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Mestre e discípulo unidos pela justiça

Os Três Mestres Soka enfrentaram a prisão e sucessivos ataques das maldades para proteger o Budismo Nichiren, os companheiros e o movimento pelo kosen-rufu

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Redação

20/06/2024

Mestre e discípulo unidos pela justiça

Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1940, passou a vigorar a Lei dos Grupos Religiosos em todo o Japão. E, no ano seguinte, houve a revisão da Lei de Manutenção da Ordem Pública, a qual tinha como objetivo principal a opressão do pensamento e da religião. Sendo assim, ser contra o talismã xintoísta se tornou motivo de prisão, pois o xintoísmo era a base espiritual do Japão militarista.

Os detetives da polícia especial começaram a vigiar a Soka Gakkai em 1942 e, no ano seguinte, todas as reuniões estavam sob os olhares atentos deles. Além disso, o clero estava envolvido, e se uniu aos militares para implantar a unificação dos grupos religiosos.

Em junho de 1943, o clero aceitou passivamente o talismã xintoís­ta e, no mesmo mês, Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda foram chamados ao templo principal, sendo orientados a seguir as ordens do governo.

O presidente Makiguchi então declarou: “Nunca nos inclinaremos ante a Deusa do Sol”. Com essas palavras, ele e Josei Toda saíram do templo. Na volta, bastante indignado com o comportamento do clero, Makiguchi sensei disse: “Não temo a queda de uma religião tanto quanto temo a destruição de toda a nação. Temo a tristeza que isso causaria a Nichiren Daishonin. Não está na hora de admoestar o governo? Do que o clero tem medo? O que acha disso?”.1

Toda sensei ficou em silêncio, não sabia o que responder. Mais calmo, seu mestre perguntou novamente: “O que acha disso?”. Com a voz baixa, mas forte, Josei Toda fez seu juramento ao mestre: “Enquanto eu viver, seguirei o senhor fielmen­te. Estou pronto para morrer por nossa fé”.2

Na manhã do dia 6 de julho de 1943, o presidente Makiguchi foi detido em Shizuoka, onde realizava shakubuku. Ao se despedir da senhora que o acompanhava, confiou-lhe uma mensagem: “Transmita minhas recomendações a Josei Toda”. Porém, Toda sensei também havia sido preso no mesmo dia, em Tóquio. As acusações que caíram sobre eles foram: violação da Lei da Manutenção da Ordem Pública e suspeita de desrespeito ao santuário xintoísta.

No dia 11 de outubro de 1943, cerca de duas semanas após o presidente Tsunesaburo Makiguchi ser transferido para o Centro de Detenção de Tóquio, Josei Toda também foi levado para a solitária desse local.

Em 18 de novembro de 1944, Makiguchi sensei falece na prisão. Toda sensei só soube do falecimento do seu mestre em 8 de janeiro do ano seguinte.

Posteriormente, Josei Toda foi transferido do Centro de Detenção de Tóquio para o Presídio de Toyotama. Dali, foi libertado às 19 horas do dia 3 de julho do mesmo ano.

O recomeço da Soka Gakkai

Após a sua libertação da prisão e com o objetivo de honrar a vida do seu mestre, Josei Toda deu início à reconstrução da Soka Gakkai. Em 3 de maio de 1951, assume como segundo presidente da organização e sua liderança é marcada pelo esforço da reconstrução e pelo fortalecimento da Soka Gakkai. No ano seguinte, a denominação Soka Kyoiku Gakkai [Sociedade Educacional de Criação de Valor] foi alterada para Soka Gakkai [Sociedade de Criação de Valor]. Toda sensei dizia: “A Soka Gakkai é mais preciosa do que minha própria vida”.

