marcar-conteudoAcessibilidade
Tamanho do texto: A+ | A-
Contraste
Cile Logotipo
Na prática

Evidencie uma força capaz de superar os “três venenos”

download do ícone
ícone de compartilhamento

01/08/2022

Evidencie uma força capaz de superar os “três venenos”

No Estudo da edição, o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, cita o filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883–1955), pois este lastimava a forma como as pessoas dos tempos modernos estavam desorientadas com o curso da vida:1

De um lado, viver é algo que cada um faz de si e para si. Do outro, se a minha vida, que só diz respeito a mim, não for direcionada por mim a algo, será desconexa, carecendo de tensão e de “forma”. Nestes anos estamos testemunhando o gigantesco espetáculo de inumeráveis vidas humanas vagando perdidas em seus próprios labirintos, por não terem nada a que se entregar.

Mesmo hoje, muitos estão presos àquilo descrito por Ortega como o labirinto do egoísmo. Essa ilusão faz com que as pessoas não reconheçam seus valores, suas potencialidades e capacidades em edificar uma significativa trajetória. Essa descrença em si é reconhecida no budismo como elemento dos “três venenos”. Por essa razão, cultivar o coração e manter-se constantemente no modo “romper os limites” e “desafiar a si próprio” são atitudes que afastam o egoísmo e a condescendência — comportamentos que geram sofrimento e angústia às pessoas. E para alcançar essa disposição, a prática budista torna-se uma importante ferramenta em esmerar corpo e mente, e como consequência, obter significativos progressos em todas as áreas da vida.

Assim sendo, a seção Na Prática lhe mostrará como evidenciar uma extraordinária força interior capaz de superar os três venenos.

Fio de Ariadne

Antes de detalharmos o princípio budista estudado em questão, discorreremos sobre a expressão da mitologia grega “fio de Ariadne”, citada pelo presidente Ikeda na Proposta de Paz de 2021. No documento, ele atesta quanto a pandemia abalou profundamente a comunidade internacional. Mas, apesar disso, a compaixão e a comunhão entre os povos serão o fio da esperança que possibilitará a todos ultrapassar esse difícil cenário:2

A pandemia impactou gravemente o mundo, e encontrar o caminho para fora desse labirinto está longe de ser fácil. No entanto, acredito que o “fio de Ariadne”, que permitirá a cada um de nós emergir dessa crise, se tornará visível quando nos deixar­mos ser tocados pelo peso da vida de cada pessoa e, a partir daí, considerarmos o que seria mais ur­gente fazer para proteger e apoiar essa vida.

A história do fio de Ariadne3 surge da antiga lenda grega sobre Teseu e o Minotauro. Segundo uma versão dessa mitologia, os atenienses eram obrigados a sacrificar sete rapazes e sete moças a cada nove anos em oferecimento ao Minotauro — uma criatura com cabeça de touro e corpo de homem que vivia no centro de um labirinto. Em certo ano, Teseu, o herói, ofereceu-se para matar o Minotauro. Ao chegar a Creta, a filha do rei, Ariadne, apaixonou-se por ele. Ela lhe deu um novelo de linha para ele navegar pelo labirinto. Teseu desafiou, lutou, venceu o monstro e, ao cumprir sua missão, refez o caminho de volta trazendo ainda outras pessoas para fora do labirinto.

A seguir, compreenderemos qual a afinidade entre a mitologia e o princípio budista.

O que são os “três venenos”?

