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Fazer brilhar o sol do estado de buda
Com base no conceito de hosshaku-kempon, abandone o transitório e revele o verdadeiro aspecto de vitórias
Redação
22/08/2024
Pode-se afirmar que o objetivo da prática do Budismo de Nichiren Daishonin é a vitória da fé e da natureza iluminada de buda sobre a ilusão e a escuridão. Essa vitória da fé — a revelação do estado de buda na própria vida — pode ser interpretada como hosshaku-kempon, ou seja, “abandonar o transitório e revelar o verdadeiro”.
Hosshaku-kempon também significa o despertar para a missão do bodisatva da terra — abandonar os desejos egoístas e adotar uma postura benevolente orientada para a felicidade de si próprio e dos demais como missão de vida.
Não duvidar de si mesmo
Em certa ocasião, Ikeda sensei discorreu sobre hosshaku-kempon:
O termo traduzido como “abandonar” também significa “abrir”. Poderíamos comparar “abrir o transitório” a remover as nuvens que bloqueiam os raios de sol. Quando as nuvens se dispersam, a “verdadeira identidade” aparece, assim como a brilhante luz do sol. O simples fato de haver nuvens no céu não significa que se deve procurar pelo sol em outro lugar. As pessoas não deixam de olhar para o céu em busca do sol; por isso, é o lugar onde se encontra a verdadeira identidade.1
Convertendo a analogia para o cotidiano, o céu nublado equivale aos momentos repletos de problemas. Naquele período carregado de nuvens de dificuldades, a tendência é duvidar de que a solução existe em si e não acreditar na própria capacidade para vencer.
Aplicar o hosshaku-kempon nos momentos de adversidades significa abrir ou dispersar as nuvens das dificuldades do céu de sua mente e revelar o sol do estado de buda que existe dentro de si. Significa não duvidar de si mesmo nem se entregar à escuridão.
A Lei Mística ou a natureza do estado de buda existe em você e não conhece limites. A força dessa Lei transcende o tempo, o espaço e até a morte. Uma vez ativada essa força na vida da pessoa, o ambiente se transforma no mesmo ritmo iluminado do seu estado de vida interior.
O significado de hosshaku-kempon
Esse conceito indica o ato de um buda descartar a posição transitória ou provisória e revelar sua verdadeira identidade. No capítulo 16, “A Extensão da Vida”, do Sutra do Lótus, Shakyamuni descarta sua identidade provisória de um buda que atingiu a iluminação em sua existência na Índia sob a árvore bodhi, revelando seu aspecto verdadeiro alcançado no longínquo passado, há incontáveis existências.
Com relação ao buda Nichiren Daishonin, o conceito de hosshaku-kempon também tem um profundo significado.
Em 1271, o Japão foi assolado por uma terrível seca. O governo ordenou a Ryokan, famoso e respeitado prior de um templo budista, que orasse por chuva. Quando Nichiren Daishonin soube disso, ele o desafiou por meio de uma carta, declarando estar disposto a ser seu discípulo caso fosse bem-sucedido em fazer chover. Contudo, se falhasse, Ryokan deveria se tornar seu discípulo. Ele aceitou o desafio, mas, apesar de suas orações e de centenas de sacerdotes assistentes, nenhuma chuva caiu. Ao contrário, Kamakura foi assolada por fortes vendavais.
No final, Ryokan não só se recusou a seguir Daishonin, como também começou a tramar contra ele em conluio com uma autoridade local chamada Hei no Saemon-no-jo. Como consequência, no décimo dia do nono mês de 1271, Nichiren Daishonin foi intimado a comparecer à corte para responder a uma série de acusações infundadas.
Dois dias depois, no décimo segundo dia do nono mês de 1271, Daishonin foi levado para a localidade de Tatsunokuchi, próxima a Kamakura, onde seria decapitado conforme a determinação de Hei no Saemon-no-jo. Entretanto, no último momento, um objeto esférico luminoso surgiu repentinamente no céu aterrorizando os soldados que, então, desistiram da execução. Após isso, Daishonin declarou ter nascido de novo, agora como Buda dos Últimos Dias da Lei.
O espírito de Nichiren Daishonin
Em sua série de ensaios Reflexões sobre a Nova Revolução Humana, o presidente Ikeda afirma:
Naquela manhã, a luz resplandecente da aurora iluminou Tatsunokuchi. O alvorecer da verdade e da justiça rasgou o escuro véu da conspiração. Foi o triunfo da benevolência pelas pessoas sobre o aspecto demoníaco do poder; o triunfo da iluminação fundamental sobre a escuridão fundamental. O estado de buda venceu, fazendo o demônio do sexto céu tremer de medo. Foi a vitória sobre os vis assassinos, que tencionavam matar o devoto do Sutra do Lótus.2
Esse acontecimento da Perseguição de Tatsunokuchi nos faz entender o verdadeiro espírito de Nichiren Daishonin, que, suportando todas as formas de perseguições, continuou a lutar com imensa benevolência para conduzir as pessoas à felicidade.
