Especial
BS
Juramento de 26 de Janeiro, Dia da SGI
Declaração do presidente da Soka Gakkai, Minoru Harada
Minoru Harada
22/02/2024
Na significativa fundação da Soka Gakkai Internacional (SGI), em 1975, reuniram-se na ilha de Guam membros de 51 países e territórios. Atualmente, a rede solidária do movimento popular Soka com base no Budismo de Nichiren Daishonin se estende para 192 países e territórios. Como presidente da SGI, em meio às ações visando ao fortalecimento das Nações Unidas e à paz do mundo, Ikeda sensei enviou à ONU suas Propostas de Paz por quarenta anos consecutivos a cada 26 de janeiro, Dia da SGI.
Ao recebermos esse significativo dia do ponto primordial, o jornal Seikyo Shimbun publicou a declaração do presidente da Soka Gakkai, Minoru Harada.
MINORU HARADA,
PRESIDENTE DA SOKA GAKKAI
Criar o futuro da humanidade construindo um mundo sem armas nucleares
Ikeda sensei escreveu propostas de paz por quarenta anos consecutivos
O desafio de enfrentar assuntos globais, herdando o espírito dos três primeiros presidentes
A Soka Gakkai Internacional foi fundada no dia 26 de janeiro de 1975 em Guam. Naquela ocasião histórica, na conclusão de seu discurso, Ikeda sensei clamou a todos: “Em vez de buscarem aclamação ou glória pessoal, espero que dediquem sua nobre vida a plantar as sementes da paz da Lei Mística no mundo. Farei o mesmo”.1
Então, levantando-se na vanguarda, Ikeda sensei continuou mantendo diálogo com líderes e intelectuais de cada país para evitar que tragédias como aquelas das duas grandes guerras mundiais voltassem a acontecer. Ao mesmo tempo em que lutava para interromper o aprofundamento dos conflitos e das divisões no mundo, o Mestre expandiu a correnteza para edificar a cultura de paz por meio da rede solidária do povo.
Não permitir que ocorra uma terceira guerra mundial
Nessa luta, o número de diálogos com os líderes e intelectuais do mundo realizados por Ikeda sensei alcançou mais de 1.600, dos quais mais de oitenta se transformaram em livros publicados. A primeira dessas obras foi lançada em 1972 e é composta pelo diálogo com o “pai da integração europeia”, o conde Richard Coudenhove-Kalergi (1894–1972).
Após o primeiro encontro com o presidente Ikeda, em 1967, época em que a Guerra do Vietnã se intensificava, o conde Coudenhove se engajou no diálogo com ele por diversas vezes. Certa ocasião, alertando a todos que se as divisões no mundo continuassem avançando, a Terceira Guerra Mundial poderia levar à destruição definitiva de todas as civilizações, o conde Coudenhove-Kalergi declarou: “Somente uma nova onda religiosa é capaz de mudar essa tendência e salvar a humanidade. Por isso, a Soka Gakkai é uma grande esperança”.2
Não posso deixar de pensar que essas palavras foram proferidas pelo fato de ele [conde Coudenhove] ter sentido fortemente a vigorosa disposição de Ikeda sensei de continuar percorrendo todas as partes para cumprir o ardente desejo do seu mestre, Josei Toda, de “acabar com a miséria da face da Terra”.
Um episódio que ilustra a espinha dorsal dessa crença de Ikeda sensei é descrito no livro A Sabedoria do Sutra do Lótus. Houve um acontecimento durante a compilação das explanações do presidente Ikeda, em especial sobre o escrito A Seleção do Tempo (publicado em 1964), em meio à eclosão de crises intensas, como a de Berlim em 1961, um ano depois de sua posse como terceiro presidente, e a dos mísseis de Cuba em 1962.
