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Especial

Jornada de mestre e discípulo — os 95 anos da vida de Ikeda sensei

O descortinar do kosen-rufu a partir de um encontro místico

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Seikyo Shimbun

08/01/2024

Jornada de mestre e discípulo — os 95 anos da vida de Ikeda sensei

Parte 1: A honra dos discípulos de Josei Toda

A vida de Ikeda sensei se encerrou aos 95 anos. Ela foi uma prova incontestável de quão grandiosa pode ser uma jornada quando se abraça com a vida o caminho de mestre e discípulo da Lei Mística. A esplêndida trajetória dele será narrada em partes neste especial intitulado Jornada de Mestre e Discípulo — Os 95 Anos da Vida de Ikeda Sensei. Esta primeira parte tem como tema “A Honra dos Discípulos de Josei Toda”. Descreve a juventude resiliente e a devoção abnegada pela propagação da Lei de Ikeda sensei desde o encontro com seu venerado mestre, Josei Toda, até a sua posse como terceiro presidente da Soka Gakkai.

Em busca da grande árvore

Naquele instante, iniciou-se um movimento popular sem precedentes, o qual tinha como base a revolução humana de um único indivíduo que contribui para a construção da paz mundial.

Em 14 de agosto de 1947, o jovem Ikeda se encontrou pela primeira vez com Josei Toda, e esse episódio foi determinante para a vida dele.

Nesse dia, a convite de uma colega da época do ensino fundamental, Ikeda sensei participou de uma reunião de palestra no bairro de Ota, Tóquio. Ao chegar ao local, Toda sensei explanava o escrito Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra.

Em meio à sociedade devastada do pós-guerra, Ikeda sensei, com 19 anos e em busca de um “modo de vida correto”, foi tocado pela personalidade de Josei Toda. Naquele momento, ele decidiu dedicar a vida para seguir Toda sensei em seu coração: “Eu seguirei este mestre. Eu trilharei este caminho”. O que comoveu Ikeda sensei em particular foi o fato do seu mestre ter enfrentado e resistido ao militarismo japonês, inclusive ficando preso.

Durante a reunião, Ikeda sensei expressou sua gratidão por meio de um poema que acabara de criar:

“Ó viajante! / De onde vens? / e para onde irás? / (...) A grande árvore / eu procuro /
que nunca se abalou / na fúria da tempestade. / Neste encontro ideal, / sou eu quem / surge da terra!”.

Ao ouvir esse poema, que tinha relação com o “bodisatva da terra” mencionado no Sutra do Lótus, seu mestre sorriu gentilmente. Dez dias depois, em 24 de agosto, Ikeda sensei se converteu ao budismo. Assim foi descortinado o início do drama “revolução humana é a própria paz mundial”.

O ideal em meio à adversidade

Em 3 de janeiro de 1949, Ikeda sensei ingressou na editora Nihon Shogakkan, dirigida por Toda sensei. Ele começou a trabalhar na edição da revista juvenil Boken Shonen [Aventura dos Meninos] (depois renomeada Shonen Nippon [O Japão dos Meninos]) e, em maio, tornou-se editor-chefe.

No entanto, devido aos impactos da recessão econômica pós-guerra, em outubro do mesmo ano, anunciou-se o encerramento da publicação de Shonen Nippon.

Em busca da recuperação, seu mestre fundou uma cooperativa de crédito. Contudo, em agosto do ano seguinte (1950), decidiu-se pela paralisação das operações. Ikeda sensei registrou em seu diário: “Mais uma vez, avançarei junto com (Toda) sensei para a próxima construção. Somente isso. Sempre adiante, eternamente em frente”.

Em 24 de agosto do mesmo ano, coincidindo com o terceiro aniversário de sua conversão ao budismo, seu mestre anunciou a intenção de renunciar ao cargo de presidente da Soka Gakkai. Enquanto algumas pessoas simplesmente viravam as costas, insultando-o e deixando-o, Ikeda sensei foi o único a apoiá-lo firmemente e a permanecer ao seu lado.

No auge da crise, Toda sensei compartilhou com Ikeda sensei suas ideias sobre o lançamento do jornal Seikyo Shimbun e a fundação de uma universidade.

