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Especial

Vidas unidas por um sublime ideal

Em 14 de agosto de 1947, o jovem Daisaku Ikeda conhece seu mestre, segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda, em uma reunião de palestra. Dez dias depois, converte-se ao Budismo Nichiren, dando início a uma jornada épica pela paz no mundo

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Redação

08/08/2024

Vidas unidas por um sublime ideal

Dois anos haviam se passado após o término da Segunda Guerra Mundial e o Japão sofria com as consequências do conflito.

Era 1947 e Josei Toda dedicava-se intensamente a reconstruir a Soka Gakkai e a propagar o Budismo de Nichiren Daishonin, objetivando transformar a realidade da sociedade. Em meio aos membros da organização, começaram a despontar jovens que aprendiam a alegria de realizar o shakubuku, como dois amigos, um rapaz e uma moça, que moravam no distrito Kama­ta, em Tóquio. Com pouco mais de 20 anos, eram colegas desde o ensino fundamental 1 e procuravam por conhecidos para convidá-los a participar das atividades. Dentre eles estava o jovem Daisaku Ikeda, de 19 anos.

Os amigos foram várias vezes à casa dele, mas não conseguiram falar diretamente sobre a prática da fé. Para os jovens daquele perío­do, além da cultura e da política, conversas sobre religião eram distantes da realidade. Quando entravam no quarto, viam a estante repleta de obras literárias de diversas épocas e lugares. Embora conhecessem alguns títulos e nomes de autores, não sabiam muito bem sobre o conteúdo delas.

Certo dia, percebendo o interesse de Daisaku Ikeda por filosofia, a jovem o convidou para uma reunião de palestra, dizendo que era uma “conversa sobre filosofia”. Ele indagou se seria uma palestra sobre Henri Bergson (1859-1941), filósofo francês pelo qual nutria admiração, e quem seria o palestrante. A amiga respondeu que seria Josei Toda e que se tratava de uma filosofia que elucidava fundamentalmente a vida. O jovem concordou e disse que levaria amigos de seu grupo de estudos também ao encontro.

Encontro ideal

Na noite da atividade, 14 de agosto, os amigos vieram buscar o jovem Ikeda, porém ele estava esperando por dois colegas que o acompanhariam. Enquanto aguardava, sentia o cansaço decorrente de uma febre que havia surgido desde o fim da tarde. Sua saúde se encontrava bastante debilitada nessa ocasião. Finalmente, os colegas chegaram e os cinco jovens foram caminhando pelas ruas sem iluminação até a casa da jovem onde seria realizada a reunião.

Por volta das 20 horas, chegaram à residência e podia-se ouvir a voz animada, embora rouca, de um homem de meia-idade. Cerca de vinte pessoas estavam sentadas em duas salas cujas divisórias haviam sido retiradas. Na parte da frente, um senhor de óculos com lentes grossas palestrava em tom calmo, mas enérgico.

Daisaku Ikeda e seus amigos achavam que seria uma reunião de jovens, no entanto, havia também donas de casa e pessoas de idade que ouviam atentamente. A explanação de Toda sensei era sobre o escrito Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra. Uma moça lia o trecho original da obra e ele dava a explicação de forma vigorosa. À medida que ouviam, os três jovens perceberam que se tratava de uma palestra sobre o budismo. Ikeda sensei relembra esse momento:

O Sr. Toda, meu mestre, aguardava-me como um pai afe­tuo­so. Foi um momento solene, eterno, que abarcou as três existências. Foi o dia do juramento de um dis­cípulo — o meu — de me tornar dis­cípulo do Sr. Toda e de devo­tar minha vida ao kosen-rufu. (...)
Na explanação que ele fez nessa primeira vez que participei numa reunião, o Sr. Toda imprimiu forte paixão e determinação num alerta às pessoas. Foi um rugido do leão proclamando a essência do Budismo de Nichiren Daishonin.
A explicação do Sr. Toda não era de um budismo antiquado e ultrapassado. Revelava um caminho grandioso com a promessa de um futuro brilhante, que transbordava convicção e dinamismo. (...)
Após concluir sua explanação, o Sr. Toda iniciou um diálo­go in­formal. Ele mastigava pastilhas de menta e se portava com naturalidade e descontração. Não demonstrou a mínima atitude de superioridade pretensiosa e arrogante que muitos falsos líderes políticos e religiosos exibem. Estava sendo ele mesmo. Embora aquele fosse o nosso primeiro encontro, senti-me à vontade para fazer qualquer pergunta que guardava em meu jovem coração. Lembro-me de ter arriscado, com certa intensidade, esta questão: “Senhor, qual é o modo correto de vida?”.
O Sr. Toda me deu uma resposta clara, com plena convicção, isenta de qualquer jogo intelec­tual ou desonestidade que obscurecesse o verdadeiro ponto de minha pergunta. Eu estava cansado de adultos que tratavam os jovens com uma superioridade paternalista, por isso, a sinceridade do Sr. Toda me tocou profundamen­te. Além disso, não suportava políticos e intelectuais que haviam cantado hinos em louvor à guerra, mas de repente se transformaram em pacifistas depois que os combates acabaram. O fato de o Sr. Toda ter sido perseguido pelas autoridades militares e passado dois anos encarcerado por sustentar suas crenças foi o fator decisivo para eu me tornar seu discípulo.1

