Ema. No escrito, Daishonin procura instruir seu discípulo sobre a importância de viver de maneira sábia, e esclarece qual deve ser o comportamento humano correto, sobretudo em ocasiões de grandes adversidades. Isso porque, Shijo Kingo, ao tentar converter seu lorde aos ensinamentos de Nichiren Daishonin, acaba desencadeando a antipatia de Ema, além de motivar outros companheiros vassalos a espalhar falsas acusações sobre o samurai, desprestigiando seu nome. Como resultado, o lorde Ema acabou reduzindo o tamanho dos feudos de Kingo, o que na época significava enorme perda.

No trecho inicial da carta, Nichiren Daishonin diz a seu discípulo que, mesmo diante das severas adversidades, ele deveria se lembrar das dívidas de gratidão ao seu senhor feudal, e explica que, conforme o ensinamento budista, a profunda mudança no interior de uma pessoa invariavelmente produz mudanças no ambiente que a cerca. Portanto, Daishonin afirma que seria fundamental acumular “o tesouro do coração”.

“Mais valioso que o tesouro do cofre é o do corpo. Porém, nenhum é mais valioso que o tesouro do coração. A partir do instante que ler esta carta, esforce-se para acumular o tesouro do coração!”3

Nessa mesma época, o lorde Ema adoentou-se, e Kingo, ao empregar suas habilidades médicas, conseguiu restabelecer a saúde dele. O lorde ficou tão agradecido que, em 1278, não apenas lhe restituiu as propriedades, como também as aumentou.

A vitória de Shijo Kingo foi deveras grandiosa. Mas voltemos ao ponto inicial: por que Daishonin instruiu Shijo Kingo de tal maneira? O Buda sabia que o samurai era uma pessoa de comportamento impulsivo, por isso o orientou a se comportar de modo admirável no cotidiano e a manifestar consideração pelas pessoas. Como vimos no exemplo, ao acolher as orientações do seu mestre, Kingo esmerou o tesouro do coração, e com isso, o tesouro do corpo (habilidades para tratar a saúde do senhor feudal) e o tesouro do cofre (aumento das propriedades) foram obtidos.

A seguir, apresentaremos o que seriam, de fato, os tesouros mencionados na carta.

O que são eles

Os três tesouros relatados por Nichiren Daishonin na carta são: o tesouro do cofre, que corresponde aos bens materiais; o tesouro do corpo representa o corpo físico, a saúde, as habilidades e capacidades; e o tesouro do coração são a força interior, o brilho, a riqueza de caráter e de humanidade da pessoa.

Em vista da definição de cada um dos tesouros, podemos afirmar que todos são essenciais para qualquer indivíduo. Vale ressaltar: mesmo a maior das riquezas acumuladas — o tesouro do cofre — não é inesgotável e tudo pode desvanecer num único instante. No entanto, se temos saúde — o tesouro do corpo —, podemos batalhar arduamente e recuperar esses bens. Então, dessa perspectiva, nosso corpo e a saúde são mais importantes que as riquezas materiais. É por essa razão que o buda Nichiren Daishonin escreve: “Mais valioso que o tesouro do cofre é o tesouro do corpo”.4 Vamos adiante na reflexão. Mesmo o corpo perde força e robustez com a idade avançada, ou seja, ele não é eterno. Ainda que o tesouro do cofre e o do corpo sejam importantes, não são garantia da felicidade.

O presidente Ikeda, no romance Nova Revolução Humana, define com clareza o tesouro do coração.