A partir do outono de 1950, Toda sensei iniciou a explanação e o estudo dos escritos de Nichiren Daishonin para alguns representantes, em especial, para Ikeda sensei. Em fevereiro do ano seguinte, passou a explanar também obras clássicas de várias épocas e origens. Os estudos de domingo se transformaram em aulas particulares para Ikeda sensei que abrangiam ampla gama de disciplinas acadêmicas.

Essas explanações e esses estudos na “Universidade Toda” continuaram até 1957. Anos mais tarde, Ikeda sensei passou a ser agraciado com inúmeras honrarias acadêmicas de diversas universidades e instituições de ensino. Ele sempre expressou sua profunda gratidão ao seu mestre, afirmando que “Tudo é resultado da instrução inspiradora que recebi na Universidade Toda”.

A relação que compartilha sofrimentos e alegrias

Os desafios da reorganização da cooperativa de crédito eram imensos. Toda sensei estava em uma situação na qual poderia ser processado por alguns credores ou até ir para a prisão.

No entanto, em fevereiro de 1951, houve uma reviravolta nos acontecimentos. Um comunicado do Ministério das Finanças indicava que, mediante consenso entre os membros, a cooperativa poderia ser dissolvida.

Em 11 de março desse mesmo ano, a cooperativa foi dissolvida e, durante uma assembleia extraordinária da Soka Gakkai, seu mestre fez a seguinte declaração: “Agora é o outono da ampla propagação da nação. Já se vislumbram os sinais da propagação na Ásia Oriental. Finalmente chegou o momento para os guerreiros da Soka Gakkai, que abraçaram a missão budista, avançarem na vanguarda”.

Ikeda sensei, jubilante com o rugido do leão do seu mestre, lançou-se ao desafio de promover diálogos junto com seus companheiros. E, liderando o movimento vanguardista da expansão do budismo, solenemente celebrou a posse de Toda sensei como segundo presidente da Soka Gakkai, em 3 de maio desse ano.

Toda sensei compôs um poema e registrou-o no verso de uma das fotos comemorativas de sua posse, e presenteou seu jovem discípulo:

Como é mística
essa relação cármica em que, juntos,
compartilhamos sofrimentos e alegrias
no presente
e também no futuro.

A prova do discípulo

Durante a cerimônia de posse como segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda proclamou que faria a propagação do budismo para 750 mil novas famílias.

A quantidade de membros da organização na época era de cerca de 3 mil. Todos consideraram a declaração de Josei Toda uma fábula, tanto que alguns líderes até pensaram: “Toda sensei com certeza pretende viver muito”.

A expansão avançava a passos lentos. Em dezembro de 1951, o movimento de propagação tinha atingido 466 famílias em todo o país. A meta de 750 mil famílias parecia um futuro muito distante.

Quem quebrou essa “barreira” foi Ikeda sensei. No ano seguinte, em janeiro de 1952, ao ser nomea­do secretário do Distrito Kamata, ele concretizou a expansão do budismo para 201 famílias em apenas um mês, em fevereiro. A partir daí, a Soka Gakkai ganhou ímpeto e avançou.

O ano 1953 foi um período em que a campanha de propagação acelerou consideravelmente dentro da história da Soka Gakkai. Foi lançado o objetivo de realizar shakubuku em 50 mil famílias durante o ano, e este foi alcançado.

A força motriz desse espantoso crescimento foi a luta incansável empreendida por Ikeda sensei. Em janeiro desse mesmo ano, ele tinha sido nomeado líder da primeira legião da Divisão Masculina de Jovens e alcançou uma expansão de três vezes do número de “valores humanos” em seu grupo ao longo do ano. Em abril, foi nomeado responsável interino pelo

Distrito Bunkyo, transformando-o de um distrito decadente em distrito de primeira classe.

Sensei continuou a conquistar “provas incontestáveis da vitória como discípulo” em várias localidades. Em agosto de 1955, tendo como palco Sapporo, ele concretizou uma expansão recorde de 388 famílias em apenas dez dias. E em maio do ano seguinte, em Osaka, ele estabeleceu um marco dourado indestrutível da propagação de 11.111 novas famílias. No mês de julho, surpreendeu o mundo com uma virada espetacular no resultado das eleições, algo considerado inimaginável.

