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Conheça o Budismo

Ter e ser um bom amigo

O caminho da felicidade absoluta e da construção de uma sociedade de paz é uma jornada de mútuo incentivo e de encorajamento

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Redação

20/06/2024

Ter e ser um bom amigo

Zen-chishiki é um termo japonês utilizado pelo Budismo de Nichiren Daishonin para se referir a uma “boa influência”. Essa boa influência representa a ação de um “bom amigo”. O termo se aplica muito bem ao budismo porque, como budistas, nosso principal objetivo é ajudar as pessoas a se tornar felizes, ou seja, conduzi-las pelo caminho correto da vida, de modo que elas atinjam a iluminação.

Nichiren Daishonin usava esse termo para indicar uma pessoa que encoraja outra ao longo da prática budista e afirmava que encontrar um bom amigo é algo muito difícil. Ele também dizia que o melhor modo de atingir o estado de buda é por meio de um zen-chishiki, um “bom amigo”.

Shakyamuni e Ananda

No escrito Três Mestres Tripitaka Oram por Chuva, Nichiren Daishonin afirma:

Quando uma árvore é transplantada, ainda que soprem ventos fortes, ela não tombará se estiver sustentada por uma firme estaca. Porém, até uma árvore que cresceu no mesmo local de origem poderá tombar se suas raízes forem fracas. Uma pessoa, ainda que fraca, não tropeçará se aqueles que a apoiam forem fortes; ao passo que alguém de força considerável, se estiver sozinho, poderá tombar num caminho sinuoso. (...) O melhor meio para atingir o estado de buda é encontrar um bom amigo. Até onde nossa sabedoria pode nos levar? Se possuímos sabedoria su­ficiente para distinguir o quente do frio, deveríamos procurar um bom amigo.1

Esse trecho ensina que, com o forte apoio do “bom amigo” (zen-chishiki), consegue-se, sem falta, superar dificuldades e provações. Em uma explanação sobre esse tema, o presidente Ikeda cita o episódio do diálogo entre Shakyamuni e seu discípulo Ananda:2

Certa vez, Ananda perguntou a Shakyamuni: “Penso que ter um bom amigo e avançar junto com ele corresponde a ter completado metade do caminho do buda. Essa forma de pensar seria correta?”.
Em relação a isso, Shakyamuni respondeu claramente: “Ananda, essa forma de pensar não é correta. Ter um bom amigo e avançar junto com ele não é metade do caminho do buda, mas sim todo o caminho”.
Essa é a concisa exposição do que, originalmente, é o exercício budista. Para realizar a correta prática da fé e trilhar ininterruptamente uma vida de genuína vitória, é impreterivelmente necessária a existência do “bom amigo”, ou seja, de um verdadeiro agente positivo.3

Caminho da felicidade

Discorrendo sobre o significado do termo zen-chishiki, o Mestre diz:

O termo budista chishiki (de zen-chishiki) é originalmente a tradução para o chinês da palavra sânscrita (idioma da Índia antiga) mitrah (“amigo”). [E zen é um kanji (ideograma) que significa “bem” ou “bom”].
Portanto, zen-chishiki indica “pessoas que conduzem outras ao correto budismo”, ou seja, são o “bom mestre”, os “bons companheiros” e os “bons amigos”.
Ao citar “até onde nossa sabedoria pode nos levar?”, Daishonin enfatiza que buscar o bom amigo é mais importante do que qualquer outra coisa. Isso porque não existe meio para superar o sofrimento fundamental da vida de “nascimento e morte” a não ser pelo caminho de tornar-se buda. É por criar uma relação cármica com o bom amigo que nos apoia e nos incentiva que conseguimos fortalecer a prática da fé, manifestar a sabedoria para a felicidade e conquistar a absoluta condição de vida de um buda.4

Transformar desafios em oportunidades

Um ponto importante é que, em nossas relações diárias, não encontramos apenas bons amigos. Também existem o “mau amigo” (aku-chishiki), ou seja, a pessoa que conduz a outra para um caminho negativo, desviando-a da prática.

E, como podemos saber se um indivíduo é um bom ou um mau amigo?

Essa é uma tarefa que somente nós próprios podemos cumprir. Precisamos observar se determinada pessoa é alguém que nos encoraja a ter ações positivas e nos incentiva a realizar a prática budista para nossa felicidade e a das demais pessoas; ou se é alguém que apoia ou realiza ações negativas, como impedir a prática budista. Contudo, o mais importante é que, mesmo ao encontrarmos maus amigos, jamais devemos nos permitir ser influenciados por eles.