Ao se dedicar com todas as forças para captar o espírito de Nichiren Daishonin de cada passagem daquele escrito, considerando o mundo contemporâneo, o trabalho de compilação chegou à frase: “Com isso, grandes lutas e disputas sem precedentes tomarão conta de Jambudvipa”.3
Em relação a esse trecho, alguns membros do Departamento de Estudo do Budismo pensavam que ela poderia ser interpretada como a ocorrência da Terceira Guerra Mundial. Porém, Ikeda sensei a rejeitou de maneira categórica:
Se a Terceira Guerra Mundial ocorrer, toda a raça humana será dizimada pelas armas nucleares. Deve a humanidade ser sujeita a um sofrimento mais cruel e terrível que já houve? Deixar que isso aconteça demonstra uma falta de benevolência abominável como budista! Vamos decidir agora que é sobre a Segunda Guerra Mundial a que Daishonin está se referindo quando falou em “grandes lutas e disputas sem precedentes”. Aconteça o que acontecer, não podemos permitir que ocorra outra guerra mundial. (...) Vamos alcançar definitivamente o kosen-rufu — o sonho da paz e da felicidade duradouras para a humanidade.4
Exatamente de acordo com essa convicção, em meio à intensificação dos conflitos da Guerra Fria, Ikeda sensei realizou sua primeira viagem para a China e a União Soviética em 1974, no ano anterior à fundação da SGI. Após a sua primeira viagem à China no mês de junho, começaram imediatamente os preparativos para a primeira visita à União Soviética. Houve vozes de preocupação e de críticas impiedosas em relação à sua visita a países comunistas, mas a convicção de Ikeda sensei continuou inabalável.
O que me move a ir para a União Soviética é o desejo de fazer tudo o que estiver ao meu alcance para impedir uma terceira guerra mundial. Por essa razão, seguirei para lá após a minha visita à China e, então, para os Estados Unidos. Como emissário de Nichiren Daishonin, vou munido de uma filosofia de paz e do respeito pela vida, determinado a abrir as cortinas de uma nova era de paz mundial.5
Crença na concretização do Tratado de Proibição de Armas Nucleares
Sem se intimidar com as tempestades de críticas, as quais tinham como cenário as crescentes tensões da Guerra Fria, Ikeda sensei realizou sua primeira visita à União Soviética (setembro de 1974) e, após a nova viagem à China (dezembro de 1974), rumou para os Estados Unidos logo no início do novo ano, em 6 de janeiro. Na época, ele entregou na sede das Nações Unidas um “abaixo-assinado pela abolição das armas nucleares com 10 milhões de assinaturas”, coletadas pela Divisão dos Jovens.
No dia 26 de janeiro, dirigiu-se à reunião de fundação da SGI na ilha de Guam, a qual foi palco de violentas batalhas durante a Guerra do Pacífico. Com o estabelecimento da SGI, em 1975, Ikeda sensei passou a enviar mensagens de paz ainda com mais força para o mundo.
No discurso proferido na Convenção da Soka Gakkai, realizada em Hiroshima no mês de novembro daquele ano, ele enfatizou a necessidade de as nações não serem as primeiras a utilizar as armas nucleares como um dos temas prioritários para alcançar a abolição dessas armas. Em maio de 1978, apresentou uma proposta para a Primeira Sessão Especial da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre Desarmamento (SSOD-I), na qual reiterou seu apelo de longa data para a proibição de fabricação, teste, armazenamento e uso de armas nucleares por qualquer nação e, por fim, para erradicá-las da face da Terra. Esse apelo de Ikeda sensei era algo que se alinhava totalmente com o Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPAN), que entrou em vigor tempos depois, em janeiro de 2021.
Em junho de 1982, ele apresentou uma proposta também para a Segunda Sessão Especial da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre Desarmamento (SSOD-II). E, em janeiro de 1983, encaminhou sua primeira Proposta de Paz anual para a Organização das Nações Unidas (ONU), no Dia da SGI. Desde essa ocasião até 2022, enviou anualmente à ONU suas Propostas de Paz, num total de quarenta edições.
O pilar da primeira Proposta de Paz foi o problema das armas nucleares. Até a 40ª proposta, junto com as discussões sobre diversos temas globais, como interrupção de conflitos, direitos humanos, questões humanitárias e meio ambiente, o assunto recorrente em quase todos os debates foi a proibição das armas nucleares com sugestões concretas para abrir o caminho para a abolição de tais armas.
Ikeda sensei defendeu consistentemente um tratado que proibisse as armas nucleares em suas propostas de paz anuais, como também, em todas as outras oportunidades. E, finalmente, em 7 de julho de 2017, o Tratado de Proibição de Armas Nucleares foi adotado pelas Nações Unidas.
No mês seguinte ao dessa adoção, no dia em que se completavam setenta anos de seu primeiro encontro com Toda sensei (14 de agosto), Ikeda sensei descreveu seu sentimento em relação a esse tratado.