De outubro em diante, ele liderou a campanha de propagação em Yamaguchi durante 22 dias, conseguindo expandir a quantidade de famílias da localidade na época em cerca de dez vezes.

O juramento pela luta dos direitos humanos

O novo movimento humanístico da Soka Gakkai, que constrói a felicidade das pessoas comuns e a paz mundial, agora envolve o mundo inteiro.

A fonte que alimenta essa grande corrente é o forte juramento de Ikeda sensei de lutar pelos direitos humanos durante o Incidente de Osaka, ocorrido em 1957, bem como a luta dos presidentes Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda na prisão, na época da guerra.

Foi em 3 de julho de 1957 que sensei foi detido injustamente e preso sob a falsa acusação de violação das leis eleitorais. A justiça somente foi comprovada, após extensa batalha judicial que durou quatro anos e meio, em 25 de janeiro de 1962.

Ikeda sensei detalhou as tramas, o contexto e o significado do Incidente de Osaka em relação à história da Soka Gakkai no volume 11 do romance Revolução Humana.

A serialização do volume 11 da Revolução Humana no Seikyo Shimbun se encerrou em outubro de 1991. No mês seguinte, a Soka Gakkai conquistou a “independência espiritual” da Nichiren Shoshu. Em seguida, 1992 foi designado “Ano da Renascença Soka”, marcando o alçar voo da Soka Gakkai como religião mundial.

Ikeda sensei compartilhou sua reflexão, dizendo: “Tenho a profunda sensação de que a jornada do kosen-rufu registrada no volume 11 foi uma época de torrentes turbulentas percorrendo os vales que, no fim, moldaram a grande correnteza da ‘Renascença Soka’”. Os eventos de 1957, especialmente o Incidente de Osaka, determinaram o curso do movimento pelo kosen-rufu mundial no “Ano da Renascença Soka” de 35 anos depois, e ainda até os dias de hoje.

Uma batalha para acabar com a natureza do mal

Uma batalha para acabar com a natureza do mal

Toda sensei e Ikeda sensei participam do Festival da Juventude, realizado no estádio de atletismo de Mitsuzawa, em Yokohama (8 set. 1957)

"Embora tenha surgido em todo o mundo um movimento reivindicando a proibição dos testes com armas nucleares, meu desejo é ir além e atacar o problema pela raiz. Quero exibi-las e arrancar as garras escondidas na parte mais profunda dessas armas.”

Em 8 de setembro de 1957, durante o Festival da Juventude, realizado no estádio Mitsuzawa, em Yokohama, ressoou o vigoroso rugido do leão do segundo presiden­te da Soka Gakkai, Josei Toda.

“Proponho que a humanidade aplique, em cada caso, a pena de morte a toda pessoa responsável pelo emprego de armas nucleares, independentemente de qual país for, seja vencedor, seja perdedor”, declarou.

O mundo estava em meio à Guerra Fria, na época, e havia uma escalada na corrida armamentista com base na lógica da “dissuasão nuclear”. Testes nucleares estavam ocorrendo de forma repetida.

Pelo fim das armas nucleares, capazes de destruir a humanidade num instante, Toda sensei proferiu a Declaração pela Abolição das Armas Nucleares como primeiro testamento aos jovens.

Como praticante do budismo que considera a dignidade da vida como a mais sublime que existe, seu mestre era contra a pena de morte. No entanto, ele enfatizou a condenação à pena de morte para categorizar como mal absoluto a mente demoníaca daqueles que desejavam possuir e utilizar as armas nucleares.

Em novembro do mesmo ano, dois meses após o anúncio de sua declaração, Toda sensei planejava visitar Hiroshima. Contudo, sua saúde já estava muito debilitada e, na manhã da partida, ele desmaiou em sua casa. Ikeda sensei se recorda dos fatos dessa época:

“Quão profundos eram os sentimentos de (Toda) sensei em relação à terra arrasada de Hiroshima! Ele estava determinado a ir a Hiroshima, destruída pelas garras da função demoníaca, que são as armas nucleares, mesmo que isso custasse a sua vida”.

