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Vida pura como o lótus

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11/06/2020

Vida pura como o lótus

Redação

A compreensão do princípio de “simultaneidade de causa e efeito” é fundamental para se praticar o budismo. Mas por que a flor de lótus é tão usada para explicá-lo?

Tudo ao mesmo tempo

No Budismo de Nichiren Daishonin, praticado e propagado pela Soka Gakkai Internacional (SGI), “simultaneidade de causa e efeito” é um princípio básico que consiste na ideia de que causa e efeito são “produzidos” ao mesmo tempo. O que seria “causa”? É o “exercício budista para atingir o estado de buda”. Já “efeito” se refere aos benefícios que podem ser conquistados a partir das causas realizadas — nesse caso, é também a condição do estado de buda.

Maravilhoso lótus

A flor de lótus é facilmente encontrada na literatura clássica oriental como símbolo de beleza, pureza e perfeição. Justamente por isso, foi elevada ao status de flor sagrada, sendo também conhecida como “lótus sagrado” e “lótus-da-Índia”. Devido ao perfume e à rara beleza, a flor de lótus é uma das mais festejadas da natureza. Mas, entre diversos fatores, existe um que faz dela a analogia perfeita para explicar a simultaneidade budista: o fato de gerar, ao mesmo tempo, flor e fruto. Única na natureza com tal característica, a flor de lótus surge bela, em meio a um pântano lamacento, carregando em si a causa (a semente) e o efeito (flor e fruto).

O Sutra do Lótus

O budismo foi fundado por Shakyamuni, príncipe do clã Shakya, na Índia, no século 5, antes da era cristã. Com o passar do tempo, seu ensinamento se propagou pelo país, migrou para a China e, depois, para o Japão. A partir daí, surgiram diferentes interpretações para o pensamento do buda Shakyamuni, dando origem a diversos sutras. Porém, nenhum deles, exceto o Sutra do Lótus — que apresenta o real pensamento pregado pelo Buda —, elucida a simultaneidade budista. Exatamente ao contrário, nesses demais ensinamentos defende-se a ideia de que a iluminação só será alcançada pelo indivíduo após incontáveis existências praticando o budismo. Portanto, é uma concepção que caracteriza outro conceito, o de “não simultaneidade de causa e efeito”. A flor de lótus também é usada como metáfora do 15º capítulo “Emergindo da Terra”, do Sutra do Lótus, para referir-se ao surgimento dos bodisatvas da terra.

Os “nove mundos”

No budismo é ensinado que cada pessoa possui, dez condições diferentes de vida, que vão do “mundo do inferno” ao “mundo dos budas”. Apesar de eles seguirem numa crescente, o conceito não funciona como uma escala de medida em que ontem a pessoa estava na fase um, hoje está na dois e amanhã na três. Os “dez mundos” são condições diferentes pelas quais o ser humano trafega, manifestando-as como reflexo da sua natureza interior. Por exemplo, se ele vive com base no “mundo do inferno”, todas as suas respostas, mesmo para as questões mais simples, terão como base essa característica de sofrimento. Da ótica da simultaneidade de causa e efeito, as condições de vida relativas aos “nove mundos” (nove primeiros dos “dez mundos”) correspondem à “causa”, e o mundo dos budas (o décimo mundo), ao “efeito”. Assim, no Budismo Nichiren, existe o conceito de “simultaneidade dos nove mundos” e do “estado de buda”. Isso significa que o estado de buda está sempre presente qualquer que seja a condição de vida dos nove mundos em que a pessoa esteja vivendo. Em outras palavras, todas as pessoas, mesmo vivendo em condições de sofrimento dos nove mundos, podem, imediatamente, extrair do interior de sua vida a suprema felicidade absoluta do mundo dos budas por meio da prática do Nam-myoho-renge-kyo. Sobre isso, Ikeda sensei enfatiza:

