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Na prática

Desenvolva o autêntico espírito de prezar cada pessoa

Aprendemos com os ensinamentos do budismo que nos dedicar à felicidade de todos deve ser uma postura espontânea como seres humanos. No entanto, uma atitude aparentemente tão simples pode ser, para muitos, difícil de praticar. Então, como nos empenhar para dignificar a vida do outro ao mesmo tempo em que enfrentamos diversos desafios? A seção Na Prática desta edição explica a importância de prezar e valorizar cada pessoa, e mostra também como essa conduta, além de transmitir esperança para aqueles que suportam as tempestades do destino, nos torna capazes de realizar nossos próprios sonhos. Assim, juntos, daremos um firme e seguro passo para a transformação da humanidade. Para entender melhor como isso ocorre, confira!

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02/10/2020

Desenvolva o  autêntico espírito de  prezar cada pessoa

Amor incondicional aos filhos

Em síntese, prezar é ter apreço, é o bem-querer genuíno do outro. Podemos assemelhar o prezar cada pessoa, ou a compaixão budista, com o afeto dos pais pelo filho. Mesmo que você não tenha um pequeno na família, possivelmente conhece alguma criança e certamente torce para que ela se desenvolva com muita saúde e vigor.

Para os responsáveis, independentemente da maneira como se autodenominam — pais biológicos ou de criação —, as transformações ocorrem desde o primeiro contato com a criança. Ao saberem que um pequeno está a caminho do lar, o senso de proteção emerge de imediato no coração dos pais, e esse sentimento se perpetuará por toda a vida.

Caso tenha uma criança em casa, sem dúvida, você não se esquece das noites em claro quando ela chorava na madrugada sentindo algum desconforto, ou mesmo quando teve de adverti-la por conta de alguma travessura. Já com os filhos crescidos, a lembrança daquele abraço apertado para confortar o coração partido pelo primeiro amor, a torcida pelo ingresso na universidade e a admissão no primeiro emprego.

Essa demonstração de respeito e de carinho dos adultos com a criança tem em sua essência a aspiração para que ela cresça emocionalmente forte, capaz de conduzir a vida de maneira autônoma e manifeste sabedoria em momentos cruciais que certamente se defrontará. O olhar empático carregado de compaixão, quando manifestado a outras tantas pessoas, é o sentimento de “prezar” no budismo.

Encoraje as pessoas ao seu redor

Uma figura budista marcante, reconhecida por respeitar e prezar a vida das pessoas é o bodisatva Jamais Desprezar. Ele compreendeu que, com o ato de reverenciar um único indivíduo, outras inúmeras vidas eram impactadas positivamente — assim como os pais que cuidam e estimam os filhos para que eles cresçam de modo valoroso e contribuam para a felicidade de muitas e muitas pessoas.

Além disso, o bodisatva Jamais Desprezar percebeu que “desrespeitar alguém equivale a desrespeitar um buda e também a si próprio”.1 Ele acreditava que cada ser humano era digno de respeito, por isso se curvava respeitosamente para todos aqueles com quem se encontrava.

Em resposta a isso, analisando-se a partir da profunda perspectiva budista em relação à vida, a natureza de buda daquela pessoa também se curvava em reverência retribuindo ao gesto. Isso valia até mesmo para os arrogantes que despejavam insultos sobre ele e o atacavam com varas e pedras.2

Jamais Desprezar considerava que sentir empatia pela dor e pelo sofrimento de alguém é diferente de simplesmente sentir pena, por essa razão, respeitava o que havia de mais sublime no outro — o estado de buda. Inspirados por essa postura de coragem, paciência e tenacidade podemos, com simples gestos, encorajar as pessoas de forma que elas reúnam forças e se levantem por si sós para enfrentar os desafios da vida. Veremos uma emocionante lição disso a seguir.

Exemplo de compaixão

Uma comovente história narrada no romance Nova Revolução Humana é a de Chieko Hayashida. Ela era enfermeira num centro de atendimento médico na sede da Soka Gakkai e mãe de duas crianças: a filha Shinka e o filho Hirotaka. Chieko foi diagnosticada com câncer já em estágio avançado e, após pouco tempo da avassaladora descoberta, faleceu serenamente. Ao saber do seu falecimento, Shin’ichi [pseudônimo do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, no romance] encontrou-se com as crianças e confortou o coração delas com benevolentes e alentadores incentivos.