“O espírito do meu mestre, que desejou ir a Hiroshima, mesmo pondo em risco a própria vida, jamais se apagará do meu peito por toda a minha existência. Não, na verdade, isso se tornou o ponto primordial das minhas ações.”

Toda sensei planejava participar da convenção da Divisão Feminina de Jovens cujo tema era a Declara­ção pela Abolição das Armas Nuclea­res. Nessa atividade, Ikeda sensei participou como representante do mestre e conclamou a todas as integrantes da divisão que sucedessem o espírito da declaração.

Ao longo de sua vida, Ikeda sensei defendeu o espírito da declaração por meio de diálogos com líderes e pensadores do mundo e em suas Propostas de Paz, e se dedicou de corpo e alma a tornar realidade a abolição das armas nucleares.

Em 2017, passados sessenta anos da declaração, o Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPAN) foi adotado pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o apoio de 122 países. Em 2021, ele entrou em vigor com a ratificação de cinquenta países.

A monarca do mundo religioso

Em março de 1958, Toda sensei disse a Ikeda sensei: “Vamos realizar uma cerimônia que servirá de ensaio geral para o kosen-rufu, um preparativo”.

A evento foi realizado em 16 de março, reunindo 6 mil jovens vindos de todos os cantos do país. Estava prevista a participação do primeiro-ministro japonês da época, mas isso não se concretizou devido a interferências escusas. Toda sensei ficou muito indignado por essa quebra de compromisso com os jovens, mas decidiu promover uma “grande solenidade junto com os jovens”.

Em dezembro do ano anterior, Toda sensei, que havia concretizado o grande desejo e a missão de sua vida — a propagação do budismo para 750 mil famílias —, já se encontrava numa condição em que não conseguia mais calçar sapatos de couro. Mesmo assim, ele declarou que a Soka Gakkai era a monarca do mundo religioso e delegou o futuro aos jovens.

Após o 16 de Março, Toda sensei enfatizou a Ikeda sensei: “Jamais recue na luta contra a maldade”. Ele instruiu rigorosamente que lutasse até o fim contra as forças que tentavam perturbar e impedir o avanço da Soka Gakkai. Ikeda sensei repetiu reiteradamente esse testamento como firme diretriz para a Divisão dos Jovens e para toda a Soka Gakkai.

No dia 2 de abril de 1958, Toda sensei encerrou sua nobre vida de abnegada devoção pela propagação da Lei, aos 58 anos. Em 29 de abril do mesmo ano, Ikeda sensei correu a caneta sobre o papel:

“Vamos lutar, para provar ao mundo a grandiosidade do mestre. Vou lutar e avançar em linha reta. Lutarei resolutamente. Superarei as ondas furiosas dos obstáculos. Entrarei na juventude do ensino essencial”.

Com o coração da unicidade

Com o coração da unicidade

Após o término da solenidade de posse transbordante de alegria do terceiro presidente, jovens congratulam Ikeda sensei, lançando-o ao alto (auditório da Universidade do Japão, em Tóquio, 3 maio 1960)

Após a morte de Toda sensei, espalharam-se calúnias, tais como “A Soka Gakkai irá se desintegrar no ar”. Quanto mais as tempestades de críticas se intensificavam, mais inflamava o espírito de luta de Ikeda sensei.

Ele escreveu em seu diário: “Decidi dedicar minha vida inteira a declarar para o mundo o ideal do presidente Toda, seu último desejo, e a me empenhar para torná-lo realidade. Esta é minha única missão neste mundo”.1

Após a morte de Josei Toda, com o espírito de unicidade com o venerado mestre, Ikeda sensei assumiu toda a responsabilidade pelo kosen-rufu e continuou a enviar incentivos aos amigos.

No dia 3 de maio de 1960, sensei assumiu como terceiro presidente da Soka Gakkai. E para tornar realidade o ideal do kosen-rufu do seu mestre, ele parte em sua viagem para o mundo.

Ikeda sensei disse: “Se vocês protegerem o espírito de ‘mestre e discípulo’, sem falta despontarão líderes maravilhosos”. “Eu tenho certeza desse futuro”.

Fotos: Seikyo Press

Nota:

1. IKEDA, Daisaku. Diário da Juventude: A Jornada de um Homem Dedicado a um Nobre Ideal. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 478.

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