Nesse ínterim, em 24 de agosto de 1947, o jovem Daisaku Ikeda converte-se ao Budismo Nichiren e decide ser treinado por Josei Toda, fazendo assim o juramento de acompanhar seu mestre por toda a vida. Sobre a relação de mestre e discípulo, o presidente Ikeda frisa:

Agi totalmente de acordo com a intenção do Buda. Nunca tive a ambição de me tornar isto ou aquilo nem de receber nenhum tipo de tratamento especial. Tudo o que queria era proteger Toda sensei e lhe devotar minha vida. Esta era minha oração. Ficaria satisfeito se pudesse deixar um exemplo para as gerações futuras de como um verdadeiro discípulo de Josei Toda, um mestre sem igual, deveria conduzir sua vida.3

Comprovar a verdade e a justiça

Com a grande expansão das conversões no Distrito Osaka e em todo o Japão, muitos inimigos se levantaram contra a Soka Gakkai. Em 1957, Daisaku Ikeda foi para Hokkaido a fim de solucionar o incidente com o Sindicato dos Mineradores de Yubari, que promovia uma perseguição discriminatória contra os membros da organização. O fato culminou com o Incidente de Osaka, quando, em 3 de julho de 1957, Ikeda sensei, com menos de 30 anos, foi preso injustamente sob a falsa acusação de fraude eleitoral.

Ao ser recepcionado no aeroporto, o presidente Ikeda disse para uma senhora que estava no local: “Está tudo bem. Como a senhora sabe, eu não fiz nada de errado. Não há com o que se preocupar”.4

Ele também comenta: “Doze anos mais tarde, em 3 de julho de 1957, eu, seu discípulo, segui orgulhosamente seus passos: fui preso por um crime que não cometi — uma perseguição enfrentada por propagar a Lei Mística”.5

Interrogatórios do jovem Ikeda

Durante a prisão, o presidente Ikeda passou por diversos interrogatórios. Em 9 de julho de 1957, por exemplo, a promotoria o pressionou ainda mais para que admitisse a culpa. Repetidas intimidações foram feitas durante os intermináveis interrogatórios.

A promotoria exigia que Ikeda sensei admitisse a culpa, recorrendo-se a chantagens como “Faça logo com que o secretário Ikeda admita, senão faremos uma diligência nas empresas de Josei Toda e na sede da Soka Gakkai. E, conforme a situação, prenderemos o presiden­te Josei Toda”. Essa exigência foi apresentada a Daisaku Ikeda pelo advogado de defesa na manhã do dia 10 de julho. Na mesma noite, ele pensou:

A saúde do mestre é frágil. Não posso deixar Toda sensei morrer na prisão como aconteceu ao presidente Makiguchi. Não permitirei que ele seja preso! Devo minha vida a ele. Não importa o que aconteça, vou protegê-lo! Isso significaria descartar a verdade e mentir conforme o desejo do promotor. Não estaria desonrando conscientemente a estimada Soka Gakkai?6

O presidente Ikeda saiu da prisão no dia 17 de julho de 1957. Foram catorze dias em que sofreu pesados interrogatórios e, ao afirmarem que prenderiam o presidente Josei Toda, caso ele não confessasse o crime eleitoral, assinou uma confissão porque jamais deixaria seu mestre retornar injustamente para a prisão. Porém, determinou que faria justiça e provaria a verdade.

Naquela tarde, os membros de Kansai fizeram uma grande manifestação com protestos contra a polícia e a promotoria de Osaka. Apesar do temporal que caía sem tréguas, milhares de membros se reuniram no Centro Cívico de Nakanoshima e no entorno, no centro de Osaka. Na ocasião, o presidente Ikeda bradou corajosamen­te: “Vamos lutar com a convicção de que a justiça do budismo prevalecerá no final!”.

“Daisaku, você tem uma longa batalha”

A primeira audiência no Tribunal de Osaka ocorreu em 8 de outubro de 1957. No total, 64 pessoas foram indiciadas no caso, formando dois grupos: um acusado de compra de votos, e o outro, de solicitação de votos de porta em porta.

Dos dez artigos de acusação apresentados no julgamento, Daisaku Ikeda foi acusado por todos os relacionados à solicitação de votos de porta em porta, e o diretor-geral da Soka Gakkai, Tadashi Koizumi, à compra de votos.

