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Na prática

Somos protagonistas capazes de mudar o mundo

Em diversas oportunidades, especialmente nos incentivos dos líderes da BSGI ou nos diálogos com os amigos da organização, ouvimos sobre a palavra “missão”. Vamos elucidar o termo para melhor entendimento. Tomemos como exemplo o universo corporativo. As empresas comumente adotam o tripé “missão, visão e valores” para conferir sua identidade e propósito. Não à toa, o conceito tratado é o primeiro da trinca que define os rumos de uma empresa. Um dos grandes nomes da administração moderna, o austríaco Peter Drucker (1909–2005), designou o que seria missão para uma corporação:   “Uma empresa não se define pelo seu nome, estatuto ou produto que faz; ela se define pela sua missão. Somente uma definição clara da missão é razão de existir da organização e torna possíveis, claros e realistas os objetivos da empresa”.1   De maneira semelhante, da perspectiva budista, a missão é a razão de existir de uma pessoa. Então, sem demora, vamos compreender o que seria “missão” na prática.

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03/08/2020

Somos protagonistas capazes de mudar o mundo

Entenda o conceito

Comecemos abordando a essência do termo “missão”. No Estudo (p. 57) desta edição, o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, discorre sobre a prática do budismo como ensinamento do respeito à dignidade de cada ser humano e sobre a importância de se ter um profundo propósito na vida. Ele reflete:

Realmente podemos tornar o mundo um lugar melhor com nossas ações? Ou não há nada que possamos fazer por conta própria? O Budismo Nichiren é o ensinamento que dissipa esse sentimento de impotência e pessimismo, despertando-nos para a verdade de que somos protagonistas capazes de mudar o mundo. (...) Daishonin escreve: “Desse simples elemento, mente, origina-se o domínio do meio ambiente” (WND, v. II, p. 843).2

Dessa maneira, como podemos tornar esse mundo melhor a partir de nossas ações diárias? O budismo esclarece o princípio de adotar voluntariamente o carma apropriado” (ganken ogo). É o que chamamos de “transformar carma em missão”.

Podemos afirmar que, em diversos momentos e com intensidades distintas, somos confrontados pelas correntes do destino. E essas dores, sejam relacionadas à perda de alguém querido ou à angústia pelo futuro desconhecido, certamente são sentidas por todas as pessoas. Contudo, estar imerso num oceano totalmente escuro ou dispor de força para se libertar desses sofrimentos está nas mãos única e exclusivamente do indivíduo.

A prática budista e o movimento das atividades Soka são um grande impulso para que todos transformem sofrimento em alegria. Quando a pessoa eleva sua condição de vida, seu ambiente também é beneficiado pela mudança da postura mental e da conduta como ser humano. Em síntese, ganken ogo é transformar sofrimento (carma) em impulso para a vitória pessoal e conduzir à felicidade outras pessoas mais (missão).

É de se inspirar!

Uma história surpreendente de coragem, otimismo e muita persistência de quem transformou carma em missão é a do indiano Jadav Payeng.3 O homem vive na ilha fluvial de Majuli, localizada no coração do rio Brahmaputra. A área é o lar de mais de 170 mil pessoas que testemunharam alterações severas em seu habitat.

No último século, Majuli perdeu quase três quartos de massa terrestre com as enchentes provocadas pelo derretimento de gelo no Himalaia durante as estações mais quentes. O rio atingiu níveis perigosos nas últimas décadas, e isso ocasionou uma grande erosão por quase toda a faixa verde que ligava Majuli ao continente, deixando uma paisagem vazia e arenosa.

Ao observar, nos bancos de areia, animais mortos por não encontrarem abrigo, Payeng percebeu que, sem árvores, o destino dos moradores da ilha poderia ser semelhante. Foi então que ele iniciou sua jornada.

Payeng ganhou suas primeiras mudas de bambu aos 16 anos. A missão era restaurar uma área próxima à sua comunidade, por iniciativa da divisão florestal do lugar. Mas, mesmo com o fim do projeto, ele não parou de semear e cuidar das plantas. Esse simples gesto logo se tornaria seu modo de vida — plantar para resgatar a biodiversidade em Majuli. Ele sabia que era um trabalho árduo, mas em seu íntimo acreditava que era possível. Com determinação, Jadav Payeng diariamente fazia furos profundos na terra com um simples pedaço de madeira e despejava algumas sementes.

Após mais de quarenta anos, essa pequena ação resultou em algo espetacular. Com o tempo, as sementes espalhadas pelo jovem Payeng se desenvolveram e se tornaram uma exuberante floresta. O que antes era apenas uma grande extensão degradada, atualmente é uma imensa área verde que corresponde a mais de oitocentos campos de futebol, sendo maior que o Central Park de Nova York.

O simples gesto de uma única pessoa, repleto de respeito aos moradores da comunidade e ao meio ambiente, fez de Majuli um lugar melhor para se viver. Com o exemplo de Payeng, compreendemos que missão não requer do indivíduo atributos especiais, apenas o desejo e a disposição de contribuir para um mundo melhor.

Seja forte!