Não podemos ver o coração, que tem a chave para a saúde e felicidade e possui poder ilimitado. Mas podemos perder o tesouro do cofre e o tesouro do corpo. Enquanto tivermos o tesouro do coração, podemos viver de forma alegre e estabelecer um sólido estado de vida de felicidade.
O tesouro do coração não está restrito a esta vida. Ele adorna nosso coração para sempre, através das três existências e também é a principal fonte que nos permite conquistar os tesouros do cofre e do corpo. A felicidade genuína não é determinada pelo tesouro do cofre ou do corpo, mas sim pela força interior e riqueza de nosso coração. Se nosso coração arde de esperança e coragem a todo o momento e está repleto de espírito de desafio, estaremos transbordantes de alegria e vigor não importando nossas circunstâncias. Essa é a verdadeira felicidade.5

O tesouro do coração é a fonte de inesgotável coragem, alegria e vivacidade. Ele nos permite conquistar sabiamente o tesouro do cofre e o tesouro do corpo, essenciais para a manutenção da vida cotidiana.

Em outro volume do romance, o presidente Ikeda incentiva os membros de Fukushima, especialmente os que estão enfrentando os desafios econômicos, como o desemprego.

Três fatores-chaves

— Não só aqueles que trabalham nas minas de carvão, mas muitos outros, inclusive os que estão empregados em setores similares e em empresas locais, também estão enfrentando adversidades [...]. Ao se defrontarem com os maiores desafios da vida, é importante orar fervorosamente. Como expressa Daishonin: “[Ore] com forte convicção, capaz de produzir fogo com lenha encharcada ou obter água do chão ressequido”.6 Nessas horas, é fundamental orar seriamente com total determinação. Quando oramos, acumulamos benefícios, conseguimos manifestar uma poderosa energia vital e sabedoria [tesouro do coração]. Então, precisamos evocar essa sabedoria, ponderar meticulosamente e tomar uma atitude corajosa. É um erro pensar que basta apenas orar, que isso fará um bom emprego cair do céu em seu colo. [...] Os fatores-chave para melhorar a sua situação são a recitação resoluta do Nam-myoho-renge-kyo, a reflexão meticulosa e a ação arrojada.
[...]
— Quando se perde o meio de sustento, a tendência comum é se sentir deprimido, e se não houver nenhum prospecto aparente, pode-se facilmente cair na apatia e no desespero. Se em ocasiões como essa você se mantiver repleto de energia vital e entusiasmo, pronto a encarar os desafios que se encontram à sua frente, poderá transmitir enorme coragem aos outros. A coragem se propaga como efeito cascata.
[...]
— Quanto mais dura a situação, mais resplandecente será o brilho do “tesouro do coração”. Minas de carvão podem fechar e a situação econômica pode ser ruim, mas o “tesouro do coração” jamais será destruído. Ele não desaparece. E podemos construir tudo com ele. Adversidades consistem em oportunidades magníficas para cada um de nós demonstrar a grandiosidade da nossa fé e da prática budista.7

No trecho, o presidente Ikeda indica três fatores-chave para que o tesouro do coração seja lapidado, e o provável resultado desse empenho é a conquista do objetivo almejado. Os fatores mencionados são: a recitação resoluta do Nam-myoho-renge-kyo, a reflexão meticulosa e a ação arrojada. Dessa forma, a partir dos direcionamentos do Mestre, apresentamos recomendações de como pô-las em prática na vida diária.

Recitação resoluta do Nam-myoho-renge-kyo

A oração provoca a mudança no coração, no mais profundo âmago da nossa vida. A energia vital gerada pela recitação do daimoku, [...] não somente nos conduz a trilhar uma jornada de grandes realizações, mas nos habilita a inspirar, com nossa postura, outras pessoas a vencer seus intensos desafios. Esse conjunto de realizações é a mais preciosa fortaleza da boa sorte de um ser humano.8

Por esse motivo, recite daimoku canalizando em seu coração a determinação de avançar e vencer impreterivelmente.