Em 5 de março de 1958, Ikeda sensei foi ao encontro do presiden­te Josei Toda, para lhe informar sobre a viagem para Osaka, a fim de se apresentar ao julgamento. Acamado, Toda sensei descobriu o cobertor e lhe disse:

Daisaku, você está exausto, não está? Como está sua saúde? Você tem uma longa batalha pela frente. Gostaria de tomar seu lugar se pudesse. Você arcou com toda a culpa. É realmente uma pessoa de bom coração. (...) Este julgamento não será uma batalha fácil. Poderá perturbá-lo por mais algum tempo pela frente. Porém, você vencerá no final. Pelo fato de o ouro ser ouro, jamais perde seu brilho, não importa quão enlameado possa estar. Definitivamente, a verdade aparecerá. Apenas lute como homem — com dignidade e coragem.7

Em 2 de abril daquele ano, o presidente Josei Toda falece e, em meio a esse turbilhão, as audiências prosseguiram. Mais que nunca, o juramento do presidente Ikeda permanecia intacto.

“Toda sensei, vencemos”

Depois de 1.670 dias após a prisão, em 25 de janeiro de 1962, o juiz proferiu sua decisão: “A corte declara o réu, Daisaku Ikeda, inocente”.

Em uma viagem ao Egito, o presidente Ikeda recebe um telegrama da sede da Soka Gakkai informando que não houve apelação dos promotores, indicando finalmente a finalização do processo e assinalando a vitória da luta pela justiça.

Durante um evento comemorativo do trigésimo aniversário de libertação de Josei Toda, o presidente Ikeda afirmou em seu discurso:

Pulsa na Soka Gakkai o indomável espírito de avançar com renovada esperança. À luz das escrituras de Nichiren Daishonin, sabemos que enfrentaremos duras tempestades de perseguições e furiosas ondas de ataques. Contudo, para proteger a liberdade de crença, os direitos humanos e a paz e felicidade do povo, devemos perseverar em nossos esforços. A Soka Gakkai é a fortaleza da paz e dos direitos humanos. É o jardim florido da revitalização das pessoas. É um microcosmo da comunidade humana ideal. Para alcançarmos nossos objetivos, devotarei a vida a proteger e a cuidar da Soka Gakkai com todas as minhas forças. Acredito que este seja o caminho para corresponder ao juramento a Toda sensei.8

A luta incondicional para proteger a Soka Gakkai e os companheiros com base na unicidade de mestre e discípulo marca a trajetória dos Três Mestres Soka e permanece eternamente como modelo de coragem e determinação diante das maldades que tentam impedir o avanço do movimento pelo kosen-rufu e pela felicidade da humanidade.

 

o jovem Daisaku Ikeda é recebido por vários membros de Kansai na saída da Casa de Detenção de Osaka (jul. 1957)

o jovem Daisaku Ikeda é recebido por vários membros de Kansai na saída da Casa de Detenção de Osaka (jul. 1957)

 

Josei Toda, em pé, e Tsunesaburo Makiguchi, sentado; ambos protegeram a legitimidade do budismo perante as imposições do governo militarista japonês durante a Segunda Guerra Mundial

Josei Toda, em pé, e Tsunesaburo Makiguchi, sentado; ambos protegeram a legitimidade do budismo perante as imposições do governo militarista japonês durante a Segunda Guerra Mundial


Dica de leitura

Na série “A Luta dos Três Mestres na Prisão”, publicada na revista Terceira Civilização em suas edições 527 a 531, de julho a novembro de 2012.

Notas:

1. Terceira Civilização, ed. 527, jul. 2012, p. 30.

2. Ibidem.

3. Brasil Seikyo, ed. 1.947, 12 jul. 2008, p. A2.

4. Terceira Civilização, ed. 529, set. 2012, p. 36.

5. RDez, ed. 79, jul. 2008, p. 19.

6. Terceira Civilização, ed. 530, out. 2012, p. 30.

7. O julgamento. Revolução Humana. In: Terceira Civilização, ed. 289, set. 1992, p. 2 e ed. 531, nov. 2012, p. 32.

8. IKEDA, Daisaku. Novo Século. Nova Revolução Humana, v. 22. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 24.

Ilustrações: Kenichiro Uchida

Fotos: Seikyo Press

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