Cada dificuldade com a qual nos deparamos deve ser uma oportunidade para fortalecer nossa prática budista. O ideal é considerarmos tudo (fatos bons e maus) como motivo para aprofundar a fé no Gohonzon, e assim tornar todas as pessoas nossos zen-chishiki porque nos conduzem ao Gohonzon, conforme sensei salienta:

No fim, o que determina se são “bons amigos” ou “maus amigos” é a fé da própria pessoa. Por essa razão, é possível transformar tanto a opressão como as perseguições em grandioso impulso no trampolim da fé. Ou seja, mesmo a pior das adversidades não é necessariamente uma maldade. Dependendo da maneira de encarar as adversidades e da determinação das pessoas, essas adversidades poderão se tornar tanto uma maldade ou uma força para aprimorar a fé.
Por favor, vençam as maldades intrínsecas no seu coração (...). A força para vencê-las é a recitação do daimoku. A única arma capaz de destruir a ilusão fundamental da vida, ou seja, a escuridão fundamental, é a espada afiada do Nam-myoho-renge-kyo. Vamos lutar sempre com daimoku em primeiro lugar! 5

Encontro de bons amigos

A realização da prática diária do gongyo e do daimoku e a participação nas atividades, sobretudo nas reuniões de palestra, abrem as portas do coração para criar laços de amizade e incentivo mútuo. O presidente Ikeda ressalta:

Para “atingir o estado de buda nesta existência”, o mais importante e o mais difícil de encontrar é um “bom amigo” (zen-chishiki). As reuniões de palestra Soka são, justamente, esses encontros de bons amigos.(...)
Radiantes, essas atividades acontecem no mundo inteiro, superando todas as diferenças e flamejando a chama do princípio filosófico da dignidade da vida no coração dos povos. Elas geram vitalidade e solidariedade às pessoas, que jamais são derrotadas por quaisquer dificuldades da vida ou pelos locais em que vivem. Existe nas reuniões de palestra a ilimitada energia que criará a nova “civilização do diálogo”, tão ansiosamente aguardada pela humanidade.6

Depende de nós

Ikeda sensei também afirma:

De qualquer forma, é importante compreender que a amizade depende de nós, e não dos outros. Tudo depende de nossa atitude e contribuição. Espero que não sejam amigos somente nas boas ocasiões, pessoas que só ajudam os outros quando a situação está boa, abandonando-os quando surge algum problema. Tornem-se, por favor, uma pessoa de lealdade imutável em todos os momentos.7

Isso significa que, acima de tudo, é importante o esforço para nos tornar zen-chishiki para aqueles que nos rodeiam, conforme sensei incentiva em um diálogo com jovens:

Quero que concentrem sua energia em seu treinamento e na edificação de sua personalidade. Tenho certeza de que no futuro, muitos de vocês farão amigos em diversas partes do mundo. Lembrem-se de que o tipo de relação humana que estabelecerem dependerá só de vocês. Não interessa “como os demais são com relação a vocês”, mas sim “como vocês são com relação aos demais”.8

O próprio presidente Ikeda é um exemplo claro de como cultivar belas amizades, pois ele tem amigos em todos os cantos do mundo, alguns deles importantes líderes e pensadores de nosso tempo. Seguindo esse exemplo e aproveitando os laços de amizade e de companheirismo que desfrutamos na família Soka, vamos, cada qual, aprimorar nosso caráter e personalidade para que os outros possam nos considerar verdadeiramente “bons amigos”.

Dica de leitura

Ter bons amigos, principalmente na juventude, é muito importante. Veja mais sobre os desafios da juventude no Guia para a Vitória que acompanha esta edição do Brasil Seikyo.

Ouça

Podcast sobre o significado da amizade e dos bons amigos, acessando: https://www.brasilseikyo.com.br/podcast/programa/3/episodio/bons-e-maus-amigos/143 

Fontes:

RDez, ed. 122, fev. 2012, p. 15.

Brasil Seikyo, ed. 1.513, 26 jun. 1999, p. 3.

Notas:

1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 625, 2020.

2. Ananda: Um dos dez maiores discípulos de Shakyamuni. Ouviu muitas pregações de Shakyamuni, acompanhando-o diretamente, e é conhecido como o primeiro a ouvir os ensinamentos do Buda.

3. Brasil Seikyo, ed. 2.467, 11 maio 2019, p. B2.

4. Ibidem.

5. IKEDA, Daisaku. Batalha Feroz. Nova Revolução Humana, v. 27. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2021. p. 240.

6. Brasil Seikyo, ed. 2.469, 25 maio 2019, p. B3.

7. IKEDA, Daisaku. Juventude: Sonhos e Esperanças, v. 1. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2015. p. 56.

8. Brasil Seikyo, ed. 1.407, 22 mar. 1997, p. 3.

Ilustração: GETTY IMAGES

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