Nas minhas propostas concretas para a abolição das armas nucleares, vim atribuindo especial importância a estes quatro itens:
- A sociedade civil deve se unir em rede solidária e levantar sua voz contrária às armas nucleares.
- Colocar a natureza desumana das armas nucleares no centro das discussões sobre desarmamento.
- Avançar na criação do tratado no fórum das Nações Unidas.
- Garantir que a voz das vítimas sobreviventes da bomba atômica (hibakusha) seja gravada no espírito fundamental desses tratados.
A partir do lançamento de sua iniciativa da Década do Povo pela Abolição Nuclear, em 2007, a SGI vem colaborando com muitas entidades, tais como a Campanha Internacional pela Abolição das Armas Nucleares (Ican), expandindo a rede solidária de cidadãos que atuam em prol da paz. No contexto dos esforços contínuos da sociedade internacional para promover atividades alinhadas com os quatro pontos acima, o Tratado de Proibição de Armas Nucleares (TPAN) foi finalmente adotado com a aprovação de 122 Estados que votaram a favor.
O fato de registrar a história do cumprimento de minha promessa com o mestre naquele dia no Estádio de Mitsuzawa [onde Toda sensei anunciou sua Declaração pela Abolição de Armas Nucleares] é uma honra insuperável como discípulo. Misticamente, a assinatura de cada país do Tratado de Proibição de Armas Nucleares está programada para a mesma época do 60º aniversário da Declaração pela Abolição das Armas Nucleares, na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas no próximo mês de setembro [de 2017].6
A convicção de Ikeda sensei em suas repetidas ações de luta conjunta de mestre e discípulo desde a Declaração pela Abolição das Armas Nucleares de Toda sensei está condensada também na conclusão de sua última Proposta de Paz, publicada em 2022. Almejamos herdar essas palavras como base da missão social da Soka Gakkai e expandir nossas ações para cumprir, juntos, um compromisso com Ikeda sensei.
A natureza desumana das armas de destruição em massa não se limita às consequências catastróficas de seu uso. Não importa quantas pessoas lutem por um mundo e por uma sociedade melhores, ou por quanto tempo, uma vez que o intercâmbio de forças nucleares começar, tudo será em vão. A realidade da era nuclear é que estamos obrigados a viver na constante companhia do pior — o mais incompreensível e absurdo — perigo imaginável.
O compromisso da SGI pela abolição das armas nucleares vem desde a declaração do presidente Josei Toda de 1957 clamando por ela. No meio da corrida armamentista entre os Estados com armas nucleares, a União Soviética havia testado com sucesso um míssil balístico intercontinental (ICBM) no mês anterior [agosto], criando uma realidade na qual todas as partes do mundo estavam expostas à possibilidade de um ataque nuclear.
Em face dessa aterradora realidade, Josei Toda frisou que o uso das armas nucleares por qualquer Estado deveria ser absolutamente condenado, expressando sua indignação pelo pensamento que justifica a posse delas: “Quero expor e extirpar as garras ocultas nas profundezas dessas armas”.
Recordo-me, como se fosse ontem, da indignação do meu mestre com a natureza desumana dessas armas, que podem nos arrancar o significado e a dignidade da nossa vida e destruir o funcionamento da sociedade humana da raiz aos galhos. Como seu discípulo, determinado a tornar realidade a visão do meu mestre, senti sua ira justa nas profundezas do meu ser.
Com a convicção de que o destino da humanidade não pode ser transformado sem que se resolva o desafio das armas nucleares, o mal fundamental da civilização moderna, vim consistentemente tratando dessa questão em minhas propostas de paz anuais desde 1983 e me empenhando pela proibição das armas nucleares.
Muitas décadas depois, o TPAN, um tratado que ressoa o espírito da declaração de Josei Toda, entrou em vigor, e seu primeiro encontro dos Estados-membros está para ser realizado. O estágio crucial dos esforços para abolir as armas nucleares foi enfim atingido, objetivo tão entusiasticamente perseguido por tantas pessoas no mundo, começando pelos hibakusha — as vítimas dos bombardeios de Hiroshima e de Nagasaki e os impactados pelo desenvolvimento e pelos testes dessas armas ao redor do globo.