Nos dias atuais, o eterno caminho da Soka Gakkai baseia-se exatamente nesse espírito de Nichiren Daishonin, herdando seu legado. Em outras palavras, é o espírito benevolente de revelar e comprovar a verdade e a justiça, conduzindo as pessoas à felicidade, mesmo diante de inúmeras perseguições, obstáculos e calúnias.
Pôr em prática em nossa vida
O Mestre ressalta:
“Abandonar o transitório e revelar o verdadeiro” significa “revelar a verdade” para todas as pessoas — ou seja, evidenciar uma condição de vida suprema e nobre inerente a nós e ajudar os demais a fazer o mesmo. Somos budas, e os outros também. “Abandonar o transitório e revelar o verdadeiro” compõe a base fundamental de nossas ações assentadas no respeito a todos os seres humanos.
Consequentemente, no que se refere a Daishonin “abandonar o transitório e revelar o verdadeiro”, isso não representa apenas um ato pessoal, mas uma demonstração de que todos podem revelar plenamente em sua vida o inexaurível repositório de tesouros que existe dentro de si. Como meio para atingi-lo, ele ensina a importância de se empenhar na fé com o espírito de “verdadeira causa” — de sempre avançar a partir deste momento — um modo de prática em que nos dispomos a enfrentar bravamente os mais duros desafios da realidade com base no juramento de unicidade de mestre e discípulo de lutar pela iluminação de toda a humanidade.3
De forma geral, observamos que muitos seres humanos vivem em uma “condição transitória de vida”, influenciados, positiva ou negativamente, pelas circunstâncias individuais e sociais, imersos em sua escuridão fundamental, que o budismo considera como um mundo dominado pelas ilusões.
Sol interior
Então, o que seria exatamente “abandonar o transitório”? Não seria, por exemplo, nenhuma forma de mudança apenas no mundo exterior. Antes, seria essencialmente uma transformação interior, uma sábia e profunda alteração de postura em relação às circunstâncias externas.
O exemplo de Nichiren Daishonin mostra que um grande desenvolvimento ou grandes realizações quase sempre são alcançados em meio a difíceis situações. O presidente Ikeda complementa:
As grandes adversidades nos levam a manifestar a iluminação. As grandes perseguições nos asseguram que manifestaremos imediatamente o estado de buda. (...) O “transitório” que se deve descartar é a fraqueza, a covardia. Ao manifestar sua “verdadeira identidade’, a coragem, Daishonin demonstrou a todas as pessoas o princípio de “abandonar o transitório e revelar o verdadeiro”. Podemos comprovar esse mesmo princípio enfrentando todas as dificuldades com determinação e fazendo do espírito destemido de Daishonin o nosso próprio espírito.
Portanto, “descartar o transitório e revelar o verdadeiro” não se refere, de forma alguma, à manifestação de um poder sobrenatural. É, antes de tudo, manifestar, com base na Lei Mística, virtudes existentes na própria vida, como coragem, persistência, esperança e sabedoria. É manifestar o melhor que há em si e, a partir disso, consolidar uma mudança fundamental no âmago de sua existência como base para o cumprimento da própria missão como bodisatva da terra, para a construção da felicidade absoluta e para a criação de um mundo de paz.4
Dica de leitura
Veja sobre o tema “Estado de Buda” no Guia para a Vitória que acompanha esta edição do Brasil Seikyo.
Leia mais
Matéria de capa da revista Terceira Civilização, ed. 554, out. 2014, com o tema “Revele seu Verdadeiro Potencial”. Acesse: https://www.brasilseikyo.com.br/home/terceira-civilizacao/edicao/554/artigo/revele-seu-verdadeiro-potencial/9849
Fontes:
Terceira Civilização, ed. 554, out. 2014, p. 16-23.
Idem, ed. 553, set. 2014, p. 10.
Brasil Seikyo, ed. 1.736, 21 fev. 2004, p. A5.
Idem, ed. 2.195, 7 set. 2013. p. A2.
Notas:
1. Brasil Seikyo, ed. 1.478, 26 set. 1998, p. 3.
2. Terceira Civilização, ed. 396, ago. 2001, p. 37.
3. Brasil Seikyo, ed. 2.340, 17 set. 2016, p. B2.
4. Terceira Civilização, ed. 553, set. 2014, p. 10.
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