Os ensinamentos do budismo dizem que os “três venenos” — avareza, ira e estupidez — são referidos como a fonte de desejos destrutivos e egoístas. O presidente Ikeda detalha:4

A avareza põe todos os cinco órgãos dos sentidos numa busca perpétua e insaciável por satisfação — fortuna, amor, alimento, fama, ócio e assim por diante — drenando sua força vital inata. Quando nossa vida é dominada pela avareza, nossa energia é direcionada para o objeto do nosso desejo, enfraquecendo-nos como se o sangue estivesse sendo drenado do corpo.
A ira indica a perversidade proveniente do ódio, que impede que o coração se incline para a bondade e perturba a relação harmoniosa entre o indivíduo e as demais pessoas. Essa perturbação pode levar a conflitos de proporções colossais, gerando discórdias e guerras que podem eventualmente destruir nossa vida.
A estupidez diz respeito ao fato de ignorar a própria natureza de buda e é caracterizada pela cegueira à lei de causa e efeito, bem como pela busca cega pelo ganho imediato. A estupidez impede que as pessoas percebam os danos que uma maneira imprudente de viver causa ao seu corpo e à sua mente.

O labirinto citado na mitologia grega pode ser associado às crenças constituídas pelos três venenos. Assim como vimos em cada elemento do princípio budista: a busca perpétua e insaciável por satisfação; e a perversidade proveniente do ódio, que impede o coração de se inclinar para a bondade e ignorar a própria natureza de buda. Assim como o labirinto, os três venenos podem desorientar os indivíduos, ocasionando profunda dor e infortúnio ao tirá-los do caminho da felicidade.

Por outro lado, o hábito de se dedicar ininterruptamente à prática budista para cultivar um coração genuíno, bem como de se apropriar dos valores verdadeiros dos ensinamentos de Nichiren Daishonin e da visão brilhante do nosso Mestre, rompe o casco do egoísmo tornando-se uma rota efetiva, o “fio condutor” para se obter rica existência.

Sabemos que, para isso, é necessária uma grande dose de empenho. O lado bom é que vale a pena. O esforço contínuo é apontado por estudos científicos como uma prática eficiente para alterar o rumo de uma vida desgovernada. Vamos entender essa declaração.

Cultivar importantes hábitos diários

Cientistas americanos, patrocinados pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês), constataram que maus hábitos podem ser substituídos por novos comportamentos. A ciência vem se certificando de que as pessoas podem fazer mudanças positivas ao longo da vida, desde que haja disposição para refletir sobre os próprios hábitos e, principalmente, a forma com a qual eles foram cultivados. Importante ressaltar que, independentemente do comportamento a ser renunciado, todos os hábitos podem ser substituídos por outros bem melhores.

Existe também outro componente psicológico: crenças sobre nós mesmos que, de tão internalizadas, nem sequer as questionamos.

“Uma pessoa tem uma crença disfuncional de que tudo vai dar errado sempre, mas ela nem se dá mais conta disso. Então, é convidada a uma festa. Oito pessoas sorriem para ela, mas duas viram a cara. Ela só guarda essa avaliação ruim, o que gera uma emoção (negativa) e a faz voltar para casa triste”, descreve o psicólogo Ivo Emílio Jung, pesquisador de hábitos na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).5

Diante disso, listamos algumas possibilidades para você identificar e abandonar hábitos que impactam negativamente sua vida, e cultivar novos comportamentos mais saudáveis e de valor.

Reconheça o loop do hábito

Por exemplo, o que o leva a não alcançar objetivos lançados? A não ter constância e persistência? A ficar desestimulado facilmente? O primeiro passo é reconhecer a razão fundamental de um hábito “prejudicial”.

Descubra o gatilho

Quando surgir a vontade de desistir novamente do que se propôs a conquistar, tente perceber o que despertou esse desejo. Foi o desânimo em “pensar” que realizar esse feito é trabalhoso? Dar prioridades a tarefas secundárias? O gatilho é a porta de entrada para o mau costume.

Teste uma nova gratificação

Lance objetivos considerados por você mais simples de ser atingidos. Alcançar uma meta lançada, mesmo que seja aparentemente simples, poderá interromper o “hábito” de simplesmente desistir do que decidiu conquistar.