Em determinado momento, o jovem Ikeda contempla algo, com olhares atentos, o que deixou sua face inteiramente corada. Parecia estar impaciente, desejando se pronunciar novamente. De súbito, levantou-se decidido e externou:

— Sensei, muito obrigado. Há um antigo ditado que diz: “Faz bem pensar mais uma vez, mesmo que concorde. É bom pensar novamente, mesmo que discorde”. Acreditando nas palavras do senhor ao me sugerir que como jovem estudasse e colocasse em ação, gostaria de segui-lo e me empenhar nos estudos. Nesse momento, gostaria de expressar meu sentimento de gratidão com um poema, embora não tenha nenhuma habilidade e tenha sido de improviso...2

Josei Toda concordou, em silêncio. O rapaz fechou levemente os olhos e começou a declamar com sua voz sonora:

Ó viajante!
De onde vens?
E para onde irás?
 
A lua desce
no caos da madrugada,
mas vou andando
antes de o Sol nascer.
à procura de luz.
 
No desejo de varrer
as trevas de minh’alma,
a grande árvore
eu procuro
que nunca se abalou
na fúria da tempestade.
 
Neste encontro ideal,
sou eu quem
surge da terra!3

Todos ficaram surpresos. Para Josei Toda, especialmente, a última frase soou de forma muito significativa. “Sou eu quem surge da terra!” — era a missão dos bodisatvas da terra que surgiram nos Últimos Dias da Lei para propagar o ensinamento do budismo. Naturalmente, o jovem Ikeda não conhecia esse conceito. Ele retratava no verso o sentimento que carregava no cora­ção ao observar a força vital da natureza demonstrada pelo nascimento vistoso das plantas e árvores verdejantes que, com a chegada da época certa, emergiam dos campos devastados pela guerra. Entretanto, Toda sensei pressentia que tudo aquilo havia sido místico: o encontro com aquele rapaz de 19 anos o lembrava do que tivera com seu mestre, Tsunesaburo Makiguchi. “Se o budismo é certo, deverá surgir infalivelmente uma relação de mestre e discípulo entre as duas pessoas que infalivelmente deverão realizar uma revolução religiosa sem precedentes na história da humanidade”, era o que pensava Josei Toda.

Ikeda sensei recebeu o Gohonzon e se converteu ao Budismo Nichiren em 24 de agosto de 1947. Embora sua família, a princípio, não fosse a favor de sua prática, o jovem não hesitou, inspirado pela confiança que Josei Toda depositava nele, como afirma:

Ele confiava em mim, e me dizia: “Vamos, não hesite! Desafie seu espírito de procura comigo! Estude e pratique com coragem, assim como cabe a um jovem!”. Minha intuição de jovem dizia-me que podia seguir com segurança aquele homem que havia sido preso durante a guerra em defesa da paz e do budismo. Nesse sentido, 24 de agosto marcou meu ingresso na “Universidade Toda”. Uma vida dedicada à verdade tem início com a relação entre mestre e discípulo.4

Em pouco mais de dez anos de convívio, mestre e discípulo tiveram uma existência em perfeita harmonia e união, conquistando grandes feitos como a concretização de 750 mil famílias ao budismo, a Declaração pela Abolição das Armas Nucleares, em 1957, e a Cerimônia do Kosen-rufu, realizada em 16 de março de 1958.

Após o falecimento de Josei Toda, Ikeda sensei assumiu a terceira presidência da Soka Gakkai em 3 de maio de 1960. Em outubro daquele ano, partiu para a primeira viagem ao exterior a fim de propagar o budismo em diversos países, dentre eles o Brasil. A partir de então, veio se empenhando incansavelmente para cumprir os ideais do seu mestre e impulsionar o movimento pelo kosen-rufu. Suas numerosas realizações vão desde a criação do sistema educacional Soka e a dedicação em escrever livros até a fundação de instituições como o Museu de Arte Fuji de Tóquio e a Associação de Concertos Min-On; dos diálogos com diversas personalidades mundiais às homenagens recebidas de cidades, universidades e outras instituições, reconhecendo seus esforços pela paz, cultura e educação.

A sublime relação de mestre e discípulo, eternizada em sua máxima obra literária, o romance Nova Revolução Humana, é a base do desenvolvimento da Soka Gakkai e da transformação da vida de milhões de pessoas em vários países por meio da prática do Budismo de Nichiren Daishonin.