Completar essa tarefa é a forma de cumprir nossa responsabilidade com o futuro. Firme nessa crença, a SGI continuará a avançar, aumentando a solidariedade da sociedade civil com especial foco nos jovens, rumo à criação de uma cultura de paz na qual todos desfrutem o direito de viver na mais autêntica segurança.7
Vamos transmitir essas palavras como os valores fundamentais da missão social da Soka Gakkai, e como nosso compromisso com Ikeda sensei de trabalharmos juntos para cumpri-las.
Divulgar propostas concretas como SGI
Junto com o apelo de Ikeda sensei declarado na fundação da SGI, a defesa da “competição humanitária” de Makiguchi sensei e o espírito do Toda sensei que pulsa em sua Declaração pela Abolição das Armas Nucleares, façamos dessa passagem da última proposta de paz de Ikeda sensei a base do movimento pela paz da Soka Gakkai. E, trabalhando juntos com pessoas e entidades que pensam da mesma forma, vamos objetivar a concretização de um “mundo sem armas nucleares e sem guerras”.
A SGI se compromete a continuar divulgando ideias e propostas para a solução de diversos desafios que a humanidade enfrenta, tais como de proteção ao meio ambiente, dos direitos humanos, de crise climática e de vários problemas humanitários, além da abolição das armas nucleares e da prevenção de guerras.
Certa vez, Ikeda sensei referiu-se às seguintes palavras de Toda sensei como inspiração que sustentava seus esforços para continuar publicando as propostas de paz:
Para a paz da humanidade, é importante apresentar propostas concretas e agir assumindo a liderança visando à sua realização.
Mesmo que tais propostas não sejam aceitas e realizadas de imediato, elas se tornam faíscas pelas quais se espalham as chamas da paz. Teorias abstratas são sempre vazias e fúteis. Mas propostas concretas se tornam “pilares” para sua realização e “telhados” para proteger a humanidade.8
Como discípulos de Ikeda sensei, devemos participar, por pouco que seja, da “batalha pela paz e pelo humanismo” dos três primeiros presidentes [Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e Daisaku Ikeda]. Como portadores da “cultura de paz”, desejamos agir no palco de nossa missão e expandir uma vigorosa rede de solidariedade do povo para mudar a trágica história de miséria humana pelo ilimitado futuro.
Às vésperas do 30o aniversário da Declaração pela Abolição das Armas Nucleares, foi realizada a Exposição sobre a Ameaça Nuclear. Na abertura da exibição, Ikeda sensei discorre sobre a sua crença de que o ato de continuar transmitindo sobre a tragédia das armas nucleares é sua “missão, responsabilidade e obrigação como japonês, pacifista e budista, e, ao mesmo tempo, um direito extraordinário”
No topo: Ikeda sensei palestra no Centro de Intercâmbio Cultural e Técnico entre o Oriente e o Ocidente, no Havaí, em 26 de janeiro de 1995. Às vésperas, no dia 17, ocorre o Grande Terremoto de Hanshin-Awaji (Terremoto de Kobe), e Ikeda sensei adia sua partida, dedicando todos os seus esforços para encorajar as vítimas. No dia 24, anuncia sua Proposta de Paz, e parte do Japão na noite do dia 25. Assim, as propostas de paz anuais foram escritas em meio a esse tipo de contexto
Traduzido e adaptado do Seikyo Shimbun de 26 de janeiro de 2024.
Notas:
1. IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 21, p. 38, 2019.
2. SAITO, Koichi. Shashin: Ikeda Sensei o ou [Daisaku Ikeda: Um Diário Fotográfico]. Tóquio: Editora Kodansha, 1969. p. 97.
3. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 566, 2020.
4. IKEDA, Daisaku. A Sabedoria do Sutra do Lótus. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 1, p. 190, 2021.
5. Idem. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 20, p. 129-130, 2019.
6. IKEDA, Daisaku. Uketsugareru Heiwa no Kokoro: Gensuibaku Kinshi Sengen to Kanagawa [Herdando o Espírito da Paz — A Declaração pela Abolição das Armas Nucleares e Kanagawa], publicada na edição de 8 set. 2017 do jornal Seikyo Shimbun.
7. Idem. Transformar a História Humana com a Luz da Paz e da Dignidade. In: Terceira Civilização, ed. 645, maio 2022.
8. Idem. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 30-II, p. 169, 2022.
Fotos: Seikyo Press
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