Reflita e faça um plano

Estabeleça prazos para rever sua meta. O que funcionou mais? O que fiz para dissuadir o pensamento de desistir? Se acaso se sinta confortável, compartilhe seu intento com alguém de confiança, e peça para que a pessoa de tempos em tempos verifique seus avanços.

Na sequência, apresentaremos a história do recordista mundial Emil Zatopek. Ele cultivava pequenos e importantes hábitos diários que o fizeram a atingir feitos extraordinários.

Desafiar a si próprio

Sexto filho de uma família pobre da então Tchecoslováquia, Emil Zatopek (1922–2000) se tornou mundialmente conhecido como a “locomotiva humana”. Em 1952, nos Jogos Olímpicos de Helsinque, Finlândia, alcançou o feito de ser o único atleta a vencer as provas de 5 e 10 mil metros e a maratona, em uma mesma edição olímpica.

Zatopek submeteu-se a um regime diário de treinamentos para alcançar esse intento. Era uma preparação contínua de resistência física e fôlego, mesmo no caminho para o trabalho. Ele media até que ponto poderia caminhar com uma única respiração, tomando como referência os postes da rua. “Hoje, consegui caminhar até o quarto poste. Amanhã vou desafiar chegar até o quinto!”.6

A determinação e o hábito incessante de “romper os limites” fortaleceram seu corpo e sua mente. Mesmo oriundo de família humilde, não internalizou crenças negativas — aspectos dos três venenos. Esse comportamento em desafiar a si próprio foi o “fio” que o conduziu pelo intrincado labirinto da vida rumo à superação e à vitória.

Romper os limites

Cultivar bons hábitos e romper a estagnação, além de constituir uma capacidade interior, são atitudes que nos possibilitam desenvolver sabedoria e força capazes de enfrentar os desafios com altivez. Ikeda sensei afirma:

Se evitarem todos os esforços e buscarem conforto e tranquilidade, seu espírito enfraquecerá e se estagnará. Não tenham uma vida vazia e insignificante. Dediquem-na ao mais elevado bem, a cumprir sua missão, a cumprir também a responsabilidade que lhes foi confiada. Assim é nossa fé. Assumindo esse desafio, conduzimos uma vida de ilimitada esperança, realização e criação de valor.7

Essa diretriz do Mestre relaciona-se diretamente tanto ao exercício de criação de novos hábitos como ao exemplo do atleta Zatopek, e ilumina o caminho para romper as crenças que limitam nosso avanço e aprimoramento. Como budistas, temos ao nosso alcance o treinamento diário da fé, os valores filosóficos de Nichiren Daishonin e as orientações do presidente Ikeda, além do genuíno relacionamento cultivado com os integrantes da organização. Esses são os “fios” que nos conduzem diariamente, nos libertam do labirinto do egoísmo e nos possibilitam triunfar sobre os três venenos.

Certamente essa jornada, que nos conduzirá “para fora do labirinto”, nos fortalecerá e nos impulsionará para um progresso mais elevado em todas as áreas da nossa vida; e, durante a nossa existência, veremos também quanto contribuímos para que muitas outras pessoas perseverassem pelo caminho da vitória.

No topo: Presidente Ikeda faz “V” da vitória após discurso (Japão, abr. 2009). Foto: Seikyo Press

Notas:

1. Terceira Civilização, ed. 648, ago. 2022, p. 62.

2. Terceira Civilização, ed. 633, maio 2021, p. 26.

3. Idem, ed. 524, abr. 2012, p. 38.

4. IKEDA, Daisaku. Desvendando os Mistérios da Vida e da Morte. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 79.

5. Cf. Disponível: https://super.abril.com.br/comportamento/como-melhorar-de-vez-seus-habitos/ Acesso em: 7 jun. 2022.

6. IKEDA, Daisaku. Juventude — Sonhos e Esperança. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 1, p. 38, 2019.

7. RDez, ed. 108, dez. 2010, p. 4.

Compartilhar nas