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Reflexões Sobre a NRH

[78] A essência da educação humanística: a relação entre professor e aluno 

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01/02/2021

[78] A essência da educação  humanística: a relação  entre professor e aluno 

“Noventa e oito por cento do que sou hoje aprendi com meu mestre” — essa foi a declaração que fiz com franqueza em meu discurso intitulado “Considerações sobre a Educação para a Cidadania Mundial”, proferido na Faculdade de Pedagogia da Universidade de Colúmbia, na cidade de Nova York, em junho de 1996. Queria transmitir o profundo significado do que chamei de “Universidade Toda”, um ensino embasado no princípio de que são as pessoas que desenvolvem outras pessoas e que a essência da educação humanística reside na relação entre professor e aluno. 

Acredito que não seja exagero dizer que os ensinamentos gravados em minha mente juvenil foram preciosas gotas do maravilhoso remédio da sabedoria. Enquanto estudava ao lado do meu mestre, determinei que meu desafio e minha missão como discípulo seriam transformar essas preciosas gotas que recebi de Josei Toda em um vasto oceano de infinito valor. 

*** 

Utilizávamos os principais textos de escritores famosos, os mesmos geralmente usados nas universidades japonesas. Toda sensei me fazia ler obras como Keizaigaku Nyumon [Introdução à Economia], de Kanae Hatano, publicada em 1950 pela Nihon Hyoronsha; Hogaku Guenron [Estudos Básicos de Direito], de Kojiro Wada, lançada pela Keibundo Shoten em 1948; Kagaku [Química], Tikyu no Tentai [A Terra e os Planetas] e Seimei [Vida], todos de F. Sherwood Taylor e parte de sua obra completa The World of Science [O Mundo da Ciência], traduzida por Toshiaki Shirai e Raikiti Kuwaki e editada pela Kawade Shobo em 1953; Shiryo Nihon Shi [Origem da História Japonesa], de Eriti Ozawa, Hiroshi Takai e Yasumasa Oda, publicada em 1952 pela Shimizu Shoin; Sekai Shi [História do Mundo] de Toshitaka Yada, publicada pela Yuseido em 1954; e Seijigaku [Ciência Política] de Yasuzo Suzuki, lançada pela Seirin Shoin em 1955.

Todos esses livros, dos quais tenho tão boas recordações, integram atualmente a Coleção Ikeda, da Biblioteca Central da Universidade Soka. 

***

 Quando li um desses textos, Tikyu no Tentai [A Terra e os Planetas], as seguintes palavras pareceram saltar da página: 

 

...O número de estrelas supera 1015.
Dessa forma, se esse número estiver correto, é possível que existam dez milhões de estrelas com planetas ao alcance de nossos telescópios. Somente uma pequena proporção de planetas tem ar, água e uma temperatura adequada para que as moléculas complexas possam existir e executar as intrincadas mutações características da matéria viva. Se somente um dentre cem planetas apresentar essas condições, poderiam existir cem mil mundos capazes de sustentar a vida.1 

Essa passagem foi uma parte muito importante da aula de astronomia. Satisfeito pelo fato de o enfoque coincidir perfeitamente com suas próprias ideias, Josei Toda disse: “No Universo existem muitos, muitos planetas similares à Terra. É a isso que se refere a frase ‘terras de outras direções’ das escrituras budistas”. Meu coração juvenil dava pulos de alegria pela forma dinâmica e irrestrita com que Toda sensei relacionava o budismo e a astronomia moderna. 

Nichiren Daishonin declarou:

Os budas das dez direções se reunirão sucessivamente, preenchendo as terras que se estendem ao leste, ao oeste, ao norte e ao sul, nas oito direções, no grande sistema de mundos e nas quatrocentas dezenas de bilhões de nayuta de mundos. (CEND, v. II, p. 342)

Um antigo texto define um nayuta como dez elevado à sexagésima potência (1060), ou seja, um seguido de sessenta zeros. Essa é uma afirmação clara de que, muito além do nosso sistema solar e da nossa galáxia, existe um número infinito de “terras do buda”. 