Reflexão meticulosa

Na carta endereçada a Shijo Kingo, diante dos perigos iminentes que seu discípulo enfrentava, Nichiren Daishonin recomendou:

Muitos conspiram para destruí-lo; porém, o senhor sempre evitou se envolver nessas intrigas e, assim, tem sido vitorioso. Se perder o domínio de si agora e cair na armadilha deles, será, conforme a crença popular, como um barqueiro que rema com todas as forças, mas naufraga justo quando está próximo de alcançar terra firme.9

Como Shijo Kingo era uma pessoa de comportamento intempestivo, Daishonin o alertou para que ele não agisse impulsivamente contra aqueles que o açoitavam. Por isso, era fundamental para ele ponderar calmamente antes de tomar qualquer atitude.

A reflexão com tranquilidade e sabedoria oriundas do resoluto daimoku não nos deixa baixar a guarda e incorrer em falhas como o escapismo ou a covardia diante das intempéries, e ela ecoa em nosso comportamento quando nos defrontamos com situações adversas.

Ação arrojada

Com as instruções de Nichiren Daishonin, Shijo Kingo agiu de maneira adequada perante as adversidades. Entre as mais desafiadoras estava o fato de o senhor feudal ter confiscado parte de suas terras. Ainda assim, diante da enfermidade do lorde, Kingo aplicou seus conhecimentos médicos para tratá-lo. Foi uma ação arrojada, desprendida de rancor, e, em gratidão, o lorde lhe concedeu novas terras.

A coragem para efetivamente entrar em ação, oferecer o seu melhor e se esforçar intensamente no que é preciso ser feito, independentemente do grau de complexidade do encargo, infalivelmente abrirá as portas da boa sorte e dos benefícios.

Perceptível e não perceptível

Os benefícios pela ótica do budismo derivam da fé no Gohonzon e são descritos como perceptíveis (tesouro do cofre e tesouro do corpo) e imperceptíveis (tesouro do coração). O presidente Ikeda explica:

O benefício perceptível é o visível, como ser protegido quando ocorre algo ou conseguir superar rapidamente o problema quando ele surgir como uma doença, um conflito de relacionamento pessoal etc. O benefício imperceptível já é menos evidente. É a boa sorte acumulada aos poucos, com constância, como uma árvore que se desenvolve lentamente ou a maré que se levanta, resultando na formação de um rico e vasto estado de vida. Talvez nós não consigamos discernir nenhuma mudança na vida diária, mas, com o passar dos anos, ficará evidente que nos tornamos felizes e que crescemos como indivíduos. Este é o benefício imperceptível. Com daimoku, com certeza obterão o melhor resultado, não importa se o benefício é perceptível ou imperceptível.10

Como vimos anteriormente, o tesouro do coração é a fonte abundante de coragem, esperança, otimismo, alegria e muita vivacidade — isto é, os benefícios imperceptíveis. O tesouro do coração nos permite conquistar também o tesouro do cofre e tesouro do corpo, ou seja, os benefícios perceptíveis.

Prezar cada momento

Como bem sabemos, nossa vida é um tesouro imensurável. Devemos prezar cada momento com atitudes concretas — tais como cuidar da saúde, cultivar boas relações, dedicarmo-nos para ampliar os conhecimentos, recitar resoluto daimoku e contribuir sinceramente para a felicidade daqueles ao redor. Essas ações são fundamentais para que os três tesouros — especialmente o tesouro do coração — reluzam por todo o ano de 2022, permitindo que você os desfrute de forma consciente e sábia a cada dia.

Notas:

1. Disponível em: https://eaesp.fgv.br/producao-intelectual/pesquisa-anual-uso-ti. Acesso em: 11 out. 2021.

2. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Brasil Seikyo, v. II, p. 109, 2017.

3. Ibidem, p. 112.

4. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Brasil Seikyo, v. II, p. 112, 2017.

5. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 22, p. 265, 2019.

6. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Brasil Seikyo, v. I, p. 464, 2020.

7. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 25, p. 75-76, 2019.

8. Terceira Civilização, ed. 639, dez. 2021, p. 31.

9. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Brasil Seikyo, v. II, p. 110, 2017.

10. IKEDA, Daisaku. Juventude: Sonhos e Esperança. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 2, p. 148, 2020.

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