Certa vez, o presidente Ikeda encorajou um homem cuja esposa havia falecido. “Seja forte! Não se permita ser derrotado”,4 incentivou-o de maneira sincera. E continuou a encorajá-lo:

O Sr. Toda [segundo presidente da Soka Gakkai] quando jovem também perdeu a esposa e a filha, que ainda era criança. Ele afirmou que, quando pessoas vivenciam o doloroso sofrimento do carma, como perder uma companheira ou filho, ficar seriamente doente ou até mesmo enfrentar dificuldades financeiras, isso lhes permite conduzir uma existência ainda mais significativa — uma vida de verdadeira missão. Ninguém é capaz de evitar o sofrimento de se separar ou de se despedir de alguém que ama. Mesmo aqueles que aparentemente, no presente, parecem estar livres dos problemas, inevitavelmente irão encarar o doloroso sofrimento em algum momento da vida. Quando você expandir e elevar altamente a sua condição de vida, superando as próprias dores, será capaz de incentivar de forma calorosa aqueles que estão sofrendo. A chave fundamental é transformar seu carma em missão.5

Assim como observado pelo presidente Ikeda no incentivo, certamente vamos nos deparar com sucessivos acontecimentos, muitos dos quais nem sequer imaginávamos que ocorressem. E ele assegura que todos esses fatos têm um profundo significado.

Tudo o que ocorre em nossa vida possui um significado. O modo de vida de um budista é descobrir um significado em todas as coisas. Nada é em vão ou sem sentido. Seja qual for o carma de uma pessoa, sempre há um profundo significado para a sua existência.6

A vida é infinitamente preciosa. A batalha que se sucede neste instante no coração e na mente, a partir de uma vigorosa prática budista, poderá resultar na edificação de um bem maior e de uma existência de profundo significado. Por isso, é fundamental ajustarmos e elevarmos nosso estado de vida interior.

Deixa comigo!

E se realmente o cinto estiver apertando muito, e a sensação de querer desistir vier à tona, então tranquilize o coração, cerre os punhos e vá a luta. O importante é jamais desistir! Foi dessa forma que Shin’ichi Yamamoto (pseudônimo de Ikeda sensei no romance Nova Revolução Humana) incentivou uma jovem senhora que perdera a esperança após o falecimento do marido.

Não se aflija. Contanto que continue praticando o budismo, a senhora será feliz, sem falta. Esse é o propósito do budismo. A senhora está passando agora por todos esses sofrimentos e infortúnios justamente para cumprir uma nobre missão, que é só sua. Se ficar apenas se martirizando com o carma, tudo em sua vida acabará em derrota e infelicidade.7

Durante os incentivos, ele também explicou o conceito de ganken ogo:

Por exemplo, se alguém que sempre viveu como uma rainha, sem grandes dificuldades ou problemas, dissesse que se tornou feliz graças à prática do budismo, ninguém lhe daria ouvidos. Contudo, se uma pessoa doente, de família pobre, menosprezada pelos outros, consegue transformar a vida por meio da prática budista, tornando-se feliz e ainda uma líder na sociedade, isso será uma esplêndida prova da grandiosidade do budismo. (...)
Mesmo aqueles que não praticam o budismo irão admirá-la e procurá-la em busca de conselhos. Como vê, quanto maior e mais profundo o sofrimento, mais magnífica será a prova dos benefícios da prática budista. Pode-se dizer que carma é outro nome para missão.8

Vencer os desafios, aqueles colossais ou mesmo os diminutos, a partir de sua perspectiva, certamente inspirará as pessoas ao redor. Por isso, não se aflija, lembre-se de que tudo tem um significado e de que somos os protagonistas da nossa própria história.

Avançar um passo que seja

Como desfecho, vale elencar os pontos ressaltados para transformar carma em missão:

Não cruze os braços

Se somos assolados pelos desafios, o momento para confrontá-los e superá-los é agora, neste exato instante. O resultado de apenas observar como simples expectador os fatos da vida não será nada bom. É importante lembrar que a chave para a transformação está em nosso interior. Sendo assim, não deixe o bonde passar.

O importante é avançar

Mesmo que as adversidades possam parecer imensas e insuperáveis, o importante é ser paciente, persistente e avançar um passo que seja a cada dia.

Recite daimoku

Ao recitar vigoroso daimoku, energia e sabedoria emanarão de dentro de você, e a coragem e a criatividade despontarão para que possa cumprir majestosamente sua missão. O daimoku também lhe ajudará a compreender o significado de cada desafio que você se defrontar.

Fonte de inspiração

Não se esqueça, a cada vitória conquistada, ou seja, assumindo para si a transformação do carma, as pessoas à sua volta serão impulsionadas a avançar e a vencer também. Sua vitória é motivo de inspiração para muita gente.

Vamos provocar ondas de vitórias

Então, façamos dos desafios a oportunidade para edificarmos uma vida retumbante, tal como o mestre afirma:

Quando temos uma atitude positiva na qual transformamos carma em missão, o inverno da vida sempre abrirá o caminho para a chegada da primavera. Em outras palavras, seremos capazes de experimentar uma existência de invernos, mas certamente também a de belas primaveras.9

Ao aplicarmos atitudes corajosas no cotidiano, os desafios que antes eram pesarosos se tornarão possibilidades de criar um ritmo de avanço pujante, capaz de inspirar outras pessoas a transformar também sua realidade. E essa onda de vitórias impactará a vida de outras pessoas mais e, ao final, o mundo todo. Isso é ganken ogo!

Notas:

1. DRUCKER, Peter F. O Melhor de Peter Drucker — A Administração, 2001.

2. Terceira Civilização, ed. 624, ago. 2020, p. 57.

3. Forest Man. Direção: William Douglas McMaster. Produção de William Douglas McMaster, Giles Daoust.

4. Brasil Seikyo, ed. 2.286, 8 ago. 2015, p. B1.

5. Ibidem.

6. Brasil Seikyo, ed. 2.287, 15 ago. 2015, p. B2.

7. Brasil Seikyo, ed. 2.286, 8 ago. 2015, p. B3.

8. Ibidem.

9. Brasil Seikyo, ed. 2.286, 8 ago. 2015, p. B1.

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