Na manhã de 16 de julho de 1985, Shinka e Hirotaka Hayashida visitaram a mãe no hospital antes de irem para a escola. Sorrindo amavelmente, Chieko apertou forte a mão deles antes que fossem para a aula. Naquela manhã, ela faleceu serenamente com um sorriso no rosto.
Quando Shin’ichi Yamamoto soube do falecimento, decidiu zelar pelos dois filhos dela por toda a vida, de modo que ela pudesse descansar em paz. No dia seguinte, ele se encontrou com Shinka e Hirotaka durante o Festival Glória.
Ele disse aos dois:
— Sua mãe continua viva; está viva em seu coração. Portanto, não se preocupem. Considerem minha esposa sua mãe, e eu, seu pai. Agora, vocês têm dois pais. Não há com que se afligirem.
Ouvindo essas palavras, lágrimas brotaram nos olhos das crianças. Shin’ichi as envolveu com um abraço carinhoso e disse:
— Não chorem. Vocês são filhos do leão. Por favor, não se deixem derrotar. Quero que se tornem fortes. É importante serem corajosos.
As crianças se esforçaram para não chorar, mas lágrimas caíam dos seus olhos.
Antes disso, em março do mesmo ano, quando Chieko estava no hospital, Shin’ichi convidara Shinka para participar de um almoço comemorativo após a cerimônia de formatura, colocando-a para se sentar perto dele. Na ocasião, ele a encorajou, afirmando:
— Sei que deve estar sendo difícil com sua mãe no hospital, mas gostaria que se mantivesse firme. Seja corajosa e jamais seja derrotada.
Mineko, esposa de Shin’ichi, compareceu ao funeral de Chieko em nome do marido, e também encorajou Shinka:
— Torne-se uma pessoa maravilhosa, assim como sua mãe.
Palavras sinceras suscitam coragem no coração das outras pessoas.
Shinka e Hirotaka Hayashida determinaram que viveriam com força e bravura, como leões.
Posteriormente, Shinka seguiu os passos da mãe e se tornou enfermeira, e Hirotaka, repórter do Seikyo Shimbun.3

Entendendo que as duas crianças, mesmo tão novas, suportavam as adversidades do destino, Shin’ichi e sua esposa as acolheram como legítimos pais, desejando que superassem com muita coragem a perda da mãe e se desenvolvessem como jovens de grande coração. A conduta sincera do casal em não permitir que os filhos de Chieko ficassem desprotegidos reflete o sentimento deles de plantar as sementes da esperança e da coragem, não deixando ninguém para trás.

Cultivar as sementes da esperança

Ainda que o processo de semear os grãos da felicidade na vida das pessoas possa parecer longo e por vezes extenuante, esse desafio representa o elemento fundamental para a transformação do planeta. Como exemplo, uma pequena semente levará um bom tempo para se desenvolver até se tornar uma árvore forte e robusta e repleta de flores. No decorrer dos anos, as sementes de seus frutos germinarão, dando origem a outras árvores frondosas e exuberantes. Além disso, ela poderá servir de proteção para alguém em dias de chuva ou de calor escaldante.

De forma similar, quando rompemos nossas questões pessoais e nos esforçamos cuidadosamente para confortar o coração de quem está ao nosso redor, seja com um olhar acolhedor, uma mensagem de incentivo ou a disposição de estar ao lado daquele que vivencia um grande desafio, é o comportamento de um budista que preza a vida de todos.

O presidente Ikeda diz:

Você conhece alguém e conversa com ele, recita daimoku pela felicidade dele ou escreve-lhe um cartão-postal ou uma carta. Talvez a pessoa com quem planejou se encontrar não tenha aparecido, mas você continua a manter contato com ela de tempos em tempos. Essas atitudes podem parecer insignificantes e, muitas vezes, o faz sentir que não está chegando a lugar algum, mas, no futuro, quando olhar para trás, perceberá que nenhum esforço foi em vão. Pelo contrário, o desafio de se encontrar com outras pessoas e incentivá-las o transformou em um indivíduo forte. Verá que orar pela felicidade do amigo enriquece a sua própria vida. Quanto mais o tempo passa — dez, vinte anos —, mais notará que toda ação se torna um precioso tesouro em sua vida.
Chegará o dia em que as pessoas com as quais você foi ao encontro demonstrarão sua profunda gratidão, falando aos outros com alegria que você as ajudou a criar uma forte fé e a se tornar as pessoas que são hoje.4

No budismo, aprendemos que, ao iluminarmos a direção de alguém mergulhado num profundo breu, também iluminamos nosso caminho. Assim como o Mestre explica, a partir da postura de incentivar um único indivíduo, fortalecemos nossa condição de vida interior e potencializamos a sabedoria para enfrentar nossos próprios desafios.