Em 15 de novembro de 2023, Ikeda sensei encerrou sua nobre existência, tendo cumprido todos os anseios do seu mestre, Josei Toda, e criado sucessivas ondas de jovens “valores humanos” que se encarregam de perpetuar seu legado e que dedicam a vida a concretizar o sublime propósito da paz e da felicidade da humanidade.

Dica de leitura

No livro Revolução Humana, v. 2, você conhece mais detalhes sobre o primeiro encontro do jovem Daisaku Ikeda com seu mestre, Josei Toda. Mais informações no site do Clube de Incentivo à Leitura (CILE), clicando aqui.

Fontes:
Brasil Seikyo, ed. 2.615, 16 jul. 2024, p. 8 e 9.
Idem, ed. 2.574, 8 ago. 2021, p. 6 e 7.
IKEDA, Daisaku. Emergindo da Terra. Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 2, p. 187-207, 2022.

Notas:
1. IKEDA, Daisaku. Pilares de Ouro Soka. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 51-55.
2. Idem. Emergindo da Terra. Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 2, p. 205, 2022.
3. Ibidem, p. 206.
4. IKEDA, Daisaku. Pilares de Ouro Soka. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2019. p. 63.

***

Passe para o lado e veja mais fotos. Foto: BS/Colaboração local

Avanço dos companheiros da DS

A data que marca a conversão do presidente Ikeda ao Budismo de Nichiren Daishonin, em 1947, foi adotada como Dia da Divisão Sênior, por seu profundo significado. A oficialização ocorreu em 1976, na comemoração do décimo aniversário de fundação da divisão.

Na ocasião, ficaram evidentes a base e a missão dos seus membros — caminhar ao lado de Ikeda sensei, com a responsabilidade de liderar as atividades pelo kosen-rufu, e ser exemplo para as demais divisões. Todos reconfirmaram as diretrizes eternas lançadas dez anos antes, quando da fundação da Divisão Sênior (DS) em 5 de março de 1966, reunindo 750 representantes. Então, estas três diretrizes eternas são a base de atuação dos componentes da DS: 1) Ser vitorioso no local de trabalho; 2) Ser um líder que contribui para o bem-estar da comunidade; 3) Ser um pilar de confiança na organização.

Conforme consta no capítulo “Coroa de Louros” do romance Nova Revolução Humana, a fundação da Divisão Sênior teve origem em um projeto do presiden­te Ikeda de promover a sintonia entre os veteranos e os jovens no processo de desenvolvimento da Gakkai. Ele desejava que o potencial dos jovens como força propulsora das atividades fosse desenvolvido e bem direcionado por meio da experiência e da seriedade dos membros da DS. Na reunião de fundação, ele disse:

O avanço da Soka Gakkai é desenvolvido com a cooperação entre as divisões. Entretanto, da mesma forma como o marido ou o pai é o pilar da família, a Divisão Sênior é a principal responsável pelo progresso da nossa organização. No distrito, é a responsável pelo distrito; na comunidade, é a responsável pela comunidade. Naturalmente, a Divisão Sênior vai se preocupar em desenvolver seus membros, mas não poderá pensar que é uma divisão como as outras. Terá a missão de manter a harmonia entre as divisões e proteger com responsabilidade a Gakkai e seus integrantes.1

A BSGI foi a primeira organização fora do Japão a ter uma Divisão Sênior. No dia 5 de março de 1982, quando se comemoravam dezesseis anos de fundação da DS da Soka Gakkai, sem que ninguém esperasse, o presidente Ikeda anunciou a possibilidade de o Brasil fundar a própria estrutura. Assim, a data de 5 de março é oficialmente considerada como a da fundação da Divisão Sênior da BSGI. No entanto, devido aos preparativos para se estabelecer uma estrutura para a nova divisão, a reunião ocorreu em 4 de abril do mesmo ano.

Os integrantes da Divisão Sênior carregam a missão fun­damental de proteger a organização e proporcionar as condições necessárias para o florescer de pessoas valorosas que impulsionam o avanço do kosen-rufu, enquanto se desenvolvem como verdadeiros pilares de ouro que comprovam os ideais do Mestre.

Dica de leitura

No livro Pilares de Ouro Soka, escrito por Ikeda sensei, você encontra uma coletânea de suas orientações dirigidas aos integrantes da Divisão Sênior. Mais informações no site do Clube de Incentivo à Leitura (CILE), clicando aqui.

Fonte:
Brasil Seikyo, ed. 2.640, 12 ago. 2023, p. 7.

Nota:
1. IKEDA, Daisaku. Coroa de Louros. Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 10, p. 258, 2019.

No topo: Ilustração mostra Daisaku Ikeda, em pé, em sua primeira reunião de palestra, com a participação do seu futuro mestre, Josei Toda, de costas. Foto: Kenichiro Uchida

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