O estado de buda não é uma condição fixa ou estática. Assim como as flores e o fruto do lótus amadurecem ao mesmo tempo, o efeito, ou o mundo do estado de buda, desenvolve-se em nossa vida simultaneamente com a nossa prática budista pelo kosen-rufu. Nesse sentido, os bodisatvas da terra representam eterno avanço e eterno crescimento.2

O que mais podemos aprender com a flor de lótus:

Raízes profundas e fortes: A flor se enraíza nas profundezas do local em que nasce, seja num pântano ou em águas de cursos lentos e se prende com bastante força. Poderíamos comparar essa característica com a importância de manter uma fé aprofundada e forte para a conquista dos objetivos lançados.

Sementes duradouras: As sementes da Nelumbo nocifera, nome científico da flor de lótus, são capazes de se manter germináveis por até trinta séculos. No budismo, poderíamos compará-las com os efeitos da prática que abarcam não somente nossa existência, mas também as passadas e futuras.

Renascer diariamente: Durante seu breve tempo de vida, a flor de lótus exibe sua beleza máxima durante todo o dia, mas, à noite, ela fecha suas pétalas e submerge nas águas. Porém, no dia seguinte, renasce intacta e se abre novamente — simboliza o renascer diário por meio do qual a pessoa mostra seu grandioso potencial de buda.

Vida breve: A flor de lótus dura em média três dias, após florescer. Durante esse tempo, ela exibe toda a sua beleza e seu perfume. As pessoas poderiam se espelhar nesse exemplo e aproveitar cada momento da vida para manifestar o máximo do seu potencial e beleza interna e assim cumprir a sua missão.

Das profundezas: Outra característica marcante é que, quanto mais profundo e lamacento for o pântano, mais bela e perfumada será a flor. Se relacionarmos com a vida humana, podemos dizer que, quanto maior for o sofrimento, mais forte e iluminada será a condição que a pessoa alcançará.

Vida iluminada

Falar de simultaneidade de causa e efeito tomando como base a flor de lótus é realmente poético. Porém, é necessário lembrar quão importante é esse princípio básico, fundamental para se entender a causalidade budista. A causa e o efeito são criados ao mesmo tempo. Dessa forma, se quer ser feliz de verdade, é necessário pautar a vida numa condição elevada de vida, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. É como afirma Ikeda sensei:

A simultaneidade de causa e efeito é o verdadeiro aspecto do estado de buda. Essa é a realidade da iluminação de Nichiren Daishonin; portanto, fora disso não há estado de buda. Daishonin disse: “As práticas de Shakyamuni e as virtudes que ele consequentemente atingiu estão todas contidas nesta única frase: Myoho-renge-kyo. Se acreditarmos nessa frase, receberemos naturalmente os mesmos benefícios que ele recebeu”.3

Para se aprofundar mais, veja as matérias:

Sobre a teoria dos dez mundos, consulte BS, ed. 2.413, 11 ago. 2018.

Notas:

1. Teoria dos dez mundos: Também conhecida como “dez estados de vida”, essa teoria forma a base da filosofia de vida apresentada no Budismo de Nichiren Daishonin. Os dez mundos são: (1) mundo do inferno, (2) mundo dos seres famintos, (3) mundo dos animais, (4) mundo dos asura, (5) mundos dos seres humanos, (6) mundo dos seres celestiais, (7) mundo dos ouvintes da voz, (8) mundo dos que despertam para a causa, (9) mundo dos bodisatvas, e (10) mundo dos budas.

2. BS, ed. 1.455, 4 abr. 1998.

3. BS, ed. 1.542, 5 fev. 2000.

Fontes:

• Os Fundamentos do Budismo Nichiren Daishonin para a Nova Era do Kosen-rufu Mundial, v. 1 e 2.

A História Cultural da Flor de Lótus. In: Brasil Seikyo, ed. 1.455, 4 de abr. 1998.

O Mundo do Estado de Buda e os Nove Mundos do Tempo sem Início. In: Brasil Seikyo, ed. 1.492, 23 jan. 1999.

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