Tal como relacionado no início da matéria, “prezar cada pessoa” parece bem simples de ser praticado, mas requer persistente esforço para que a “benevolência” e a “compaixão budista” seja aprimorada. A seguir, elencamos alguns fatores para que esses requisitos sejam desenvolvidos:

Assim como pai ou responsável que estima e valoriza igualmente todas as crianças sob seus cuidados, ao lançar um olhar benevolente, palavras de conforto ou mesmo um simples gesto carregado de compaixão para as pessoas que sofrem, independentemente de quem seja, você estará pondo em prática o “prezar cada pessoa”.

Assim como o bodisatva Jamais Desprezar: a recitação de daimoku de fé direcionada para as pessoas do seu convívio que estejam enfrentando desafios possibilitará que você desenvolva ilimitada energia interior e sabedoria para desafiar as próprias circunstâncias de vida. É importante também manter a disposição de sempre refletir como está sua mente e seu coração. Dessa forma, conseguirá lapidar um caráter otimista, de coragem e, acima de tudo, íntegro em qualquer situação.

Assim como o Mestre: No relato de Chieko, Shin’ichi e sua esposa, Mineko, demonstram empatia pela profunda dor das crianças, Shinka e Hirotaka, ao acolhê-las em meio ao luto pela morte da mãe. Inspirar-se na postura do presidente Ikeda em prezar a todos, a partir da leitura dos incentivos dele e nos episódios relatados na obra Nova Revolução Humana, será fundamental quando precisar reconfortar o coração de alguém.

O encorajamento sincero, direcionado para a pessoa à sua frente, desencadeará enorme onda de incentivos mútuos. Esse gesto é o passo essencial para a felicidade da humanidade e a paz global. Então, sem perder tempo, incentive aqueles que estão lutando contra dificuldades ou aflições; ajude-os a transformar tristezas em coragem e sofrimento em esperança, tal como pai e mãe estimam genuinamente o filho. Esse é o autêntico espírito de prezar cada pessoa ensinado no budismo.

Relato especial
Prezar cada pessoa
Os membros da BSGI, inspirados pelos incentivos do Mestre, procuram zelar e prezar cada pessoa em suas ações diárias. Exemplo é o da Cynthia de Freitas, vice-responsável da Comunidade Araras pela Divisão Feminina (DF), RM Centro Paulista, CLP, CGESP.
Em meio ao surgimento da pandemia, uma integrante da localidade da Cynthia entrou em contato com ela deixando clara a intenção de abandonar a prática budista. “Precisava manifestar sabedoria, conforme as orientações de Ikeda sensei, para incentivá-la, pois ela estava num impasse entre optar pelo budismo e seguir outro ensinamento religioso, conforme o desejo dos familiares”, disse Cynthia.
Para isso, uma grande rede de apoio foi criada na organização, direcionando daimoku e incentivos virtuais com o objetivo de que essa companheira da DF evidenciasse sabedoria e ímpeto para transpor aquele desafio. “Ela estava fragilizada e posteriormente nos relatou que a saúde dela e de sua filha ficaram abaladas por conta do estresse.”
Contudo, houve um acontecimento inesperado: “Apesar de todos os esforços, após alguns dias me deparei com ela na porta da minha casa com seu oratório e Gohonzon. Nesse momento, disse-lhe com sinceridade e convicção que eu jamais abandonaria a prática budista, pois é a única maneira de minha família ser plenamente feliz”.
A sinceridade de Cynthia atingiu em cheio o coração da integrante da DF. “Todo o desafio culminou com relatos de vitória das pessoas que participaram diretamente da situação e, principalmente, de nossa companheira que consagrou novamente o Gohonzon em seu lar. Sinto uma imensa alegria pela decisão dela, e para mim este também é um grande benefício da prática da fé”, compartilhou Cynthia.

Notas:

1. Brasil Seikyo, ed. 2.387, 16 set. 2017, p. B4.

2. Ibidem.

3. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 27, p. 69 e 70, 2019.

4. IKEDA, Daisaku. Felicidade. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2016. p. 122 e 123.

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