O budismo ensina que o céu, a Terra, o Sol, a Lua e um número infindável de estrelas estão sujeitos às duas fases de nascimento e morte. O surgimento e o desaparecimento das estrelas, a formação, a permanência, o declínio e a desintegração das galáxias, todos esses fenômenos que se manifestam em grande escala eram um dos principais tópicos de estudo na “Universidade Toda”. Josei Toda falava com frequência da inter-relação do universo com a vida.

A atividade humana, dizia ele, não pode escapar do ritmo da lei do universo. O Budismo de Nichiren Daishonin ensina sobre essa lei no nível mais profundo, como a realidade fundamental da vida. Se compreenderem isso (que a atividade humana é regida por essa lei), perceberão que vocês e o universo, o universo e vocês, são unos.

***

Há dezesseis anos, no dia 26 de novembro de 1983,2 encontrei-me com o Dr. Gerald Carr, comandante do Skylab 4. Disse que sua experiência lhe havia ensinado que, embora ocorram muitos fenômenos no espaço, existe uma ordem rigorosa nas atividades, e acrescentou que essa ordem é a universalidade que comparte toda a humanidade. Jamais me esquecerei dessa sua perspicaz e ousada observação. Quando lhe perguntei se acreditava na existência de vida inteligente em algum outro lugar do universo, contestou que era grande a possibilidade de que houvesse. Então, com um toque de humor, acrescentou que se existiam formas de vida mais avançadas que a nossa, sem dúvida, já estariam nos observando porque a Terra “faz muito barulho”. 

A aventura da exploração espacial abre nossa mente e imaginação para possibilidades tão ilimitadas quanto o vasto céu. Também nos trará um senso de união que conduzirá à cooperação e à coexistência. 

Justamente outro dia [ocasião da publicação original, em 29 de novembro], o descobrimento de seis novos planetas fora do sistema solar atraiu grande atenção. Vivemos em uma época em que a possibilidade de existirem civilizações fora da Terra será fonte de novas inspirações. Estamos finalmente ingressando na era em que atingiremos a harmonia e a união como cidadãos globais com um destino compartilhado, exatamente como Toda sensei disse.

***

Josei Toda insistia na necessidade de atribuir mais importância ao ensino da astronomia. Por quê? Porque seu estudo contribui para a conscientização de que todos vivemos juntos em um planeta muito pequeno, e desperta em nós o sentimento de amor fraterno e o desejo pela paz. Em 1993, encontrei-me com o Dr. Robert Jastrow, diretor do Instituto e Observatório de Monte Wilson em Pasadena, Califórnia. Como resultado desse diálogo, a Escola Soka de Ensino Fundamental e a Escola Soka de Ensino Médio de Tóquio e de Kansai estão agora conectadas com esse instituto por um computador, o que permite aos nossos estudantes observar os planetas pelo telescópio do observatório. As Escolas Soka de Kansai também foram apontadas como uma das duas primeiras instituições de ensino do Japão a participar de um programa educativo desenvolvido pela Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (Nasa) utilizando fotografias da Terra tiradas durante as missões espaciais. 

Quando o astronauta japonês Mamoru Mori voltar ao espaço no próximo mês na aeronave Endeavour, nossos estudantes iniciarão suas observações e experimentos. O ônibus espacial Endeavour, cujo lançamento está programado para 13 de janeiro de 2000, realizará o primeiro voo espacial do novo milênio, levando consigo as esperanças e os sonhos dos nossos brilhantes jovens líderes do século 21. 

Notas:

1. TAYLOR, F. Sherwood. The Word of Science [O Mundo da Ciência]. W. W. Norton & Company Inc., 1950. p. 792.

2. Ensaio publicado originalmente no Seikyo Shimbun, edição de 18 dezembro de 1999.

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