Entrevista
RD
A vida que inspira arte
Ana Paula Quintana Pinheiro | Roteirista
09/11/2019
O que as séries Pé na Cova e Família Buscafé têm em comum? Ana Quintana, na equipe de roteiristas! Sempre com olhar curioso, buscando inspiração nas situações da vida diária, a profissional conta como se apaixonou pela arte de contar histórias
O que faz um roteirista?
O roteirista é quem cria histórias dentro de uma estrutura com diálogos e cenas que são convertidas em imagens. O roteiro é o guia. Nele, há a intenção do projeto, a atmosfera, a motivação dos personagens, o gênero etc. Ou seja, tudo começa pelo trabalho do roteirista.
Por que escolheu essa carreira?
Sempre estive envolvida com a arte. Trabalhava na TV e tive uma carreira bem‑sucedida como produtora. Foi um período de muita aprendizagem e conquistas. Anos depois, já não tinha mais o brilho nos olhos pela profissão, então decidi me reinventar.
Determinei diante do Gohonzon que mudaria essa circunstância, afinal, eu me encantei pelo budismo quando descobri que poderia ser a protagonista da minha vida. No meio desse processo reflexivo, percebi que as grandes conquistas da minha vida se deram pela escrita. Sempre tive o hábito de escrever, influência da minha mãe que compunha poesias, e foi isso que abriu as portas da TV Globo para mim.
Como começou a trabalhar com roteiro? Quais foram os primeiros passos?
Quando era produtora, trabalhava com a diretora Cininha de Paula que sugeriu ao Miguel Falabella que lesse meus roteiros. Ele me desafiou a escrever um episódio do spin‑off¹ da série Pé na Cova. Na semana seguinte, convidou‑me para fazer parte da sua equipe de roteiristas, na qual estou até hoje.
Quanto aos meus primeiros passos, eles foram dados no caminho da especialização em roteiro e tudo o que envolve a arte de contar histórias. Trabalhei duro e me empenhei nos estudos. Além dos cursos livres, graduei-me em roteiro para TV e cinema, chegando a estudar roteiro de cinema em Cuba. Um roteirista precisa estar atualizado e ter repertório.
Fale-nos sobre os projetos que você já trabalhou. Qual foi o mais marcante?
A série Pé na Cova foi muito especial para mim, não só por ter sido o primeiro projeto de grande visibilidade que assinei, em parceria com o Miguel Falabella, como também pelo que essa série representa dentro do cenário televisivo, um marco na história da TV brasileira e me orgulho muito de ter dado os primeiros passos ao lado de grandes mestres. Parafraseando Isaac Newton, “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre os ombros dos gigantes”.
Poderia compartilhar um pouco da sua história com o budismo?
Pratico o budismo desde 2003 e foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Sou a prova viva de que não há oração sem resposta. Se estou aqui hoje para compartilhar com vocês um pouco da minha história é graças à minha prática, pois venci uma embolia pulmonar e trombose, e hoje, desfruto de ótima saúde participando das atividades com alegria. Recito daimoku com a seguinte determinação: “Existe uma estrada, / E essa é a estrada que eu amo. / Eu a escolhi. / Quando trilho essa estrada, / As esperanças brotam / E o sorriso se abre em meu rosto. / Desta estrada nunca, jamais fugirei” (A Estrada, poema de Daisaku Ikeda).
O que seu aprendizado na BSGI contribui para sua profissão?
Em tudo. Procuro me destacar e ser imprescindível no meu local de atuação, busco excelência no que faço. Sinto-me mais confiante e mais tolerante. Encaro a instabilidade da profissão com planejamento financeiro. Em situações desfavoráveis, mantenho o controle e sou capaz de incentivar os colegas. Não me intimido facilmente. Acredito no meu potencial mais do que ontem e hoje menos do que amanhã. Esse é o meu objetivo.
Você também faz a série Família Buscafé. Como é contribuir para o canal Brasil Seikyo TV ?
É uma delícia! Sabe aquela sensação de receber um grande benefício? Foi assim que me senti quando recebi a ligação do Ronaldo Robles, responsável do Departamento de Artistas da BSGI, para dar vida ao projeto de uma família budista em processo de revolução humana. É o tipo de convite que muda a sua vida.
Ronaldo Robles assina os episódios comigo. Nossa jornada tem sido desafiadora e prazerosa. Trabalhei em produções de pequeno e grande portes, com todo o tipo de gente. Mas nunca tinha vivido a experiência de ver tantos budistas reunidos num set de filmagem, assim como elenco e equipe comprometidos e muito talentosos. Tenho grande gratidão por essa oportunidade!
O que você diria a um Estudante que sonha em seguir essa carreira?
Estude. Estude. Estude. Escreva todos os dias e sempre que necessário, reescreva. Leia bons livros. Vá ao cinema e ao teatro. Não há limite para a criatividade. Acredite em você e nunca desista. Um país sem cultura é um país sem identidade. Cabe a você abraçar essa causa e fazer a diferença com o seu talento.
Com o pé direito
Além de roteirizar Família Buscafé, um dos trabalhos mais significativos de Ana Quintana, sem dúvida, é a série Pé na Cova (4a e 5a temporadas).
A série é sobre a vida dos Pereira, uma família excêntrica, que tira seu sustento de uma falida empresa funerária. Apesar do tom comediante, apresenta diversos questionamentos sociais. (Classificação etária: 14 anos).
Ana Quintana escreveu também o spin‑off de Pé na Cova para a internet e ainda vai lançar Eu, a Vó e a Boi para a GloboPlay.
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